26 de dez. de 2010

cinco minutos guardados

É difícil descrever a melancolia na cena silenciosa de alguém que sai de casa pra fumar um cigarro escorado no muro ou na parede. Não mora sozinho, ou não mora com outros fumantes, ou mora sozinho e fuma, sim, mas não quer o cheiro impregnando a sala. Então sai. Uma desculpa. E fuma ali na rua, olhando pra rua e olhando pro nada. Talvez pensando que seria melhor fumar acompanhado. Olhando pra rua, olhando pro nada, mas com uma alma do lado na mesma situação, com quem falar de amenidades. Ou não. Ou sai, querendo escapar do interior de casa, e fuma ali na rua apreciando toda a melancolia do ato, desde a porta encostada e o acender do cigarro até terminá-lo, mas se demorar um pouco mais ali, na rua, como se algo extraordinário pudesse acontecer nos segundos entre terminar um cigarro e decidir entrar de volta em casa porque não há mais o que fazer ali, na rua. A expressão é sempre a mesma. De cansaço da vida, de não tenho mais o que fazer então eu fumo, ajuda a passar o tempo. Mas não cansaço físico, ou mesmo estresse, uma expressão de cansaço vazio, de tédio vazio. A pessoa traga, olha a fumaça fazendo voltas com o vento, solta, pensando no resto do dia. Ou no próximo, ou na próxima semana. Cinco minutos reservados. Pra pensar um pouco em tudo. Ou pra não pensar em nada. Até o cigarro acabar. Até o próximo.

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