24 de fev. de 2012
anuviez
Meu atraso constante para as coisas que me tocam o coração em contraste com minha pontualidade impecável para aquelas só fazem afundar meu espírito ou o que resta dele. Essa palavra esquiva, que eu não sei qual é meu espírito. Canelense, colorado, caseiro? Inquieto, indeciso, inseguro? O que passa por cima de mim mesma e soterra minha vontade. De quê? Esvaziar a garrafa, esquecer para depois lembrar. Enquanto os dias seguem correndo e as surpresas chegam com cara de cansadas e hora marcada. O sentido de ficar esperando para ser encontrado ao mesmo tempo em que a covardia bem ao lado sorri serena o seu sorriso de vitória. Andar na rua, decorar pedras soltas e desenhos de calçadas em caminhos repetidos milimetricamente à exaustão. Verão não existe para inovar, verão é o esquecimento de tudo diante do mar ou no conforto da rede na varanda de casa. Essas casas de praia, com suas áreas repletas de redes e cadeiras e suas cozinhas acopladas à sala que só podem ser o ápice do aconchego de qualquer época. Nada pode ser mais bonito ou acolhedor que uma autêntica casa de praia. E até que cheguem as manhãs, tardes e noites de outono a capacidade de qualquer coisa descansa sob o calor, a preguiça e o desejo, enfim, de que os dias corram. Bonito seria lembrar para depois esquecer e então seguir sorrindo ao sabor das brisas da metrópole ou da serra. Sabor de satisfação, preenchendo o corpo fatigado de frustração. Pelo rigor da sorte ou culpa própria, sangue alemão abrasileirado que se desencontra em qualquer parte. Das mortes, a sobra dos silêncios e espaços vazios. Não há saída ao longo do tempo, de válvulas de escape esgotadas, pedindo também para escapar. Ao fugidio, ao efêmero, ao artificial e oco. Nas sombras das árvores do Bom Fim.
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