Não me lembro de muita gente falando do Aaron Swartz antes de 11 janeiro, quando ele foi encontrado enforcado no apartamento em Nova York. Ou, anos mais cedo, do Yoñlu, antes de ele se matar no banheiro de casa. Ou de outros tantos além deles. Mas de 12 de janeiro pra cá vêm de todos os lados os textos que falam sobre Aaron Swartz, de veículos reconhecidos ou independentes, de profissionais conhecidos ou de pessoas 'anônimas' no facebook que compartilham posts incessantemente. Na maioria dos textos que li, eles falam de "possível suicídio" e "provável suicídio", falam de "encerrar a própria vida" e "deixar este mundo". Entre os autores desses textos, poucos foram capazes de afirmar o suicídio. Sim, ele se matou. Mas são jornalistas, não podem afirmar sem provas. Mas ele se matou. E afora todas as questões envolvendo depressão, escolha pessoal, problemas judiciais e a injustiça de um sistema que caça e pune quem atua concretamente em prol da liberdade e do conhecimento, todos esses textos parecem dar o mesmo recado: você gênio da internet ou da música, você de sensibilidade ou inteligência extremas, você qualquer pessoa que sofre: você precisa morrer ou você precisa se matar para ser reconhecido. Mais do que isso: para ter reconhecida a dor que você carregou durante as décadas por que conseguiu viver. Como se estar vivo fosse um atestado de que a dor não é tão grande. Se você realmente sofresse, você se mataria. Todas as pessoas espalhadas pelo mundo para quem esse mesmo mundo dói tanto quanto doía para Aaron e Yoñlu e que por algum motivo não querem - ou simplesmente não conseguem - cometer suicídio. Elas não existem. Incógnitas entre os demais, porque por algum motivo não querem - ou simplesmente não conseguem - falar. Nós falamos com elas, passamos por elas na rua, não é nem difícil que convivamos com elas. Sem saber. A dor do mundo, a dor de viver, nunca vai ser verdadeiramente percebida por alguém que não tem a menor ideia do que é senti-la. Não importa quantos textos sejam escritos. A dor de quem sofre sem ser diagnosticado, que acaba sendo vista como uma fase, aquele momento ruim que vai passar. Não é tão sério assim. Se fosse, existiria um psicanalista, um antidepressivo ou uma corda no pescoço. Essa dor, que se manifesta com mais ou menos intensidade, com mais ou menos frequência, dependendo da pessoa e dependendo da vida dela, é invisível aos olhos do mundo. E se o mundo, a vida e as pessoas fossem justos, alguém como o Aaron não seria ameaçado com 35 anos de cadeia. Se o mundo fosse justo, as pessoas, todas elas, todos nós seríamos considerados pessoas e tratados como tal. Talvez, só talvez, se o mundo fosse só um pouco melhor e mais justo, nem Aaron nem Yoñlu nem tantos outros além deles precisariam sequer pensar em suicídio.
22 de jan. de 2013
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