27 de abr. de 2010

um dia bom

Qualquer um pode esquecer um marca-texto aberto em cima da cama e manchar o edredom novo. Acontece nos piores dias.
Mas não é qualquer um que consegue esquecer um marca-texto aberto em cima da cama duas vezes no mesmo dia, em menos de duas horas, e manchar o edredom novo - duas vezes. Acontece comigo. Nos melhores dias.
Dos piores eu nem sei.

24 de abr. de 2010

prova

Acho que só eu não vou estudar direito pra essa prova. Do mesmo jeito que parece que só eu não me prestei a fazer direito o trabalho de teorias da imagem - mal li os textos. Adoro que, quando eu digo isso, as pessoas ficam paradas, meio mudas, tentando não esboçar nenhuma reação, mas claramente pensando algo do tipo "oi, tu tá na faculdade agora. não tá nem aí? louca". Pois é, eu tô na faculdade agora, né. E pois é, se pá não tô nem aí. Digo, não pra faculdade em si. Claro que não. Mas é uma mão explicar o porquê de eu não me importar com metade das coisas com que quase todo mundo se importa. Às vezes eu me fodo, às vezes não. É a vida.
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Fui pra Gramado visitar minha vó no hospital hoje. O mesmo em que eu nasci, inclusive. E tem um lugarzinho na rua, ali na frente, com uns bancos de madeira e umas árvores, que tem uma vista pra cidade. Dá pra enxergar uns prédios, a igreja e aquele monte de luzinhas das casas. E a cerração por cima. E a melancolia da serra.
Gramado é mais simpática à noite. E assim, vista  meio de longe.
E não é manha de canelense, não. É  verdade.
Talvez todas (as cidades) sejam assim.
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Tô com um problema de viajante: que roupas de inverno levar pra Porto Alegre segunda? Será que já precisa? E lençol térmico? Porque quando não convém eu sinto frio demais. Quando não me convém faz frio demais. E é justamente nessas horas que eu não tenho minhas roupas quentes e meu lençol térmico.
E essa última frase ficou meio redundante, levando em conta as anteriores a ela, mas ok.

20 de abr. de 2010

earthquakes and glaciers and tides and rain falling

When I love, I love so big.
Se em algum mês eu chegar a ser a presidente daquele clube - e eu espero que isso não aconteça, mas ok -, esse vai ser meu autor.
Eu não acredito que pessoas sejam passíveis de idolatria - eu não tenho ídolos -, mas palavras, e atitudes muito mais que palavras, sim. As pessoas são passíveis só de admiração, e mesmo assim é complicado. Mas alguém que exponha a própria vida em um livro, construindo frases e parágrafos de forma ao mesmo tempo veemente e natural e que poderiam tranqüilamente ser referentes à minha vida ou à de tantos outros no mundo, merece, no mínimo, respeito.
Por mais complicado que possa ser, eu aprendi que eu consigo, sim, me desvencilhar de alguém; a dificuldade maior fica por conta de não "vencilhar". Eu não sei me envolver pela metade ou parcialmente. Ainda que eu não exponha, eu não sei não sentir. Saudade, carinho, tesão, preocupação, raiva, o que for.
Não sei se é possível a comparação de sentimentos com instintos, mas sim, se instintos são tudo aquilo que não depende da vontade, que não é possível controlar; se a única coisa que se pode fazer, a partir do momento em que eles estão agindo, e depois de vivê-los, é esperar passar.
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O que é uma imagem?
Imagem é imitação?
Melhorei minha relação com essas aulas - já era tempo -, apesar de ainda achar muita coisa por nada. Tempestade em copo d'água, mesmo. Mas pretendo passar todo o resto do dia respondendo essas duas perguntinhas infelizes, porque é o que me resta. É o que tem pra hoje.

19 de abr. de 2010

:~

Se nem o blog eu atualizo mais, com alguma decência, como podem esperar que eu use twitter?
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Ganhei pinhões. Será que eu sei cozinhar pinhões?

13 de abr. de 2010

Dizem que só quando nos tornamos pais é que aprendemos a ser filhos e só quando nos tornamos avós aprendemos a ser pais. E o que sobre ser neto?

Quando se cresce com os avós por perto, tem-se a falsa ilusão de que eles são eternos, de que vão estar sempre ali, tomando chimarrão. O dia de uma possível morte parece muito mais distante do que é de fato. Meu avô podia ter muitos dos defeitos comuns à maioria dos velhos, mas era aquele que me levava aonde fosse preciso, que andava a cavalo comigo, que dizia as coisas simples e sábias que os velhos dizem, com aquela entonação característica que eu nunca mais vou esquecer. Lembro de como ele tamborilava os dedos no braço da poltrona enquanto assistia à televisão, do som que faziam o deslizar de um dedo depois do outro e as batidas deles no couro da poltrona. Do ritual antes de dirigir: ligar o rádio, ajustar o retrovisor, pentear o cabelo, guardar o pente no bolso da camisa. De um monte de detalhes assim. Então ele morreu, e aquilo tudo pareceu natural. Na verdade, eu sequer me dei conta disso na época. Eu não disse nada. Eu não vi nada. Eu não senti nada. Eu só fui descobrir o quanto meu avô significava um ano depois de ter ido ao velório e ao enterro.

"Não chora."

*

É antigo já, mas eu não podia abandonar.
Acho triste a gente passar tão pouco tempo com as pessoas que mais sabem da vida. Eu tinha 15 anos recém completados quando ele morreu. E o que eu era com 15 anos? Eu queria conversar com meu vô hoje. Nem que fosse sonhando. E falar da vida num lugar tranqüilo.

9 de abr. de 2010

dilemas

Voltei a ter aula nas sextas, o que é triste. Mas é homem, o professor novo, o que é bom. Nada contra as professoras, mesmo porque eu me obriguei a rever meus conceitos a esse respeito esse ano, mas, né, é bom pra variar.
Apesar de ele ter me/nos mandado fazer um twitter.
E eu até concordo.
Mas eu não tenho.. hum, desenvoltura pra usar o twitter.
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Decidi que, se eu pretendo ler essas coisas todas, não pode ser na cama, ou eu vou dormir/deitar, mesmo com uma jarra de café do lado. Mas isso me deixa com problemas, uma vez que eu não tenho um sofá ou uma poltrona ou uma mesa com cadeiras ou qualquer outro lugar pra sentar. Além das cadeiras de praia. E disso aqui, onde tá o computador, mas aqui o problema é a iluminação - a falta de. Como faz?
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Adocei demais essa droga desse café.

7 de abr. de 2010

gripe

"Signo? Tipo, do zodíaco?"
Adoro gente que fala a minha língua.
E eu estou rouca demais.
E a cada dia eu consigo uma desculpa nova pra não ler meus polígrafos.
Aliás, quando meu padrinho me entregou a pilha, ele disse o seguinte: "Espero que sejam úteis pra ti, porque pra mim não foram." Sábio, ele. E eu decidi que, se o caso for, vou passar a frase adiante.

6 de abr. de 2010

Tá,

existe a chance de não ser feliz em Trancoso como existe a chance de não ser feliz em qualquer outro lugar. Porque blá blá blá, eu sei. Eu desisto. Eu não vou discutir felicidade sozinha/comigo mesma. Seria aquela piada dos carecas brigando pelo pente.
Vou ler.

signos

Tomei um leve banho de chuva de manhã, porque em Porto Alegre só chove quando eu digo pra mim mesma que não, hoje não vai chover. Tudo pra assistir a uma aula que eu sou sincera em dizer que não entendo, não faz o menor sentido pra mim. Mentira. Faz. Mas é o menor possível. Signos e objetos e imagens e representações e etc. As pessoas devem curtir. Porque é legal. Mas eu não tenho sensibilidade pra ficar teorizando, imaginando e discutindo uma coisa que pra mim é o que é e era isso.

Era uma sensação esquisita, enquanto eu voltava pra casa. Que eu não gostava nem desgostava. Era só uma sensação vazia. De olhar pra minha vida, pras pessoas que fazem parte dela, pras coisas que eu tenho que fazer, pra tudo que é hoje e pra o que quer que seja daqui a dez anos e não ter reação nenhuma. Nada além de "ah". Só uma sensação vazia.

Depois tranquei três vezes na porta giratória da Caixa. Porque eu tinha uma arma na bolsa e pretendia assaltar a agência. Não rolou. :~

*

Eu li ou vi qualquer coisa na tv sobre uma família dona de um restaurante em Trancoso. E deduzi que, se eu já sou feliz, na medida do possível e do meu jeito meio torto, com a vida que eu tenho aqui, eu seria uma pessoa plena no lugar dessa família. Não sendo dona de um restaurante - até porque não seria um restaurante, seria um pretenso restaurante que em seguida faliria -, mas, sei lá, de uma pousada. Conhecendo gente o ano inteiro em uma praia linda e ganhando dinheiro com e para isso. Será que sequer existe a chance de não ser feliz assim?

*

Eu fico, às vezes exaustivamente, imaginando as coisas. Antes de elas acontecerem.
Eu fiquei imaginando como seria a semana em Porto Seguro antes de a gente viajar. E fiquei imaginando como seria o Anglo antes de as aulas começarem. E como seria morar sozinha. E como seria a minha matrícula na Fabico, e depois como seria o trote, e depois como seriam a rotina e as aulas.
E é sempre pior ou em algumas felizes vezes melhor ou simplesmente diferente do que o que eu tinha imaginado. Nunca como eu tinha imaginado. Até há muito pouco tempo.
Eu me sentia boba, ano passado, por querer certas coisas. Mas mesmo assim eu imaginava como seria. Como eu gostaria. De companhia pras coisas mais insignificantes. De ir ao mercado ou à rodoviária a só conversar. De andar por aí a beber ou a fazer nada em casa ou a ouvir música ou o que fosse. Qualquer coisa dessas, bobas, completamente cotidianas.
Mas aconteceu.
Exatamente como eu imaginava.
Exatamente como eu imaginava e depois me sentia idiota por querer coisas que não eram possíveis.
E, sim, grande coisa. Mas é bom. Assim como também é bom conseguir imaginar certo, de vez em quando, mesmo que o certo seja mais obra do acaso do que da minha experiência em 'imaginar certo'. Considerando que seja possível imaginar certo e a imaginação coincidir com a realidade.

Eu riria se alguém me contasse de março de 2010 enquanto eu ainda estivesse em março de 2009. Eu riria e não acreditaria.
Hoje eu rio de mim em março de 2009*. Achando que aquilo era bom. Sem saber o quão melhor podia ser.

*

Tenho todas as tardes à exceção de segunda oficialmente livres agora. O que significa luta diária: ler x dormir. Quero ver eu conseguir optar pelo primeiro. Quero ver eu conseguir optar pelo primeiro e não desistir no meio, derrubando os polígrafos, ajeitando a cabeça no travesseiro e puxando o cobertor e tirando os óculos e esquecendo da vida. Haja café. E a vontade que eu vou tirar ainda não sei de onde.



*Não que março de 2009 tenha sido ruim. Pelo contrário. Mas basta ter algo à altura com que se comparar pra qualquer coisa diminuir drasticamente de tamanho. E é triste, isso, mas.

3 de abr. de 2010

Eu não sei.

2 de abr. de 2010

so lazy

and when I look to the shape of the sky
I give thanks for this hollow chest of mine
that I no longer feel
the great weight of ordeals
that can make this life so unkind


Eu passei boa parte do dia pensando nisso. Em ser so lazy. Em por que eu sou so lazy. E cheguei à conclusão de que o problema mesmo não é a preguiça. Ela é só conseqüência do fato de que me falta ânimo. Ânimo com a vida. Ânimo pra viver e fazer as coisas todas que eu tenho fazer - ler polígrafos, fazer trabalhos, visitar museus, ir ao supermercado. Eu faço essas coisas, mas sempre com um peso tão grande. Muito maior do que deveria ser. Porque não existe o que me motive. "Vou estudar para..." Todo mundo completa uma frase dessas. Eu não. Ou pelo menos não com verdade. Digo, vou estudar e me formar e trabalhar e ganhar dinheiro pra pagar as contas, espero. Mas e daí. Eu não quero isso de verdade. Eu não quero nada de verdade. Profissionalmente. Tudo que eu possa imaginar nesse sentido é sempre abstrato, quase surreal. Mas não tem como viver 'levando e depois eu vejo o que acontece'. Eu sei lá como se vive. É foda.
"Sonhar."
Eu levo tempo demais até pra entender.
-
Um pedaço da sola do meu all star descolou no calcanhar. Ê.
so lazy.

pragas

Eu devo ser a única pessoa que consegue rogar praga pra si mesma. Foi só falar em quase não ligar mais o computador, que a vida encarregou-se de me deixar sem. Por uma semana só, mas ainda assim. A ironia é a pessoa se importar com isso e depois ver que, afinal de contas, não fez a menor diferença.
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Não lembro quem foi que disse essa semana que "cansei de brincar de ufrgs", hah. Mas, pois é, eu também. Já.
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Eu tô preocupada. Começando a pensar em ficar preocupada de verdade, na verdade. Mas eu ainda espero que isso seja só tpm e que os próximos dias me mostrem que eu não tenho motivos pra me preocupar.
Não com isso.
Porque eu tenho tanta coisa pra fazer. Tanta em comparação ao que era o usual até pouco tempo atrás. Uns quantos polígrafos pra ler, e livros, e um trabalho infeliz para o qual eu deveria visitar um museu mas não. E  vários outros trabalhos infelizes. E ser dona de casa. E lavar roupa sem máquina.
E tem tanta coisa que eu tinha - que eu precisava - fazer, mas que não tá rolando. Os istas. Dentista, ginecologista, oculista, otorrinolaringologista?, hah.
E tem as coisas que eu queria - ou acho que queria - fazer, mas que também não tão rolando. Tipo decorar o apartamento. Tipo ver uns filmes que me entretenham em vez de me entediar. Tipo conhecer qualquer lugar que eu ainda não conheça.
E tem eu, que levo horas - senão dias - pra decidir começar a fazer qualquer uma dessas coisas. Imagine todas.
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Quase um mês sem voltar pra Canela. Mas eu descobri que não tava com saudade. Era mais vontade de ver. Constatar que, sim, tá tudo igual e no lugar. Como eu havia deixado.