22 de dez. de 2011

verão, verão


Enrolar, enrolar, enrolar e no fim nem saber como contar a história. Minha sina pro resto da vida.
E carregar pequenas frustrações pensando que tudo bem e em seguida não, não é tudo bem, é a vida e a vida não é tudo bem.
Nos falam que tudo tem um tempo pra acontecer. Que homens e mulheres são todos iguais. Nos falam de casamento. Nos dizem pra usar camisinha. Perguntam dos namorados. Garantem que a gente ainda vai conhecer muitos outros.
Eu não dou a mínima. Qualquer um cresce sabendo que, salvo os pais, família, quando unida, só serve pra constranger. E falar bobagens. Uma porção delas.
E aí vêm o natal e as convenções convencionadas pela sociedade para se comemorar uma data que não é comemorativa. O natal deixou de ser natal quando eu fiz dezesseis e, em prol da lembrança dos natais da minha infância, sempre os melhores dias da vida, eu só prefiro ignorar o que a última semana de dezembro tem sido na minha vida desde então. Digam o que disserem, é só dinheiro, no final - e quando a gente cresce.
Porque a diferença entre crescer e ser criança não é imaginação, que só depende de se saber usar. É a barreira que separa saber que quase tudo na vida se resume a dinheiro de não ter a menor ideia do que isso significa. E por mais tristes que esses tempos infantis possam ser, eventualmente, ainda são melhores que os que vêm depois deles, regados por consciências, preocupações e obrigações tão inúteis quanto querer usar um tênis um número menor sem sentir dor ou incômodo mas que mesmo assim pedem para ser encaradas, mais cedo ou mais tarde.
Mais cedo é sempre melhor.
Mais tarde é sempre mais fácil.
E ainda que as férias sejam só algumas semanas a gente deixa tudo pra depois. Porque não tem nada melhor que isso, afinal. Deixar tudo pra depois.

12 de dez. de 2011

uma historinha que ouvi hoje na rua

Possivelmente eu não seja exatamente um exemplo de mulher madura. É natural, dada a minha idade, o contexto em que eu me encontro e uma série extensa de outras variáveis. A meu ver, considerando essas mesmas condições, poucas ao meu redor o são. E acredito que isso valha para qualquer pessoa, independentemente do sexo. Mas eu aprendi, me enraivecendo ao extremo com meus pais a cada vez que eles gritavam para eu não virar as costas e nunca bater a porta do quarto (ou qualquer outra), a resolver os meus problemas – ou a pelo menos tentar. Sentar, analisar e resolver. Eventualmente ficar de castigo, nem sempre conseguir a melhor solução, ou a que eu queria, mas ainda assim dar um jeito. No lugar de acreditar no faz de conta de que eles vão deixar de existir no caso de eu simplesmente não fazer ou dizer nada. É fácil quando as questões são só minhas. É impossível quando envolvem outras pessoas. E isso porque maturidade não vem de berço e é uma coisa relativa. E difícil. Eu não sou madura. Eu não pago minhas contas sozinha, ainda dependo dos meus pais pra um monte de coisas na vida, não sou independente e sequer tirei carteira de motorista. Além disso, volta e meia eu tenho minhas crises, emocionais ou existenciais, perco completamente qualquer fé ou perspectiva de futuro que por ventura eu possa ter e tenho vontade de nunca mais sair do meu sofá. Mas eu sei quando essas crises são crises e quando são só tpm, e, em ambos os casos, eu sei resolver, mesmo que demore. E por mais infantil e/ou covarde que eu possa ser em relação a um bando de outras coisas na vida, e eu sou, eu nunca saí ou nunca me livrei de qualquer uma resolvendo não dar mais conta da existência delas. Talvez amadurecer, afinal, seja uma questão de cabeça tanto quanto é de conta bancária. Portanto, eu digo prontamente e sem encargos de consciência que cansei. De quem resolve aparecer e entrar, por vontade própria, mas depois me deixa falando sozinha e sai sem dizer boa noite. Não cultivo minha pouca saúde pra isso. Nem a física nem a mental.
Boas festas.

4 de dez. de 2011

excesso de aniversário

A vida nunca vai ser minimamente satisfatória se comparada ao que poderia ser se fosse o ideal de cada um. Não vai haver tanta diversão, completude, felicidade e viagens de carro.
A consciência de algo sem a menor das possibilidades de se concretizar. E a conformação, porque fatos são fatos. Mas não existe também a possibilidade de não notar uma dor oca por dentro. Não é dor, não dói, mas aparece como um vazio ou qualquer coisa, sem possibilidades também de descrição, causada por um desejo enorme oprimido e suprimido. Certas coisas não se descrevem. É curioso. A incapacidade de se descrever o que quer que seja que se sente. Que se sabe mas ao mesmo tempo não se sabe. Um amor platônico, uma vontade impossível, um querer que não vai ser saciado. Esquecido e passado, sim, mas nunca saciado. Pela própria configuração que as coisas assumem. Um status quo que não é real pra mim, mas é pra alguém. Próximo, distante, não faz diferença. Não sei se existe, na Terra, uma vida sem essas vontades. Absurdas, gigantes, verdadeiras, mas impossíveis. Existe uma maneira de se viver plenamente sem sentir desejos assim? Do mesmo modo como, assumindo um poder aquisitivo suficiente, existe uma maneira de se viver sem comprar, once in a while, presentes para si mesmo, por prazer? Querer, saber que alguém tem, saber que não se vai ter. Além da dor oca que não é dor, reconhece-se a inveja. Ou só a cobiça. Engraçado como inveja parece ser o que as pessoas mais temem admitir que sentem. Como se fosse algo sujo e feio demais. É humano, simplesmente. Como raiva, medo, desgosto e todos os outros vilões entre os sentimentos. Bom é ser generoso, desapegado, humilde e sempre coerente. Mas quem é assim?
Imaginar pode ser perigoso. Mas é muito bom.