29 de jun. de 2011
18 de jun. de 2011
tangled up in blue
Às vezes eu esqueço que eu tenho um rádio. E que eu tenho uma tomada na sala onde eu posso ligá-lo. E que eu posso ouvir cds nele com um som muito melhor do que nisso aqui.
Botei o volume 2 das bootleg series do Bob Dylan, que provavelmente são as melhores 20 músicas dele, juntas, que eu tenho por aqui. Os outros dois também são ótimos, mas esse é especial.
Fiquei ouvindo e bebendo sozinha. E quase dançando. E eu não sei dizer o que prevalece. Se é completamente deprimente ou se é simplesmente a melhor coisa.
Mas nessas horas eu consigo não me achar idiota por coisas que eu digo e que eu faço. Como se houvesse muito mais vida além de meia dúzia de frases que se diz. Há. There's nothing here to live or die for. E não except you. Só isso. Não tem nada na vida pelo que viver ou morrer. Só ela. Que às vezes não basta, mas às vezes basta. Não que a gente esqueça. Não que não fique indo e voltando o tempo todo no decorrer dos dias. Não que eu não queira pegar as rédeas e tocar tudo por minha conta. Eu só não posso. E enquanto isso eu sempre vou ter meu rádio e as bootleg series pra esquecer.
Como se ninguém no mundo precisasse acordar e levantar amanhã. Eu tenho a fantasia de ver Porto Alegre parada e vazia. Como Arroio Teixeira em maio. E passear não pela cidade inteira, mas pelos lugares por que eu sempre passo - mas vazios. Só os sons naturais. Que deixasse de existir a vida. Por um dia. Só eu. E ver essa cidade como ela é, mas não é. Vazia e parada. Em um dia de sol. E esquecer, mas pensar em tudo quanto for possível.
Sextas vazias têm lá uma coisa boa.
Botei o volume 2 das bootleg series do Bob Dylan, que provavelmente são as melhores 20 músicas dele, juntas, que eu tenho por aqui. Os outros dois também são ótimos, mas esse é especial.
Fiquei ouvindo e bebendo sozinha. E quase dançando. E eu não sei dizer o que prevalece. Se é completamente deprimente ou se é simplesmente a melhor coisa.
Mas nessas horas eu consigo não me achar idiota por coisas que eu digo e que eu faço. Como se houvesse muito mais vida além de meia dúzia de frases que se diz. Há. There's nothing here to live or die for. E não except you. Só isso. Não tem nada na vida pelo que viver ou morrer. Só ela. Que às vezes não basta, mas às vezes basta. Não que a gente esqueça. Não que não fique indo e voltando o tempo todo no decorrer dos dias. Não que eu não queira pegar as rédeas e tocar tudo por minha conta. Eu só não posso. E enquanto isso eu sempre vou ter meu rádio e as bootleg series pra esquecer.
Como se ninguém no mundo precisasse acordar e levantar amanhã. Eu tenho a fantasia de ver Porto Alegre parada e vazia. Como Arroio Teixeira em maio. E passear não pela cidade inteira, mas pelos lugares por que eu sempre passo - mas vazios. Só os sons naturais. Que deixasse de existir a vida. Por um dia. Só eu. E ver essa cidade como ela é, mas não é. Vazia e parada. Em um dia de sol. E esquecer, mas pensar em tudo quanto for possível.
Sextas vazias têm lá uma coisa boa.
13 de jun. de 2011
pa papa pa pa
"Na hora de bamo já se fumo!"
Ele costumava dizer, alegre, antes de pegar o carro. Às vezes ao levantar da poltrona. A seqüência era invariavelmente a mesma. Sentava no banco do motorista puxando as pernas das calças um pouco para cima. Olhava-se no retrovisor e penteava os cabelos para trás com o pente que carregava sempre no bolso das camisas. Nunca tinha um fio fora do lugar. Botava os óculos, ligava o rádio, aquelas músicas de vô, e nós saíamos. Ele tinha pelo carro um zelo que eu jamais vi em outra pessoa. Não tinha pressa. Dirigia com calma. Sabia que não havia necessidade de correr, onde quer que se tivesse de chegar, ele chegaria. E assim era quando me buscava ou levava em casa. E tantas outras vezes quando me levou ao dentista ou me buscou nas aulas de inglês. Quando me buscava no colégio, quando eu ainda era criança, ele ficava parado ao lado do portão. A chave pendurada na calça. As mãos nos bolsos ou os braços cruzados. De pé. Sempre alto, mais alto. Meu vô foi o único homem com aparência e postura frágeis ao mesmo tempo que fortes. Não sei dizer se ele era forte na fragilidade ou frágil na força. Penso que os dois. Acordava cedo todos os dias, mesmo no inverno. Tratava e soltava as vacas. E no fim do dia as trazia de volta. Cuidava de todo o terreno. Lembro-me dele tamborilando os dedos no braço da poltrona que era a dele. O som do bater dos dedos sobre o couro. O som do esfregar dos dedos uns nos outros enquanto subiam e desciam tamborilando a poltrona. Como se fosse ontem. A pele lisinha e gelada de velho que eu esticava para cima, brincado e querendo que a minha fizesse a mesma coisa. Ele forrava o carrinho de mão com cobertores e passeava comigo nele no pátio. Ficava ao lado quando eu andava na Sucata, a égua preta que foi a única por lá. Ele cochilava vendo as novelas do fim da tarde. E a poltrona hoje mudou de lugar. Mas é como se ele ainda estivesse lá. Como se eu fosse passar pela cozinha, entrar na sala e vê-lo lá, tamborilando os dedos. Quando pega na minha mão enquanto eu durmo e me diz pra não chorar. É como se ele ainda estivesse lá, esperando a gente chegar pro churrasco domingo. Tamborilando os dedos na poltrona.
_________
Do clube.
Ele costumava dizer, alegre, antes de pegar o carro. Às vezes ao levantar da poltrona. A seqüência era invariavelmente a mesma. Sentava no banco do motorista puxando as pernas das calças um pouco para cima. Olhava-se no retrovisor e penteava os cabelos para trás com o pente que carregava sempre no bolso das camisas. Nunca tinha um fio fora do lugar. Botava os óculos, ligava o rádio, aquelas músicas de vô, e nós saíamos. Ele tinha pelo carro um zelo que eu jamais vi em outra pessoa. Não tinha pressa. Dirigia com calma. Sabia que não havia necessidade de correr, onde quer que se tivesse de chegar, ele chegaria. E assim era quando me buscava ou levava em casa. E tantas outras vezes quando me levou ao dentista ou me buscou nas aulas de inglês. Quando me buscava no colégio, quando eu ainda era criança, ele ficava parado ao lado do portão. A chave pendurada na calça. As mãos nos bolsos ou os braços cruzados. De pé. Sempre alto, mais alto. Meu vô foi o único homem com aparência e postura frágeis ao mesmo tempo que fortes. Não sei dizer se ele era forte na fragilidade ou frágil na força. Penso que os dois. Acordava cedo todos os dias, mesmo no inverno. Tratava e soltava as vacas. E no fim do dia as trazia de volta. Cuidava de todo o terreno. Lembro-me dele tamborilando os dedos no braço da poltrona que era a dele. O som do bater dos dedos sobre o couro. O som do esfregar dos dedos uns nos outros enquanto subiam e desciam tamborilando a poltrona. Como se fosse ontem. A pele lisinha e gelada de velho que eu esticava para cima, brincado e querendo que a minha fizesse a mesma coisa. Ele forrava o carrinho de mão com cobertores e passeava comigo nele no pátio. Ficava ao lado quando eu andava na Sucata, a égua preta que foi a única por lá. Ele cochilava vendo as novelas do fim da tarde. E a poltrona hoje mudou de lugar. Mas é como se ele ainda estivesse lá. Como se eu fosse passar pela cozinha, entrar na sala e vê-lo lá, tamborilando os dedos. Quando pega na minha mão enquanto eu durmo e me diz pra não chorar. É como se ele ainda estivesse lá, esperando a gente chegar pro churrasco domingo. Tamborilando os dedos na poltrona.
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Do clube.
2 de jun. de 2011
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