29 de jul. de 2010

those rocks

Fiz minha matrícula hoje e 1) eu sempre curto muito quando as coisas são menos complicadas do que eu imaginava, mas isso aconteceu tanto nos últimos anos, por incrível que pareça, que eu nem me surpreendo mais - o que eu não sei se é bom ou ruim - e 2) seis cadeiras só, porque não tem nada que eu queira, e eu ainda não me rendi ao fato de que eu vou ter que fazer cadeiras que eu não quero (além das obrigatórias), embora tenha plena consciência disso, tô só adiando, e porque eu pensei em aproveitar o embalo - do quê e eu não sei - e tentar um estágio. Mas já desisti do primeiro que apareceu por pura preguiça de voltar até Porto Alegre pra entrevista, porque eu cheguei de lá ontem, e as férias estão acabando, então dane-se.
Falando em férias, agora eu não me lembro quando - se no ônibus, aqui, lá ou onde -, eu tava pensando em como elas terminaram sem eu ter feito nada. Li uns livros, vi uns filmes, passei frio, dormi até tarde - ou o que eu considero tarde - todos os dias que eu quis ou que eu pude, mas não fiz nada. Exatamente como foi a primeira metade do ano e como promete ser a segunda. Talvez por isso eu tenha pensado e ainda pense em estágio - além do dinheiro, porque qualquer coisa é melhor do que nada ou do que ficar pedindo sempre.
Mas depois eu pensei melhor. Não com relação ao estágio; com relação às férias. Porque é justamente pra isso que elas se propõem: pra nada. Pra pessoa esquecer que existe vida - ainda que o sofrimento de voltar pra ela depois vá ser enorme - e não fazer nada do que não a agrade. De modo que elas serviram perfeitamente ao seu propósito. Porque - e eu fico pasma com isso - eu não dei um passo nesse mês inteiro que não tenha me agradado (tirando o oculista).
Em outros tempos eu até me sentiria culpada por passar tanto tempo em casa fazendo nada, absolutamente nada, mas não mais. As férias foram feitas pra isso: pra eu fazer nada sem sentir culpa, que isso - nada e culpa - já é o resto de todos os meus anos até aqui.
Dói só de pensar em voltar.* Sempre.


*Pra vida.

28 de jul. de 2010

shyness

Eu me lembro de quando eu era criança e tão tímida que sentia vergonha de levantar da minha classe enquanto os outros estivessem sentados, porque fazendo isso eu deixava existir a possibilidade de todo mundo olhar pra mim. Esse tempo quando eu tinha medo de falar com qualquer pessoa que não fosse meus amigos, meus pais ou meus avós. Quando eu achava que esse era o problema que gerava e viria a gerar todos e quaisquer outros que eu pudesse ter. Quando eu achava que, se fosse linda, resolveria esse problema e, por conseqüência, todos os outros que eu pudesse ter. Até hoje eu tenho dúvidas a respeito de até que ponto isso é verdade - até que ponto timidez pode arruinar a infância e a vida de uma pessoa e até que ponto beleza seria solução pra isso, se seria. Ou, pelo outro lado, até onde timidez é ruína? Porque que fique clara a minha preferência por timidez à extroversão, ao menos pra mim.
Hoje essa timidez, apesar de ainda existir, é drasticamente menor, mas, se me perguntassem qual o traço ou o elemento ou o que quer que fosse mais importante na formação do meu caráter e da minha personalidade, eu não precisaria pensar muito pra responder que foi - e é - a minha timidez, independentemente do tamanho dela. O fato de eu ser bicho do mato, mesmo.
Eu tive três turmas diferentes ao longo da minha vida de estudante: a do colégio, a do cursinho e agora a da faculdade, deixando de fora coisas menores. Mas o fato é que em todas foi a mesma coisa. No fundo eu sabia que me conhecia o suficiente pra saber que não havia necessidade de sentir ansiedade ou curiosidade: seria igual. Eu tinha a fantasia de tirar proveito do fato de que estaria entre pessoas desconhecidas pra tentar agir de outra forma - ninguém ali saberia quem e como eu era, então por que não ser outra pessoa? Mas eu descobri que a gente tem características tão inerentes que são quase uma segunda pele, e é impossível livrar-se delas. Eu não consegui ser diferente e o que acontece? O igual. Aquela perede invisível entre mim e qualquer um com quem eu converse, ria ou beba. Um impedimento de aproximação, de fazer surgir qualquer amizade um pouco mais forte, que eu não sei de onde vem. Porque isso não é o que eu sou, por mais distante, sozinha e conformada que eu seja.
Algumas dessas pessoas às vezes aparecem nos meus sonhos, em situações e diálogos inusitados e em situações e diálogos que eu gostaria que fossem reais. Mas não são. Eu mesma não sou a mesma dos meus sonhos. E em algumas noites aleatórias da minha vida eu simplesmente não sei o que fazer com todas essas verdades. Eu poderia chegar pra todos eles e dizer: é verdade que eu sou pouco participativa, distante, que eu falo pouco e que na maioria das vezes eu também pouco me importo com quase tudo com o que vocês se importam muito, mas também é verdade que eu gosto de vocês. E seria verdade. Mas eu não vou. Porque é assim que eu sou. E em algumas noites aleatórias da minha vida eu simplesmente não sei o que fazer também com o que, como e quem eu sou.

16 de jul. de 2010

you don't got a show

Eu seria uma pessoa consideravelmente mais satisfeita se pudesse salvar em um pen drive tudo o que eu escrevo mentalmente antes de dormir e passar para o computador no dia seguinte. Porque as melhores coisas que eu sou capaz de pensar só vêm nessas horas, quando eu não sou capaz de mover um músculo sequer a fim de não esquecê-las. O máximo que eu posso fazer é repeti-las, mentalmente, de novo e de novo até dormir, na esperança de que não se percam. Poucas vezes funciona, e esses pequenos trechos vão para algum lugar do meu sono e dos meus sonhos que eu nunca volto a encontrar. Eu posso me lembrar das idéias e dos assuntos, mas nunca de cada frase, vírgulas e pontos, tal como eu havia montado antes de finalmente dormir. É frustrante.
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O que eu mais gosto na praia não é o mar, ou a areia, ou os sorvetes que eu não tomo. São as casinhas. Todas pequenininhas e simples e todas bonitinhas, transbordando conforto e aconchego. Com áreas pra redes ou cadeiras, para sentar e ficar ali, conversando no fim da tarde. Se me perguntassem agora o que eu gostaria para o futuro, constatando que eu escolhi a profissão errada, eu diria que, pelo menos por enquanto, gostaria de um trabalho qualquer, que rendesse um salário suficiente para pagar contas e comprar umas roupas e livros, alguém de quem eu gostasse e que gostasse de mim - um sentimento de que eu pudesse sentir a reciprocidade sempre que sentisse necessidade - e uma casinha assim, como as de praia, pequena e simples, bonitinha, transbordando conforto e aconchego. Pelo menos por enquanto.
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As gotinhas de água da chuva congeladas espalhadas pelos galhos sem folhas da árvore na frente da minha casa: mesmo em um dia como hoje, é lindo: parecem bolinhas brancas de natal em miniatura efeitando toda a copa. Eu boto o rosto para fora, e o ar gelado que entra pelo nariz quando eu respiro fundo refresca todo o meu corpo. O dia cinza fora de foco em que qualquer fotografia parece tirada em preto e branco, o frio, a chuva, a cerração, o céu branco, tão branco que dá para imaginar-se na cegueira do Saramago. Mesmo que eu nunca me sinta aquecida o suficiente e sinta raiva por isso, eu não consigo não achar lindo. Cada detalhe do inverno. Sublime em sua elegância. Coisas que verão algum jamais terá.

14 de jul. de 2010

achei que meu pai fosse deus

Tá frio demais nessa cidade, de um jeito de que eu não me lembrava mais, quando a pessoa não consegue não sentir frio nem dentro de casa, com um monte de roupas quentes, luvas, fogão à lenha e lareira - e ai de quem não colocar lenha e deixar apagar. Meu quarto e o computador são quase insuportáveis, porque o calor não chega aqui em cima, mas, se eu não escrevesse nada agora, não escreveria mais.

Tem várias histórias inusitadas, esse livro. Coisas que não acontecem com a gente, é de se pensar. Sonhos, sortes e azares que possivelmente eu nunca vou ter. Mesmo assim, 390 páginas depois, só consigo lembrar de duas na íntegra: Bailarina e Tristeza mediana. Eu transcreveria partes das duas aqui, se não fosse me dar muito trabalho, porque elas falam por si mesmas - muito melhor do que eu seria capaz de fazer.
Tristeza mediana é a última do livro, e eu tava nos últimos parágrafos quando o telefone tocou: um cara falando de uma promoção, porque dia dos pais, "é da casa do Ricardo?". Não entendi nada. Só disse que sim, aham, obrigada, boa tarde, tchau. Por que nos últimos parágrafos? Não poderia ter esperado cinco minutos, até eu terminar de ler? E por que eu atendi, afinal? Isso só comprova minha teoria: não tô afim de atender, não atendo; se for importante, ligam duas vezes.
Desde que eu comecei a ler o livro, eu me perguntava sobre que história eu contaria, se fosse mandar uma. Até agora eu não sei. Então fiquei contente com essa última, apesar de ter sido indignamente interrompida. Ameni Rozsa, o nome dela. E ela fala de um assunto que eu domino bem, embora sempre desaprenda.

Uma vez mais, comecei a pensar no tempo sozinha como algo a gastar ou jogar fora, em vez de algo ao longo de cuja extensão eu pudesse me espreguiçar. [...] Não tenho golpes de sorte súbita ou tragédias incríveis. Tenho apenas uma tristeza mediana.


*

Dois já foram. Mas tem mais.

9 de jul. de 2010

here comes a feeling you thought you'd forgotten
chairs to sit and sidewalks to walk on

7 de jul. de 2010

curto.

E eu podia sentir muita raiva de mim por isso, se não fosse tanta perda de tempo quanto é se preocupar.
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Agora, nas férias, que eu não vejo mais ninguém, eu corto o cabelo. Curto. Desde o ano passado eu vinha em um processo - meio consciente, meio inconsciente - de encurtar meu cabelo e, a cada vez que eu cortava, diminuía um pouco mais que da última vez. E foi o que eu fiz  hoje, de novo, deixando ele acima dos ombros - ou exatamente sobre os ombros. A verdade é que eu sempre tive medo de mim de cabelos curtos, mas mesmo assim nunca consegui descartar a idéia. Curti. E eles sempre vão crescer de novo, afinal.
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Eu não sei o que qualquer livraria tem que, uns minutos depois de entrar, consegue fazer eu me sentir tão à vontade. Acho que é meio pelo ambiente, que eu sempre tive - ainda tenho - a vontade de reproduzir em casa, ainda que diminuído. Umas prateleiras ou estantes cheias com meus livros, revistas, eventuais cds e coisas, tralhinhas pequenas de que eu gosto. E não pra ser exibido a quem ainda mais eventualmente me visitar; por pura satisfação estética, mesmo. Pelo mesmo motivo por que eu quero um pufe: curto.

3 de jul. de 2010

uma delícia

A idéia de passar uma semana toda em casa me dá uma sensação boa. De finalmente tranqüilidade. E tempo livre de verdade. Porque, sim, eu tinha todas as tardes livres em Porto Alegre, mas não é a mesma coisa. Aquela cidade me tranca, às vezes. Tanto que eu passei um semestre inteiro com tempo de sobra e não fui capaz de terminar um livro sequer. Agora comprei mais três, só de teimosa. E já tô quase na metade do primeiro. Minha casa me convida a ler. Meu apartamento não. Coisas da vida.
E voltar a ler foi quase como voltar no tempo. Porque é um prazer. É uma coisa que eu curto tanto, tanto, mas que não consegui fazer esse tempo todo. Não por falta de tempo ou vontade, como eu já disse, mas, sei lá; o fato é que eu não lia e ponto. E, enfim. É outra sensação boa. Estar de volta ao lugar onde eu mais gosto de estar, na maioria das vezes: nas histórias e na imaginação e na vida de outras pessoas.
E reencontrei uma pasta cheia de músicas que eu não ouvi. Ainda. Prato cheio pra quem precisa reformular o ipod.
Uma delícia, isso. Férias, livros não lidos e músicas não ouvidas.
Duvidar até me presto a terminar a história que eu comecei no outro blog.