13 de abr. de 2010

Dizem que só quando nos tornamos pais é que aprendemos a ser filhos e só quando nos tornamos avós aprendemos a ser pais. E o que sobre ser neto?

Quando se cresce com os avós por perto, tem-se a falsa ilusão de que eles são eternos, de que vão estar sempre ali, tomando chimarrão. O dia de uma possível morte parece muito mais distante do que é de fato. Meu avô podia ter muitos dos defeitos comuns à maioria dos velhos, mas era aquele que me levava aonde fosse preciso, que andava a cavalo comigo, que dizia as coisas simples e sábias que os velhos dizem, com aquela entonação característica que eu nunca mais vou esquecer. Lembro de como ele tamborilava os dedos no braço da poltrona enquanto assistia à televisão, do som que faziam o deslizar de um dedo depois do outro e as batidas deles no couro da poltrona. Do ritual antes de dirigir: ligar o rádio, ajustar o retrovisor, pentear o cabelo, guardar o pente no bolso da camisa. De um monte de detalhes assim. Então ele morreu, e aquilo tudo pareceu natural. Na verdade, eu sequer me dei conta disso na época. Eu não disse nada. Eu não vi nada. Eu não senti nada. Eu só fui descobrir o quanto meu avô significava um ano depois de ter ido ao velório e ao enterro.

"Não chora."

*

É antigo já, mas eu não podia abandonar.
Acho triste a gente passar tão pouco tempo com as pessoas que mais sabem da vida. Eu tinha 15 anos recém completados quando ele morreu. E o que eu era com 15 anos? Eu queria conversar com meu vô hoje. Nem que fosse sonhando. E falar da vida num lugar tranqüilo.

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