16 de ago. de 2014

Because it’s not just about drugs and alcohol. It’s about anything we, as human beings, use to avoid feeling the pain of our own existence. Acting out compulsively with sex, relationships, video games, TV, gambling, food, exercise or whatever else stems from the desire and need to escape the very real and deep-rooted sorrow in each one of us.
Only, what is this pain? Where does it come from?
The world can just seem so giant and overwhelming.
-Nic Sheff

Não é todo mundo - nem qualquer pessoa, nem qualquer escritor - que consegue. Entender - e escrever exatamente o que você pensa. O que você sente quando não há mais ninguém por perto. Poderia ser o seu caderno na gaveta, mas é o livro de alguém que você nunca viu.
Não sou alcoólatra, não sou viciada, nunca fui diagnosticada com nenhum transtorno de humor e bem ou mal sei como lidar com minhas crises. Mas o sentimento de insignificância e fraqueza diante do mundo, a vontade de ser outra pessoa, as fantasias, o sofrimento e a dor sem razões aparentes - tudo isso me acompanha desde que eu consigo me lembrar, desde que eu comecei a pensar, desde que eu comecei a sentir.
Whatever planet I came from, he came from, too.
Pior do que sentir é ignorar a dor, fingir que ela não existe.
Contando os dias pelo livro novo.

1 de mai. de 2014

the earth is warmer when you laugh

eu ainda sou capaz de derramar uma lágrima ouvindo lion's mane. ou bird stealing bread. e o que leva um casal curtindo um fim de semana na praia a ouvir o mais depressivo dos álbuns do iron and wine eu não sei. no fim, nós nunca fomos o tipo de casal de que eu imaginava que faria parte um dia. éramos nós, emocionais demais, instáveis demais, intensos demais. eu já parei de contar o tempo há anos e lembrar não me causa qualquer tristeza, mas o cd acabou amaldiçoado, e eu nunca havia abandonado uma dezena de músicas dessa forma. não importa muito quando ou onde eu resolvo ouvir. o som dos acordes me leva de volta na mesma hora, e lá estamos nós, caminhando pelas ruas de uma praia vazia e esquecida no sol de maio. o que foi que o tempo fez com a gente? eu já não tenho certeza a respeito das coisas que eu de fato disse ou que só imagino ter dito. eu disse que queria te conhecer agora? eu disse que sou outra? eu disse que te amei? mas basta trocar a banda. como se tudo se resumisse a um mecanismo qualquer que duas músicas são capazes de acionar. liga e desliga. amor e desamor.

18 de fev. de 2014

johnny



Johnny, de Johnny Bravo, porque os nomes dos meus cachorros sempre vieram de personagens de desenhos animados. Bebê, lindo, dormia enrolado em abóboras quando filhote. O último, e para sempre aqui. 

17 de fev. de 2014

não são dias difíceis pelos sintomas em si, os de tpm. pelo menos por aqui. sensibilidade, irritabilidade, estresse, choro fácil, o que quer que seja - tell me about it, tiramos de letra. o irritante e quase insuportável é a total consciência de que nada disso tem um motivo real. em outras palavras, você sabe que está irritada ou chorando por absolutamente razão nenhuma, mas mesmo assim não consegue evitar. é a incapacidade de controle em estado puro, e é isso o que torna a coisa toda tão estressante. no resto do mês, eu decido se quero chorar de raiva e amaldiçoar o mundo ou respirar fundo e ignorar; nessa semana, eu não decido nada. tudo isso pra dizer que o simples exercício de divagar e teorizar pode amenizar sintomas de pequenos males. e essa sou eu fazendo terapia caseira individual.

16 de jan. de 2014

these words are not the truth
but don't hold it against me
cause I know you're lying, too
Eu tinha 15 anos quando ouvi On Fire pela primeira vez. Nessa época, eu tinha um amigo virtual com quem gastei dezenas e talvez até centenas de horas em madrugadas insones no msn. Nós nunca nos conhecemos pessoalmente, e eu não tenho medo de dizer que devo a ele muito do que sou hoje. Mais: eu quase tenho certeza: eu não seria a mesma pessoa. Em uma dessas conversas, cujos assuntos iam de comidas pra se fazer em fins de semana frios ao show dos Strokes ou as fotos que usávamos no perfil, nós falamos sobre O Clube dos Corações Solitários. Um dos livros mais adolescentes possíveis e que eu li, surpresa, no auge da adolescência. Foi nesse livro, no setlist do show da banda do protagonista, que eu conheci a música que hoje eu tatuei. E é engraçado perceber - enxergar - como uma coisa puxa outra e aqui estamos e eis o que somos. Minha tatuagem, feita essa semana, começou há oito anos, com uma amizade que só existiu porque há oito anos nós tínhamos blogs e flogs. Percebo o quanto esse amigo, esse enviado, como ele mesmo se descreveu certa vez, fez diferença nesse processo e tento me responder: e se? E se nós não tivéssemos nos conhecido? E se eu tivesse feito escolhas diferentes das que eu fiz? E se? Eu vejo como cheguei até aqui, o quanto coisas que aconteceram há quase uma década foram tão fundamentais, e imagino, como talvez seja inevitável imaginar, se tudo - toda a nossa vida e quem conhecemos e os encontros que temos e as coisas que dão certo e errado - é de fato uma sucessão de puro acaso. Às vezes é bom pensar que não.



30 de out. de 2013

Existe uma voz, que eu me habituei a chamar de vida, que o tempo todo soa na minha cabeça. "O que é isso, criatura? O que você está fazendo? Nem pense em abrir esse livro. Muito menos em escrever. Tem um artigo de ética te esperando. E um projeto de tcc. E um tcc. E todos aqueles outros trabalhos completamente pointless mas que precisam ser feitos. E o trabalho, né. Você tem que trabalhar. Seria ótimo terminar esse café e deitar no sofá pra ler um livro em vez de levantar e sair, ainda mais hoje, na chuva, mas não dá. Você não pode fazer isso." Essa é a vida, e ela costuma ser bem impertinente. Um pé no saco, em termos mais claros. Mas é a vida à qual de alguma forma eu me submeti e que exige de mim obrigações diárias que quase sempre eu gostaria de não ter. Não que seja de todo ruim, pode ser até gratificante. Mas às vezes eu imagino o que aconteceria se eu parasse de ouvir essa voz. Se eu parasse de fazer o que precisa ser feito simplesmente porque precisa ser feito e começasse a fazer o que eu tenho vontade de fazer, aonde isso me levaria.

1 de out. de 2013

sobre escrever

Até poucos anos, eu pensava em escrever como algo recente. Não sei bem quando me dei conta de que, na verdade, é algo que eu sempre fiz. Desde os diários infantis, das historinhas para preencher as páginas do "caderno grande", não recomendado (vai entender) pras crianças das séries iniciais. Demorou pra eu acordar. O que é engraçado: algo presente de uma forma tão natural e cotidiana que demora a ser percebido, como essência, como necessidade.

*

É difícil descrever a relação. Ou o que eu espero disso. É difícil imaginar escrever um livro tanto quanto é difícil negar que eu imagine. É difícil, sobretudo, ver. E talvez seja isso mesmo: difícil.

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Tenho ouvido, com mais frequência do que poderia esperar, que esse é "o meu caminho". Como se a vida de uma pessoa se resumisse a um caminho. A um único caminho. Meu caminho é esse, logo deleta-se todo o resto. Eu gosto de ouvir, mas não sei até que ponto acredito ou não. Como essas pessoas me veem? O que elas veem? Com base no que elas chegam a essa conclusão? São perguntas sinceras, todas sem resposta.

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Tem períodos em que eu escrevo todos os dias e outros em que eu passo semanas ou meses sem escrever uma palavra. Anoto ideias, fragmentos e frases em cadernos espalhados - um na bolsa, outro na cabeceira, outro na mesa da sala - mas é diferente. Eu preciso sentar, não importa onde, e abrir o notebook, não importa a hora, só pra escrever. Poucas coisas são mais familiares que a caixa de texto do blogger e o layout tosco de fundo preto. E as palavras, bem ou mal, estão ali. And by morning it is a mess or a masterpiece. Um mundo à parte do próprio mundo. Em tantos momentos. De horas e dias e pensamentos estruturados em narrativas. Porque de outra forma a vida seria mais pobre e mais solitária.

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Eu escrevo a vida que eu quero. A vida que eu não vivo. Uma vida que é verdade porque é imaginada.

22 de mai. de 2013

essa foto mostra só um pedaço, um pedaço bem pequeno, do pátio da casa da minha vó, que agora é a casa do meu pai. à esquerda, onde a câmera limitada do celular não pegou, fica um dos pinheiros. também à esquerda, depois da cerca, tem uma lavoura, outra cerca e um terreno imenso onde ficam as vacas e os terneiros, eventualmente. quando criança, meus primos costumavam passar parte das férias de verão lá. eu ia junto. fazia minha própria mala, ainda que morasse na mesma cidade, atravessava canela e ia ficar com eles e meus avós. é difícil pensar em um lugar melhor e onde a gente pudesse se divertir mais do que uma casa com um pátio tão grande e tantos lugares pra brincar de esconde-esconde. meu vô não nos deixava ir além da lavoura, mas nós íamos mesmo assim. a gente gostava de correr e ver as fogueiras que meu vô fazia com as grimpas, naquele tempo ainda mais imensas do que hoje. na árvore grande no centro da foto ficava o nosso balanço, feito e pregado pelo vô. o tronco também servia de suporte pro alvo que a gente montava pra atirar com a espingarda velha dele. no inverno, eu e meu primo saíamos, devidamente agasalhados, cada um com uma sacolinha, pra ver quem trazia mais pinhões. a fumaça escapando da nossa chaminé e das chaminés de todas as casinhas ao redor e ao longe. não que a gente não tivesse um videogame na sala, mas nem mesmo nos dias de chuva ele chegava a ser usado. quando chovia, a gente tirava dos armários todos os jogos que cada um trazia de casa ou sujava as mangas das camisetas desenhando. minha vó fazia bolos, sobremesas e a melhor massa com galinha que eu já comi na vida - pra sempre. esse tempo não existe mais, como também o pátio e a casa dos meus avós já são outros. meus avós não estão mais lá. nem nós, nas férias. mas ainda hoje, mais de dez anos depois, eu não consigo pensar em um lugar melhor. ainda é lá que eu passo tantos domingos, ainda é lá que eu esqueço do resto do mundo e me deixo sorrir verdadeiramente. aconchego, é a palavra. o tipo de aconchego que só existe nas cidades pequenas, na casa dos avós.