21 de abr. de 2011

vende-se

E aí me contaram que vão vender a casa. Minha referência de lar de uma vida inteira com os dias - meses, enfim - contados. Tudo bem, porque minha referência de lar na verdade são meus pais, não importando muito onde, mas eu já tinha esquecido quando cheguei ontem perto da uma e meia da manhã e vi a placa de 'imobiliária tal vende' na grade. Eu tava com tanto sono que nem olhei, e não voltei ali hoje também. Depois vou poder escrever sobre a experiência de não ter mais o lugar de onde vêm, sei lá, oitenta por cento das minhas lembranças. Mais estranho ainda vai ser eventualmente passar por aqui depois que ela já tiver sido vendida - e tiver virado uma casa de veraneio, daquelas vazias e fechadas o ano inteiro. Eu espero sinceramente que ela vá pra uma família com crianças que possam usufruir o terreno e tudo aqui por perto como eu fiz durante a minha infância e até hoje, em alguns aspectos. Que a menina fique com o meu quarto e suba no telhado escondida de vez em quando e fique olhando pro Continental e pra cerração e goste de brincar no meio do mato dos terrenos vazios que ainda sobram e de sentar em baixo do chorão e de entrar nos sótãozinhos cheios de poeira do meu quarto fazendo de conta que eles são esconderijos secretos ou sedes de um clube imaginário. Porque é assim que é. É assim que foi.
Às vezes eu queria experimentar uma vida diferente. Em que alguém cantasse, sei lá, something, dos beatles, sem nenhum motivo aparente. Em que as coisas tivessem desfecho. Em que as coisas fossem só diferentes.

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