6 de abr. de 2010

signos

Tomei um leve banho de chuva de manhã, porque em Porto Alegre só chove quando eu digo pra mim mesma que não, hoje não vai chover. Tudo pra assistir a uma aula que eu sou sincera em dizer que não entendo, não faz o menor sentido pra mim. Mentira. Faz. Mas é o menor possível. Signos e objetos e imagens e representações e etc. As pessoas devem curtir. Porque é legal. Mas eu não tenho sensibilidade pra ficar teorizando, imaginando e discutindo uma coisa que pra mim é o que é e era isso.

Era uma sensação esquisita, enquanto eu voltava pra casa. Que eu não gostava nem desgostava. Era só uma sensação vazia. De olhar pra minha vida, pras pessoas que fazem parte dela, pras coisas que eu tenho que fazer, pra tudo que é hoje e pra o que quer que seja daqui a dez anos e não ter reação nenhuma. Nada além de "ah". Só uma sensação vazia.

Depois tranquei três vezes na porta giratória da Caixa. Porque eu tinha uma arma na bolsa e pretendia assaltar a agência. Não rolou. :~

*

Eu li ou vi qualquer coisa na tv sobre uma família dona de um restaurante em Trancoso. E deduzi que, se eu já sou feliz, na medida do possível e do meu jeito meio torto, com a vida que eu tenho aqui, eu seria uma pessoa plena no lugar dessa família. Não sendo dona de um restaurante - até porque não seria um restaurante, seria um pretenso restaurante que em seguida faliria -, mas, sei lá, de uma pousada. Conhecendo gente o ano inteiro em uma praia linda e ganhando dinheiro com e para isso. Será que sequer existe a chance de não ser feliz assim?

*

Eu fico, às vezes exaustivamente, imaginando as coisas. Antes de elas acontecerem.
Eu fiquei imaginando como seria a semana em Porto Seguro antes de a gente viajar. E fiquei imaginando como seria o Anglo antes de as aulas começarem. E como seria morar sozinha. E como seria a minha matrícula na Fabico, e depois como seria o trote, e depois como seriam a rotina e as aulas.
E é sempre pior ou em algumas felizes vezes melhor ou simplesmente diferente do que o que eu tinha imaginado. Nunca como eu tinha imaginado. Até há muito pouco tempo.
Eu me sentia boba, ano passado, por querer certas coisas. Mas mesmo assim eu imaginava como seria. Como eu gostaria. De companhia pras coisas mais insignificantes. De ir ao mercado ou à rodoviária a só conversar. De andar por aí a beber ou a fazer nada em casa ou a ouvir música ou o que fosse. Qualquer coisa dessas, bobas, completamente cotidianas.
Mas aconteceu.
Exatamente como eu imaginava.
Exatamente como eu imaginava e depois me sentia idiota por querer coisas que não eram possíveis.
E, sim, grande coisa. Mas é bom. Assim como também é bom conseguir imaginar certo, de vez em quando, mesmo que o certo seja mais obra do acaso do que da minha experiência em 'imaginar certo'. Considerando que seja possível imaginar certo e a imaginação coincidir com a realidade.

Eu riria se alguém me contasse de março de 2010 enquanto eu ainda estivesse em março de 2009. Eu riria e não acreditaria.
Hoje eu rio de mim em março de 2009*. Achando que aquilo era bom. Sem saber o quão melhor podia ser.

*

Tenho todas as tardes à exceção de segunda oficialmente livres agora. O que significa luta diária: ler x dormir. Quero ver eu conseguir optar pelo primeiro. Quero ver eu conseguir optar pelo primeiro e não desistir no meio, derrubando os polígrafos, ajeitando a cabeça no travesseiro e puxando o cobertor e tirando os óculos e esquecendo da vida. Haja café. E a vontade que eu vou tirar ainda não sei de onde.



*Não que março de 2009 tenha sido ruim. Pelo contrário. Mas basta ter algo à altura com que se comparar pra qualquer coisa diminuir drasticamente de tamanho. E é triste, isso, mas.

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