30 de dez. de 2010

you know I'm
shallow

vetores

Qual a motivação das pessoas que escolhem manter os maus hábitos e daquelas que escolhem manter os bons? Porque ambas encontram razões, em algum lugar, para cultivar seus respectivos hábitos. Praticar exercícios, fumar, ter uma alimentação saudável, viver de congelados. A força, o peso dos motivos, teoricamente, tem de ser o mesmo, uma vez que, se não fosse, um dos grupos não existiria, já que seria mais fácil ou mais simples migrar para o outro. Como vetores na física. Mesma intensidade, mesma direção, mas sentidos opostos. Mas, se a força é a mesma, se a relação custo-benefício é a mesma, qual a diferença ficar de um lado ou de outro?
Eu não faço idéia. Se um dia eu descobrir, provavelmente vou mudar de lado.
Mas o caso é que os maus hábitos não necessariamente precisam estar relacionados à saúde física de uma pessoa. E, sendo assim, talvez se torne mais difícil controlá-los, mas ainda é uma questão de escolha. Então, quem escolhe manter uma revisitação constante ao que há tempos já perdeu sentido e razão de ser? Os otários, os infelizes? Na verdade, a pergunta não é quem, mas por quê.
E eu também não faço idéia. Se um dia eu descobrir essa também, mudo de lado.
A minha conclusão é a de que, superficialmente, não existem pessoas fisicamente saudáveis com problemas de origem emocional ou o contrário. Quem falha com a cabeça, em algum momento falha com o corpo. Em compensação, pra mim, tá pra nascer uma pessoa realmente saudável que se mantenha infeliz por muito tempo.

26 de dez. de 2010

cinco minutos guardados

É difícil descrever a melancolia na cena silenciosa de alguém que sai de casa pra fumar um cigarro escorado no muro ou na parede. Não mora sozinho, ou não mora com outros fumantes, ou mora sozinho e fuma, sim, mas não quer o cheiro impregnando a sala. Então sai. Uma desculpa. E fuma ali na rua, olhando pra rua e olhando pro nada. Talvez pensando que seria melhor fumar acompanhado. Olhando pra rua, olhando pro nada, mas com uma alma do lado na mesma situação, com quem falar de amenidades. Ou não. Ou sai, querendo escapar do interior de casa, e fuma ali na rua apreciando toda a melancolia do ato, desde a porta encostada e o acender do cigarro até terminá-lo, mas se demorar um pouco mais ali, na rua, como se algo extraordinário pudesse acontecer nos segundos entre terminar um cigarro e decidir entrar de volta em casa porque não há mais o que fazer ali, na rua. A expressão é sempre a mesma. De cansaço da vida, de não tenho mais o que fazer então eu fumo, ajuda a passar o tempo. Mas não cansaço físico, ou mesmo estresse, uma expressão de cansaço vazio, de tédio vazio. A pessoa traga, olha a fumaça fazendo voltas com o vento, solta, pensando no resto do dia. Ou no próximo, ou na próxima semana. Cinco minutos reservados. Pra pensar um pouco em tudo. Ou pra não pensar em nada. Até o cigarro acabar. Até o próximo.

22 de dez. de 2010

don't take a picture

odisséia:  1 Viagem cheia de aventuras extraordinárias, em geral dramáticas. 2 Série de acontecimentos anormais e variados.

Segue a minha.

Depois minha mãe pergunta por que eu saio tão pouco de casa aqui.

Dormi fora ontem e não levei a chave, porque eu voltaria hoje, por volta das duas da tarde e, a essa hora, por convenção, sempre tem gente em casa. Não tinha. Toquei a campainha/interfone, liguei, nada. E eu tava com a única sapatilha que eu não uso pra caminhar, ou pelo menos não trajetos longos, porque é a que machuca, sempre tem uma. Como a idéia de andar com elas, então, era última hipótese que eu cogitava, parti pras outras opções que eu tinha. Mãe: não atendeu. Pai: não, não tenho chave, dei pro Gustavo outro dia e ele não devolveu. Gustavo: na recuperação ou sabe-se lá onde. Fui eu, então, mais a contragosto do que nunca, até a prefeitura, com meu pai também sem chave, atrás da minha mãe e de uma chave. E aí voltei. Sem condições de andar como uma pessoa normal e constatando que Canela pode não chegar aos 40 de Porto Alegre, mas, pra andar por aí na parte mais quente do dia, consegue se emparelhar, porque não tem vento e muito menos prédios pra fazer sombra. E ainda fiquei sabendo que só não peguei ninguém em casa por questão de minutos - isso era óbvio, não é mesmo? E tudo isso sendo que ontem por várias vezes eu cheguei a me perguntar se deveria sair justamente com aquela sapatilha. Isso é pra eu aprender a dar mais atenção ao meu sexto sentido.

E a nunca sair de casa sem chave.

Aí fui cortar o cabelo. Dessa vez levando a chave. Ganhei carona, cortei, gostei, tudo lindo. Mas pouco antes da hora de eu sair caiu a pior chuva da vida em Canela. Mas tudo bem, porque eu voltaria de carro com a minha mãe. Ela tinha uns trinta metros de calçada à disposição bem à frente do salão pra parar o carro rapidinho e esperar eu correr até ele. É claro que ela resolveu parar o mais longe possível da porta e que esse lugar era também onde se encontrava o maior acúmulo de água. Pra que facilitar, né, que bobagem.

Cheguei em casa, entrei no meu quarto, apaguei as luzes, fechei os olhos e os ouvidos e só fiquei ali, no silêncio. E se eu tivesse uma tv com filmes na minha frente não teria mais saído.

Tem dias que chegam ao fim e tudo o que se pensa é que seria melhor não ter saído da cama de manhã. Assim tem sido minha semana. Por mim não teria mais acordado desde domingo.

Mas cortei o cabelo.

21 de dez. de 2010

remédios

Penso seriamente em abandonar a internet e tudo relacionado a computador durante todo o período das férias. Por dois motivos básicos: eu quero ler o maior número de livros que eu conseguir - todos os que eu sei que não vou ler durante o ano - e porque o computador aqui é tipo eu: funciona melhor no outono/inverno. Verão visivelmente não é com ele. Ou com a gente.
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E, agora que passou, eu não sei se gosto da idéia de ter  vinte e não dez e alguma coisa. Nem dirigir eu dirijo. Quero dizer, pessoas que optaram por tirar carteira tarde deveriam ter o privilégio de não ver aumentar o número da idade. Não é à toa que, desde criança, se eu pudesse escolher um poder, eu digo que queria poder parar o tempo. No fim, é como se eu quisesse evitar minha própria independência, mesmo que ela ainda esteja muito, muito longe, tanto que eu não sou nem capaz de fazer uma comparação. Vou cortar o cabelo, bem curto de preferência, pra ver se ajuda.

18 de dez. de 2010

vinte

Acordei  às oito e pouco da manhã com o barulho de trem do Mundo a Vapor. Não levantei, óbvio; fiquei na cama lembrando de em quantos dias na vida eu já fiquei na cama ouvindo aquele barulhinho do apito antes de levantar. E às vezes, quando eu ouço em outro lugar ou em outro contexto, eu ainda demoro pra me tocar por que barulho de trem parece tão familiar pra mim. Vizinha desnaturada, eu.
Achei que fosse ser uma experiência meio dramática trocar a casa das dezenas na idade, mas não. Não se nota diferença. É sempre a mesma coisa, né, a gente sabe. O legal é que, à medida que se cresce, ganham-se menos presentes; eu pelo menos não peço mais - não nessas datas específicas. E aí, quando eles vêm, porque sempre vem alguma coisa, são realmente surpresa, como era pra ser quando a gente era criança, mas não era porque a gente pedia os presentes antes e na hora de abrir o pacote já sabia o que era.

10 de dez. de 2010

o cara: - oi, que que tu acha da minha amiga?
- muito bonita! :D
- ela tá tri a fim de ti! :D
- [(sor)risos] não rola..
- ué, por que não? ):
- eh.. eu sou hetero ainda. (:
- ah... entendo. :/ mas ele não, né?
- não, ele não.

A despedida da noite porto-alegrense por esse ano.

8 de dez. de 2010

O telefone toca pela primeira vez e eu quase enfarto.
Não sei se seremos felizes juntos.

revolução no fim do ano

Não deixa de ser uma ironia que depois de passar um semestre inteiro oscilando entre sofrer e ignorar agora a minha vida se ajeite, de um jeito que dá até pra chamar de boa - agora que falta menos de uma semana pra eu voltar pra casa. Vai ver eu tô me rendendo ao verão e nem sei. Comprando saias por aí. É.
A única coisa que eu sei é que eu não nasci pra ter futuro. Não sei planejar, não sei pensar, não sei me mexer.
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Mentira, não tô me rendendo ao verão. Adoro sol e andar de pés descalços e coisa, mas nunca calor.
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Revolução no apartamento: agora tenho telefone, televisão e internet de verdade. Depois de umas quatro horas assistindo a um japa instalar e mexer em tudo por aqui, passei o resto da tarde zapeando mil (trinta?) canais novos. Tô uma criança com brinquedo novo.
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Vi granizo em Porto Alegre e ouvi da boca de um professor que notas não querem dizer nada. Sou uma pessoa mais satisfeita.