Não é que eu não gostasse da escola, quando eu era bem pequena, hoje eu vejo que eu só não me sentia tão bem lá naqueles tempos. Eu era uma criança inocente, pura mesmo, sem qualquer tipo de maldade. E tímida. Eu respeitava meus colegas e todas as outras pessoas e só esperava isso de volta também: respeito. Às vezes eu tinha, às vezes não.
Mas eu esperava o ano inteiro pelo Natal e pelas férias, quando meus tios e meus primos iam pra Canela também, na casa dos meus avós. Eu botava minhas coisas em uma malinha e ia pra lá também, pra poder brincar com eles. Todos os dias o dia inteiro enquanto eles estivessem lá. Ainda hoje eu acho o pátio da casa da minha vó enorme: quando nós éramos pequenos, era ainda maior. Nós brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, elefante colorido, e tinham os cachorros, a égua do meu vô, a rede na varanda, o balanço da árvore. E se chovia tinham os quebra-cabeças, os jogos de memória, baralho, os filmes e desenhos e as revistas que nós pintávamos com um monte de canetas coloridas.
Não era de praia que eu gostava no verão, era disso.
Mesmo durante o resto do ano, eu passava todos os finais de semana lá, na casa dos meus avós. Ia sexta, depois do colégio, e só voltava segunda, antes do colégio. Eu poderia citar aqui outro monte de coisas que eu fazia lá, mas a única coisa que importa é que a minha vó, nessa época, era tão ou mais presente e importante que os meus pais.
Eu tenho dificuldade de identificar, hoje, o momento exato da minha vida em que eu parei de passar os finais de semana inteiros lá. Eu cresci e me afastei. Meu vô morreu. E hoje ela já não é a mais a mesma, e eu, aqui em Porto Alegre, tenho tido cada vez menos contato. Mas eu não esqueci. Eu nunca esqueceria e nem poderia. Sequer teria como. E meu irmão e meu pai me acusam de não me importar. Muita gente me acusa disso. Gente que nem me conhece - literalmente. E eu tenho plena consciência de que o desfecho dessa história vai ser o mesmo da do meu vô: eu não vou dizer, enquanto ela ainda tá aqui, o quanto ela significa. Porque eu não consigo. É mesmo demais pra mim.
Eu fico imaginando e não consigo assimilar como uma pessoa só pode ter tanto amor dentro de si por tantas outras pessoas. Pelo marido que já foi, pelos filhos, pelos netos e até pelas noras. Por mim.
Eu tenho dúvidas quanto ao meu merecimento de todo esse amor e de todo esse zelo. Porque eu não fiz nada mais pra isso além de simplesmente nascer. E nem fui eu que fiz isso.
Mas eu me importo. Eu amo. E às vezes tanto que fica difícil agüentar.
24 de mai. de 2010
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