27 de fev. de 2009

às moscas

"You'd better look alive", they said.


Eu não sei se tenho estrutura emocional para contar uma história dessas. Digo isso por vocês, já que ela possivelmente os afetaria profundamente, e isso me deixaria para lá de chateado, não sei se agüentaria imaginar tantos rostinhos tristes. Em nome da minha honra, no entanto, e na tentativa de deixar meu nome nas páginas da História, ainda que entre os figurantes (e, entre esses, na subcategoria de prováveis lunáticos, mais tarde vocês entenderão por quê), eu irei contá-la.

No decorrer da leitura, talvez vocês achem que é uma verdadeira tragédia e se surpreendam com minha indiferença. Mas, quando se se diminui drasticamente de tamanho, é preciso selecionar bem o que deixar na cabeça, por conta da falta de espaço. E eu escolhi manter minhas lembranças, minha capacidade de raciocinar (mesmo danificada), nenhum sentimento-sentimento (o que acontece aqui é que sentimentos, sejam quais forem, normalmente são grandes. Se eu quisesse guardar o amor por minha esposa, por exemplo, não sobraria espaço para praticamente mais nada) e, claro, meus reflexos.

Em vida, eu costumava ser um sujeito bastante normal. (Preciso dizer que já não sei bem qual é minha real concepção de normal. Ou de real. No estado em que me encontro, as coisas se confundem bastante.) Um velhinho boa-praça, que comprava seu jornal diariamente na banca e o lia na padaria da esquina tomando um café antes de levar pão para o café da manhã da família. É, eu vivia com toda a minha família: minha esposa, meu filho e minha nora e meus três netos, dois já crescidos e um ainda criança. Morávamos na casa do meu filho. Uma casa boa. Grande, dois andares, espaço suficiente para as crianças crescerem felizes e livres, mesmo na companhia de duas peças de museu vivas e falantes - e já um pouco surdas, também.

Acreditem se quiserem, eu e minha mulher fizemos bodas de ouro. Nós nos aturamos por mais de 50 anos! Qual é? Isso não é para qualquer um. Eu me considero um herói. Inclusive, acho que deveria ter recebido, nem que fosse no velório, algum tipo de medalha de perseverança. Toda pessoa sabe, em seu íntimo, o quanto é difícil aturar outra. Se um ano pode ser quase uma tortura, imaginem 50. Era o mínimo que deveriam ter feito por mim. Uma menção honrosa, uma homenagem a um homem que passou 71 anos enfrentando a TPM alheia mensalmente (tudo bem, menos de 71, nesse caso), superando crises, tendo de tolerar todos os tipos possíveis e imagináveis de chiliques, manias e neuroses femininas.

Mas não. Nem uma musiquinha no fundo para dar uma animada no ambiente e no pessoal, acreditam? Ficaram todos lá, em pé ou sentados em volta do caixão, chorando as pitangas e recebendo abraços de gente que nem conheciam. A falta de educação chegou a tal ponto que nem uns comes e bebes foram capazes de oferecer. Como se já não fosse um sacrifício ir a um velório, aquele tipo de coisa horrível que todo mundo só faz por obrigação. Aliás, não sei de onde tiraram que é obrigação. Coisa de seres humanos. Seres humanos e suas excentricidades. Estou para ver tipinho mais estranho - e com costumes mais estranhos ainda - que esse.

Na verdade, já não estou para ver mais nada, mas a força de expressão prevaleceu.

Bem, esse incidente (minha morte) aconteceu numa tarde de domingo. (Graças a Deus, quase literalmente, um pouco de movimento para o dia mais parado e entediante da semana.) Morte natural, mesmo bebendo e sambando na gafieira toda semana. (Religiosamente. Nunca perdi um samba, ainda mais na companhia da minha morena; suponho, então, que meu lugar pras bandas lá de cima esteja mais que garantido.) Mas, com 96 anos, meu chapa, o que você esperava? Eu bem queria chegar aos 100. Ou às bodas de diamante. Seriam mais dois feitos para ajudar a deixar meu nome na História num lugarzinho um pouco melhor.

No momento exato da coisa, eu estava deitado em minha cama, pronto para usufruir de mais um soninho da tarde. À medida que eu adormecia, no entanto, percebi que aquilo não parecia nem um pouco com adormecer, de fato. A sensação de tudo parando por dentro ao mesmo tempo deve ser comum em máquinas velhas quando param de funcionar depois de levar aos extremos, e finalmente esgotar, sua capacidade, mas não é comum em seres humanos idosos antes de seu sagrado sono vespertino. De alguma forma, eu soube disso naquele momento. Alguma coisa estava errada.

Então, eu fiz o maior escândalo da minha vida. Levantei em um pulo, aos berros, ligando para a ambulância com o telefone fixo e para a polícia com o celular, disse à empregada que ligasse também para os bombeiros, abri a janela do quarto e gritei a plenos pulmões que ia morrer, atraindo a atenção de toda a vizinhança e, em poucos minutos, juntando uma pequena multidão ali em baixo. Apareceram fotógrafos, jornalistas e repórteres da Globo, do SBT e da Record, que se amontoavam sob minha janela, disputando a tapas e pontapés os melhores lugares e ângulos para as fotos e filmagens. Um pouco mais ao longe, também pude ver homens de branco ao lado de um furgão branco acolchoado por dentro. Não compreendi por que estavam ali, mas naquela hora eles não me preocupavam. Muitos flashes. Toda a empolgação que minha morte merecia.

É um desapontamento e um arrependimento terríveis para mim que isso tudo tenha sido meu derradeiro pensamento. Eu deveria mesmo ter feito um escândalo, o maior já visto, se possível, juntado uma multidão ao redor da casa e tudo o mais. Com isso, sem dúvida, meu nome ficaria na História. E daqui a intermináveis gerações ainda se ouviria falar a respeito do homem que fez de sua morte um episódio público histórico. Mas, como vocês já sabem, eu tinha 96 anos. E, com 96 anos, fica difícil até discar 190 no telefone. Seria fisicamente impossível levantar, abrir a janela, gritar a plenos pulmões que iria morrer e ainda sobreviver ao baque para distinguir símbolos de emissoras de televisão.

Não tenho certeza agora, mas imagino que tenha sido complicado e desgastante mesmo pensar em tudo isso. Coisas cansativas e pesadas são cansativas e pesadas até quando são só pensadas. Toda minha energia sempre foi gasta muito metodicamente. Jornal e padaria de manhã, um bom sono à tarde para recarregar e aquela cervejinha e aquele sambinha nos finais de semana para fazer a dieta e o cuidado do resto da semana valer a pena. Então, enquanto eu pensava no que poderia acontecer depois que eu avistasse os repórteres e os homens de branco, meu corpo provavelmente não deu conta de tanto exercício e do sobre gasto de energia daí decorrente e padeceu. Eu morri.

O que aconteceu então foi a coisa mais estranha de toda a minha vida. Pudera, eu estava morrendo, e a morte certamente é a coisa mais estranha pela qual uma pessoa pode passar. Bem, na verdade, ninguém passa pela morte realmente, mas, ainda assim, foi muito estranho, eu garanto. Senti como se meu corpo estivesse se desintegrando e sendo sugado para algum lugar muito, muito pequeno, onde sem dúvida ele não caberia. Tudo escureceu e eu ouvi vozes. Eram palhaços que diziam que eu deveria me comportar enquanto minha cabeça estivesse passando pelo teste. "O quê?", eu perguntei. Ou tentei perguntar. Aquilo era demais para um velho da minha idade. (Ainda é.) Mas os desgraçados eram uns sarcásticos, só riam, riam, riam.

E foi assim, em meio a risadas maléficas que eu começava a acompanhar, que tudo escureceu novamente. Acordei da morte, então, e quase morri outra vez. Antes que pudesse tomar conhecimento do meu estado, vi uma coisa verde cheia de furos vindo em minha direção. Vocês têm idéia do susto que eu levei? É o equivalente a estar dormindo e acordar deitado nos trilhos de um trem que vem a toda velocidade. Só tive tempo de tentar pular para o lado, mas, para minha surpresa, aconteceu mais do que isso. Eu voei!

Fechei e abri os olhos para ter certeza de que não estava sonhando, mas não, eu estava mesmo voando. Sob meus pés, potes imensos de margarina e geléia, xícaras, pratos e talheres gigantes, uma caixa de leite maior do que um edifício. Primeiro, eu vôo, e depois as coisas aumentam de tamanho. O que estava acontecendo, afinal? Quando encontrei um lugar aparentemente calmo, pousei. (Meu Deus! Quando, em vida, eu iria imaginar que ainda usaria o verbo "pousar" comigo. Quero dizer, aviões pousam, pássaros pousam. Pessoas - a menos que estejam de pára-quedas ou asa-delta, e esse definitivamente não era meu caso - não pousam.) Olhando ao redor, percebi que o lugar não me era estranho. Aquela mesa, aqueles armários, aquela caixa grande branca...

Nesse momento, uma velha entrou. Baixinha, cabelos brancos... Só. E o que mais dizer de uma velha? Todas são baixinhas e têm cabelos brancos, quando não os pintam. Ela usava uma roupa de caminhada do tipo que as velhas usam e, quando ela virou, eu levei um susto. Não pelas rugas, que também eram de assustar, mas porque eu a conhecia. Era minha esposa! (Eu casei com isso?) E aquele lugar esquisito era a cozinha da minha casa.

Como já estava um pouco familiarizado com o processo, dei outro pulo e de novo saí voando. Não havia nada vindo em minha direção, dessa vez, mas eu precisava de um espelho. No caminho para o banheiro, quase fui atropelado pelo meu próprio neto, que corria para a cozinha. Quando finalmente cheguei, levei o segundo susto em menos de meia hora. Eu não aparecia no espelho. "Será que eu sou um vampiro?", pensei. Então, voando de um lado para o outro, tentando desvendar aquele mistério, notei um pontinho preto se movendo no espelho. Quando eu ia para a esquerda, ele ia para a esquerda, quando eu ia para a direita, ele ia para a direita. Assim ficamos por alguns segundos, até que eu levei meu terceiro susto e me dei conta de que o pontinho era eu, eu era o pontinho. Cheguei mais perto do espelho para vê-lo melhor (minha vista já não era muito boa antes, imaginem agora). Quarto susto: o pontinho era uma mosca. Uma mosca! Logo, se o pontinho era eu, eu era o pontinho e o pontinho era uma mosca, eu era uma mosca. Uma mosca!

Uma mosca! Já pararam para pensar nas maravilhas de ser uma mosca? Uma criaturinha suja e insignificante, odiada por todos os seres humanos? Fantástico! (E eu não estou sendo irônico, ironia não caberia no meu cérebro. Nós, moscas, somos seres de estrutura muito simples, sabiam? É, eu tenho aprendido um bocado sobre minha nova espécie.) Mas eu tinha menos de um mês de vida pela frente (se não fosse pego antes), era melhor aproveitar. Reconheci o território que eu já conhecia, mas quando se é uma mosca é preciso saber quais são os lugares seguros, e saí para dar uma volta ao ar livre.

Rondando o lixo, conversei com uma companheira que me explicou sobre a vida. Entre outras coisas, ela disse que vinha da família vizinha (acidente de carro), mas que era perigoso ficar muito tempo dentro de casa, "eles se irritam fácil com a gente. Do matador dá pra escapar, mas inseticida é complicado". Depois de mais alguns minutos de conversa, nos acasalamos. (Mais um verbo pra lista dos impensáveis.) Minhas larvinhas nasceriam em dez dias. Eu seria pai mais uma vez! Só uma hora de vida como mosca e eu já tinha tido mais emoções do que costumava ter em um ano como homem. Sabem, não sinto a menor falta daquele tempo. Vidinha mixuruca e sem graça. As pessoas acham que são felizes porque não sabem o que as espera. Isso sim é que é vida!

Alguns dias depois, quase perto do fim natural de toda mosca, eu estava saboreando uma picanha, quando aquele objeto verde e esburacado, cujo nome eu prefiro fingir que não lembro, veio para cima de mim outra vez. Mas eu já tinha prática. Com quem meu filho achava que estava lidando? Eu não era uma mosca qualquer! Escapei, mas acabei pousando nos tomates, por descuido, e de novo tentaram me acertar. Escapei mais uma vez e então tomei o cuidado de voar para mais longe. Pousei no fogão e fui para debaixo da fruteira, ali eu estaria a salvo.

Esperei alguns minutos e saí. Àquela altura, já estava mais do que provado que minha vizinha estava certa: é perigoso ficar tempo demais em casa, sua família vai tentar - e provavelmente conseguir - te matar. Disposto a seguir os conselhos dela, voei em direção à janela. Qual não foi minha surpresa quando descobri que o inimigo estava à minha espreita: novamente jogaram aquele instrumento de tortura contra mim. Não alcançando meu destino, tive de pousar na pia. Era para ser um pouso rápido: da pia, eu iria para o forno, e dali para a liberdade - ah, a liberdade! Mas vi meus planos indo pelo ralo quando, no exato momento em que eu ia levantar vôo, a coisa verde e esburacada me prensou contra a pia. (E se manteve ali por alguns segundos para se certificar de que eu não iria escapar.)

Meu frágil corpinho foi esmagado contra aquela superfície cinza e gélida. Quando meu filho (meu filho!) retirou o verde de cima de mim, eu mal podia mexer uma ou duas perninhas. Sabem, a sensação de ter o corpo esmagado é bastante dolorida, claro, mas também é engraçada. É exatamente o que nós imaginamos, ou tentamos imaginar, quando vemos nos desenhos animados. Alguém poderia ter filmado. Já que minha morte humana não foi registrada, a animal poderia ser, nem que fosse para ser mostrada em uma daquelas reportagens do Globo Repórter. Eu ficaria feliz até com um vídeo para uma aula de ciências. Mas é claro que não filmaram. Será possível que essas pessoas (que nojo!) nunca ouviram falar em "último desejo"? Francamente.

Depois de quase morto (porque nem para isso pessoas servem, não conseguem sequer matar uma mosca direito), eu fui jogado no lixo, onde encontrei amigáveis restos de comida e simpáticas cascas de banana que me receberam calorosamente. O meu novo lar - e futuro túmulo - não era nada ruim, até me proporcionou uma última refeição. Então, mais uma vez, eu senti que não agüentaria. E, de repente, como num piscar de olhos, ali estava eu, morto outra vez. Literalmente uma mosca morta.

25 de fev. de 2009

finalmente,

...a um ou dois parágrafos do fim da minha história. Eu sei que final quero dar, mas ainda não sei como escrevê-lo. O segundo maior problema depois do início? O final. (E ó que vale pra mais coisas do que simplesmente escrever, só pensar um pouquinho.) É sempre assim. E o teclado e o computador - que insiste em não abrir uma segunda janela do Internet Explorer - não ajudam muito. Mas qualquer hora eu chego lá, não tenho dúvidas.

24 de fev. de 2009

Marley

e eu.

Assisti hoje. Geral chorando no final e eu ali, firme, nem uma lágrimazinha. E olha que eu costumo chorar pra caramba, principalmente em filme. Às vezes, choro mais lendo, mas no caso desse labrador, bem, eu não tive paciência nem vontade de ler o livro do pai dele. O engraçado é que mesmo o "pior cão do mundo", em um filme, parece o melhor animal de estimação que se poderia ter. Digo, eu tenho um labrador em casa, e não é bem assim. Ele corre pra diabo, come mais ainda, já destruiu duas casinhas, e basta alguém se aproximar para ele pular nas grades do portão e balançar a cabeça pedindo carinho. O que eu quero dizer é que, sinto muito, mas não existe essa magia toda. Não sei se é porque eu nunca me afeiçoei muito ao nosso Marley ou por quê, mas que não existe não existe. O meu outro cachorro é um collie não-puro simplesmente lindo. Não chega a ser um furacão, mas é brincalhão. E doce. Ele é fantástico. Chega perto da gente não para pular, mas para ser abraçado, e abraçá-lo é com certeza uma das melhores sensações do mundo. Talvez, quando chegar a vez dele de morrer e a minha de enterrá-lo no jardim na nossa casa, eu me emocione com o final.

23 de fev. de 2009

esperando a catástrofe

Esqueci de comentar, mas o Tweak chegou semana passada. Até e-mail da livraria avisando do envio eu recebi. Grata. Só não comecei a ler ainda porque entrei naqueles dias e não ando com paciência para ler, principalmente se for em inglês. E só mulheres sabem como esses dias, assim como os que os antecedem, são um saco. Acho uma puta injustiça homem não ter que passar por nada parecido. Mas não vou entrar nisso porque, .
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Os últimos dias - manhãs, tardes e noites, sem exceção - têm sido incrivelmente longos e cansativos. Como quando você vai naquele dentista que demora horas para atender e você tem de ficar ali esperando. E esperando pelo pior, porque dentistas são a pior espécie. É exatamente assim que tem sido. Eu passo o tempo todo sem fazer nada de útil, só esperando, como se fosse acontecer uma catástrofe a qualquer momento.
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Eu sei que escrever demais, na maioria das vezes, é sinônimo de não ter o que dizer.
Eu não tenho o que dizer.

zzzz

Deus, ou qualquer coisa em algum lugar, ou simplesmente minha consciência, que é pra ser o que pensa por aqui, sabe o quanto eu quero logo mudar a minha vida. O quanto eu anseio por trocar de cidade e tudo mais. Morando onde for. E mesmo que seja pior. Porque inferno por inferno, antes um diferente, certo? Sei lá. Mas alguma coisa me diz que morar em outro lugar, fazer coisas diferentes e ver pessoas diferentes em um cenário diferente é melhor do que amargar todas as noites enquanto o sono não vem e enquanto suas amigas saem sem convidar.

Tenho tido insônia todas as noites. Não exatamente insônia, porque eu sinto sono, mas fico me virando na cama e pensando em um monte de coisas desconexas e não consigo dormir antes das 3 da manhã, no mínimo. Vai saber o que acontece. Não posso nem culpar o calor, que esse ano, preciso ser justa, nem me incomodou muito, tanto de dia quanto de noite.
Já me disseram que às vezes isso acontece porque tem algo 'martelando' a cabeça. Mesmo que a gente nem saiba direito o que, aí seria um aviso de que tem, sim, trate de descobrir. Mas quem me conhece sabe que eu prefiro não descobrir, então martele à vontade - e bora ficar acordada até às três.

22 de fev. de 2009

moscas

Me empolguei com a história das moscas. Tá maior do que o previsto e eu ainda não terminei. Mas tô achando o maior barato escrever, apesar da merda que tá saindo. Acho que essa deve ser a graça dos livros ruins que tem por aí. Quer dizer, podem ser um lixo e tudo, mas pelo menos os caras devem ter gostado de escrevê-los. Se nem isso aconteceu, então, bom, desculpa, mas eu tenho pena deles.
(Digo isso porque, se até eu tenho, um escritor que é escritor certamente tem consciência de quando o que ele escreve não presta. E insistir no que não presta é, com toda a certeza, mais degradante e frustrante do que insistir em um erro - o que até pode ser bom, né.)
Vale pras músicas e pros poemas, também, eu acho.
Se bem que música é diferente.
Eu fico pensando na quantidade de músicas que existe em todo o mundo. Imaginem também. É música pra caralho. E são todas diferentes. E, mesmo assim, tá cheio de gente por aí, famosa ou não, sempre fazendo mais. Eu admiro essas pessoas. Por piores que sejam as músicas. Porque, pelo amor de Deus, alguém há de concordar comigo, para criar uma coisa diferente de todas as que já existem, o cara tem que ser o mínimo de foda.
Voltando às moscas - acho o máximo escrever moscas -, eu devo terminar a história hoje ou amanhã, e postar não sei quando, mas eu tenho certeza de que não vou encontrar um título. Normal.

21 de fev. de 2009

ok, dr.

Você sabe que alguma coisa com você está muito errada quando você consegue inspiração em moscas.
Eu estava na sala com minha mãe e uma amiga dela enquanto passava essa novela esplêndida que é Caminho das Índias, com a Juliana Paes conseguindo imprimir piranhagem até em uma indiana. Nada contra ela, não, acho até bonita e tudo, mas, , por favor. Fico só imaginando o que passaria na cabeça de um indiano de verdade se assistisse. Enfim. O caso é que enquanto eu assistia havia algumas moscas voando ali pelo meio e, eventualmente, ao meu redor. E, pela primeira vez em meses, tive uma idéia que eu diria quase fantástica para uma história. Veja bem, eu diria. Mesmo assim, acho que vou tentar escrever. Se der certo, eu posto.

four winds blowing through her hair

Tem músicas que são contagiantes, né?
Essa Four Winds, do Bright Eyes, é um caso.
Ela dá vontade de fazer qualquer coisa, menos de fazer nada. Tipo, tem músicas muito mais animadas e que nos fazem querer dançar e pular, não importa quem esteja na frente. Four Winds é diferente. Dá vontade de não ficar parada não necessariamente no sentido de mexer os músculos, mas de, ah, fazer alguma coisa. Ora, tem tanta coisa a ser feita. Não importa a vida, não importa a pessoa, não importa o lugar, há o que fazer. Melhorias, mudanças, sutis ou não, aqui e ali. Quando eu ouço Four Winds normalmente é isso o que eu penso. Mas, com o cheiro da noite passada ainda em meus braços e em meus cabelos, hoje minha cabeça anda em outro lugar, mesmo ouvindo Four Winds incansavelmente. Não pensem besteira, eu só fui ao cinema. E o filme não importa. Nem mesmo a bolha que meu sapato me fez importa. Importa que eu estou bem. Ponto. Sei lá por quanto tempo, sei lá até quando, sei lá se felicidade é verdade. Mas isso também não importa. Porque está ótimo assim.

20 de fev. de 2009

Eu me divirto com o fato de que, às vezes, as frases que mais dizem alguma coisa a meu respeito vêm dos lugares mais improváveis. Estava ouvindo música aleatoriamente nesse Windows Media Player do século retrasado quando, depois de um momento incrível com um jazz, tocou esta aqui: Só - Kamau. Quem me mandou ela foi um namorado(?) de uma amiga, no ano passado - ou seria retrasado também? bom, não importa -, quando eu ainda falava com ele no msn. Figura definitivamente rara, o rapaz. Ele já é maior, mas ainda estuda lá no nosso velho colégio e deve se formar no fim desse ano. Como me deu vontade de voltar lá agora. Nem que fosse só para agradecer o cara pela música. Pois bem. Não vou pôr a letra inteira aqui, só um pedaço.

Sei que eu me enrolo com tanto projeto pendente
Ah, se eu soubesse como é osso ser independete
Depender de gente que nem sente o mesmo amor que eu
Ter que pedir por favor, pelo amor de Deus
[...]
Fui pra ver se flui, se der espero lá na frente
Tem muito pensamento inundando a minha mente
E o ditado quem quer faz, quem não quer manda
E eu tenho que tropeçar pra aprender como se anda

18 de fev. de 2009

pois então...

Acordei hoje animada, cheia de idéias para pôr em prática, ânimo para caminhar e energia para gastar. Qual não foi minha surpresa quando descobri a chuva lá fora. Mas eu ainda não estava derrotada: a inspiração era tanta que eu poderia passar a tarde escrevendo. Qual não foi minha surpresa, dessa vez, quando "o Windows não foi iniciado com sucesso". Continua não iniciado com sucesso até agora, e só mesmo implorando ao irmão e à mamãe para ter uns momentos a sós com a minha fascinante vida virtual. Desgraça pouca é bobagem.

16 de fev. de 2009

bicho do mato, oi, oi, oi

Trânsito meio complicado na descida da serra, chegamos mais tarde do que o previsto ao litoral e acabamos jantando uma praia antes da nossa. Era um lugar superbacana! Uma lanchonete/pastelaria chamada Da Hora, com chão e mesas e cadeiras de madeira, iluminação baixa e garçons divertidos, que conseguiam, com perfeição, deixar os clientes à vontade - digo isso porque eu nunca me sinto bem em lugar nenhum, e foi com enorme sacrifício que eu desci do carro para jantar em um lugar desconhecido e cheio de gente. Enquanto nós esperávamos nossos pastéis - pedi um de camarão e catupiry - dois hippies mato-grossenses que estavam "viajando pelas praias do país" chegaram para tocar. Eu, que tenho uma queda por hippies, me deliciei. Não tem como não gostar de caras com dread no cabelo que viajam o país tocando - e vendendo brincos lindos - fumando a marafa deles, sem ter que se preocupar com nada.
Enfim. Noite ótima. Como poucas, mesmo. Para eu aprender a me socializar antes que minha timidez me mate, porque me parece muito injusto que ela me prive de coisas assim.

malpassado

Desisti dos epílogos. Ainda existiam mais cinco, mas decidi deixá-los fora dessa. Não que não fossem relevantes, mas acho que não cabe mais fazer isso, postar coisas velhas e tal. Cansei. Mesmo porque eu vou retomar o assunto quando o livro chegar e depois que eu terminar de ler. E, bom, o novo sempre vem.
Aliás, não vou conseguir deixar de comentar: peguei um momento do BBB semana passada - é, do BBB - em que a mulher na casa de vidro cantou esse trecho da música assim: "é você que é malpassado e que não vê que o novo sempre vem". Morri.
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Descobri recentemente que dois ex-alunos do meu ex-colégio viajaram para o Uruguai. De mochila. Deus sabe o quanto eu queria conhecer alguém parceiro o suficiente para fazer a mesma coisa. Não é o tipo de coisa que dá pra fazer com qualquer um. Tem que ser alguém que esteja exatamente na mesma situação - essa coisa de estar em sintonia às vezes faz sentido - e querendo a mesma coisa: sumir, ouvir música, fazer tudo sem horário nem data. Como eu queria. Mas é o tipo de coisa que me parece mais distante até do que estabilidade financeira. E olha que isso tá longe. Mas assim, muito longe.
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Tenho mais uns posts soltos pro futuro. Esse aqui foi só pra aliviar a tensão decorrente de ler milhares de blogs por aí e não escrever nada.

5 de fev. de 2009

epílogo I - 16/01

Fiquei me sentindo meio acabada com essa. Esse livro, a história... É tão diferente de tudo com o que eu estava acostumada até então. Quero dizer, eu olho para a minha vida agora e não vejo nada. Vejo uma vida pequena, repleta de pequenez e de uma enorme falta de significado. Meaninglessness. Eu demorei tempo demais para compreender o que essa palavra quer dizer. Eu penso em Nic - penso que ele é de verdade, e que está vivendo em algum lugar agora, assim como seu pai - e a única coisa que eu sinto e vejo e, principalmente, compreendo é como eu não sou nada. Como minha vida não faz diferença. Digo, pode fazer toda a diferença para quem gosta de mim, mas uma coisa é inegável: se eu morresse agora, por pior que pudesse ser, todas essas pessoas iriam seguir com suas vidas; elas viveriam, com ou sem mim. De qualquer jeito, não é a isso que eu me refiro. Eu queria poder ajudar, fazer alguma coisa, qualquer coisa que fizesse alguma diferença, por menor que fosse, numa escala maior. Algo que faria falta se eu parasse de fazer. Queria pôr para fora tudo isso - enquanto eu sinto - e ajudar qualquer um que precisasse dessa ajuda, por menor que ela possa ser.
Eu li o livro - na verdade ainda faltam algumas páginas - e me emocionei com algumas passagens - a carta, em particular -, mas não chorei. E estava até agora me recriminando por isso. Mas o fato é que eu sou assim: preciso de alguma coisa a mais, um empurrão. E ele veio. Não passei no vestibular. Eu já sabia - tinha certeza -, mas é especialmente frustrante quando vem acompanhado de uma verdade que, agora eu vejo, eu relutava, e continuo relutando, em aceitar: eu não sou capaz. Eu posso ser capaz de muitas coisas, mas não sou inteligente e não sou capaz disso.
E agora aqui estou eu. Mal conseguindo segurar as lágrimas enquanto escrevo. Estou lutando contra elas, por mais vontade de chorar que eu tenha agora, porque... Não sei por quê. Eu acho que só sei que não precisava - ou, e provavelmente, não queria precisar - disso: passar na federal. Agora, nesse exato momento, tudo o que eu queria era ajudar alguém, fosse quem fosse. E significar para esse alguém. Eu me sentiria plena. Isso me bastaria. Eu não precisaria de mais nada.
Então eu volto, lembro da existência da minha vida e que não posso fugir dela, não posso ir para lugar nenhum - não vou passar de Porto Alegre, diga-se. Eu me dou conta, pela primeira vez, do tamanho da minha vulnerabilidade. Em compensação e pelo menos, sei que ganhei uma consciência muito maior. Ou pelo menos isso parece ser verdade.