28 de nov. de 2009

sons de porto alegre

Todos os dias, a partir de algo perto das 8 da manhã: gemidos estranhos - prédio ao lado.
Todos os dias, pontualmente às 9 da manhã: batidas e barulho do apartamento em obra - prédio ao lado.
Todos os dias, pontualmente às 10 da noite: uma janela batendo por cerca de cinco minutos - mistério.
Os motoristas não agüentam um minuto sem buzinar.
As pessoas falam mais alto na rua.
As pessoas gritam.
As pessoas não tem paciência.
Talvez isso seja assim em todo lugar - inclusive aqui -, mas é diferente lá.
E eu me lembro d'O Rei Leão: você aprende a gostar.
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Nada como reencontrar a cerração, depois de três semanas longe. Não é se sentir em casa; é simplesmente estar em casa.

26 de nov. de 2009

último romântico

Ele fala com um ímpeto fora do comum, como se dizer aquelas palavras fosse a coisa mais importante do mundo; quase como se a vida dele dependesse disso. E ele dá a impressão de ser incansável, insaciável, como quem acredita que tudo o que diz é pouco, que ainda não é o bastante, que poderia ser mais, não fosse o problema do tempo - da falta dele. É muito bonito. A vontade, a veracidade, quase a voracidade, de quem gosta do que faz e sabe fazer.

23 de nov. de 2009

i'm not (t)here.

O problema não é o pensionato. O problema é passar o ano inteiro ouvindo que "daqui a um mês...", e um mês se transformar em um ano, e o ano nunca acabar.

22 de nov. de 2009

Para viver é preciso merecer viver. A vida é uma coisa extraordinária, é um dom, e é preciso valorizá-la. É preciso ter um ideal nessa vida para torná-la melhor e para tornar a sociedade melhor. Não basta apenas julgar, ser contra essa mentira da justiça, essa mentira da lei, essa mentira da moral, essa mentira da religião. É preciso construir algo.


Apolônio de Carvalho

headache II

Eu acho, embora eu não suporte muito achar qualquer coisa, que eu sou boba demais. Mas, assim, demais. O suficiente pra não focar no que eu deveria. Pra ficar dividida entre histórias quase fictícias que... Bom, 'quase fictícias' diz tudo. Porque as coisas mais simples do mundo são as mais difíceis, na maioria das vezes.
Estudar, por exemplo.
Quem é que precisa de vida, afinal.

19 de nov. de 2009

eu não aprendo.

Vovó tem ligado quase todo dia. Acho que ela pensa que alguma coisa grave pode acontecer comigo, por causa das chuvas e tal, no meu longo trajeto de três quadras até o Anglo. Como se pudesse cair uma árvore ou um raio na minha cabeça. E eu tava achando graça disso agora há pouco, quando pensei que talvez não fosse má idéia. Porque, no fundo, talvez o que eu mais quisesse agora - como se fosse possível - fosse uma desculpa grande o suficiente pra largar tudo de mão e ganhar (perder?) mais um ano.
Eu queria que "jogar tudo pro alto" fosse uma possibilidade real na vida, a qualquer hora, e que não dependesse de coragem. Ou de covardia.

18 de nov. de 2009

provas e tempestades

À beira de começar a passar fome por impossibilidade de ir fazer compras. Impossibilidade, mas também preguiça, que eu rapidamente justifico com a necessidade de estudar para as provas do simulado. O caso é que supermercado, depois das primeiras experiências, se torna uma necessidade? enfadonha e nem um pouco atraente. Tanto que eu prefiro me virar com os restos e empurrar o quanto der, faça chuva ou faça sol. Além disso, provas combinam com chuva, não dá nem pra reclamar - embora chuva me deixe consideravelmente mais nervosa do que qualquer prova.
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Achei o cd do Rafael Greyck e não tenho ouvido outra coisa. Nem quero. Cansei dos gringos.
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O mais emocionante que eu tenho feito na internet nas últimas semanas é ver quem (quantos, na verdade) visita isso aqui e quando. Eu demorei pra aderir a essas tecnologias e entrar nesse time, mas acho que até vale a pena. Só tenho com o que me admirar. O legal é conseguir saber quem são as pessoas só de ver as cidades, os horários e a freqüência. E ficar imaginando quem são os outros. (Eu gosto mais dessa parte.)

15 de nov. de 2009

vote em jesus.

No centro de Capão, um comício religioso. Porque eu não sei que nome dar ao acontecimento e porque seria exatamente isso, se Jesus concorresse às próximas eleições: um louco gritando em cima de um palanque e um bando de gente com faixas, cartazes, adesivos e camisetas onde se lia "Ele pode!".
O negócio intercalava discursos um tanto exaltados com uma daquelas bandas tocando músicas religiosas em versões moderninhas. E as pessoas no chão gritando glórias, aleluias, améns e graças a Deus, dançando e se abraçando - "Abrace o irmão que está do seu lado, agradeça por vocês estarem aqui, porque Ele nos deu a vida". Jesus.
Nós contornamos a quadra da multidão e entramos em um café no meio de uma galeria aberta e levemente escondida. Café Cultura. Em todas as estações servindo com arte. E toda a sutileza do meu pai: "Lugar de magrão!". O dono era igual ao Felipe Camargo, até mais bonito, não fosse o sapato. Simpático, ele nos ofereceu chimarrão enquanto nós esperávamos os cafés. Ao som de Maria Rita, Djavan, Elis e por aí vai, o que fez eu me lembrar de um cd do Rafael Greyck - "Luau" - que o meu pai comprou em Goiânia e que eu quero muito encontrar quando chegar em Canela. Cheio dessas musiquinhas que fazem jus ao nome do cd e que são a melhor coisa de se ouvir.
Na volta, bastaram uns poucos passos pra perceber que o comício continuava. A essa altura, eles agradeciam a Deus por ter segurado a chuva, "Ele está conosco!".
Em uma praça, a poucos metros da gritaria, tinha um cara sentado em um banco fumando um cigarro. Um careca com um moicano ruivo e um colete jeans com um a maiúsculo ocupando metade das costas abaixo de "liberdade". Um pouco atrasado, né, podem pensar. Quiçá nem tanto.
E a nuvem-rolo fajuta não causou mais que um chuvisqueiro, por enquanto.

14 de nov. de 2009

final de semana 13 e arroio teixeira

Sexta-feira 13 e chuva: convenhamos, não existia a menor possibilidade de alguma coisa funcionar. Porque nós sabemos que qualquer desgraça, por mais ínfima que seja, nunca vem sozinha.
Mas, ignorando os fatos (a chuva, as nordestinas tagarelando no ônibus, o fone de ouvido estragado, vir pra praia de madrugada, esquecer o secador, esquecer a escova, esquecer tudo), talvez nem tudo esteja perdido.
Pouco antes do meio-dia eu discuti com meu irmão - quando é que eu não discuto com o meu irmão? - e saí pra caminhar. Fim de semana chuvoso/nublado e praia abandonada é um prato cheio pra quem gosta de caminhar sem ver gente. Andei por todos os cantos de Arroio Teixeira. Aqueles lugares a que a gente ia de bicicleta quando era criança achando que tinha ido longe demais mas que na verdade são ali do lado. Fui até a beira da praia: vento quente e uma daquelas nuvens-rolo, como eles chamam - pequena, é verdade, mas ainda assim -, anunciando mais chuva. Sentei em cima de um dos cômoros pra ficar brincando com a areia e olhando o mar e as ondas e um carinha pescando ali perto. E depois voltei pra casa, certificada de que a minha praia continua a mesma.
Eu gosto de Arroio Teixeira por isso: faz 18 anos que eu venho pra cá todos os verões e em finais de semana aleatórios ao longo do ano, e - à exceção das casas novas que surgem e de duas boates estranhas - todo ano tudo sempre continua igual ao anterior e ao anterior e ao anterior. Uma ilha isolada do tempo. A única coisa que não mudou desde que eu nasci.

9 de nov. de 2009

oi?

Do final de semana: chuva, faxina e brique. Eu poderia morar em Porto Alegre, afinal.
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Novembro e dezembro vão ser os meses mais longos e mais curtos da vida. Vão passar rápido, porque vestibular e, embora muita gente já tenha esquecido, enem. Mas vão demorar uma eternidade por causa do apartamento. E aí? Em qual eu me apego?

6 de nov. de 2009

a noite feito um viaduto

É engraçado ver todo mundo estudando e querendo a mesma coisa. Todo mundo preocupado com a mesma coisa. O que não é engraçado é a sensação de fazer e fazer - ou, muitas vezes, não fazer tanto assim - e ver o tempo escapando, por mais cedo que se levante de manhã.
Além disso, eu tenho pensado tanto... E eu não sei se isso é o peso de quase um ano aqui me reeducando, por assim dizer, ou se é só porque nós estamos no final do ano mesmo, com as luzes do Natal já dando as caras em praticamente todo lugar. E, bom, pensado em tudo. Um pouco de tudo. Em tudo o que dá pra imaginar pensar. Nas injustiças do mundo, por mais clichê que pareça dizer isso. Em agradecer a um professor ou outro pelas aulas boas que deram. Em doar sangue.
Finais de semana aqui me deixam com saudade de casa. Saudade de casa me deixa melancólica. Melancolia me lembra que eu tenho um blog. E o blog... O blog nada. Estrela fria.

2 de nov. de 2009

mortos

Porto Alegre hoje = Blecaute. Podia ficar assim o mês inteiro.