Minha professora de literatura era doida - sério. Eu lembro que ficava com raiva dela, porque ela inventava coisas demais e dava aulas de menos. Uma exposição aqui, um trabalho maluco ali, texto sobre isso, texto sobre aquilo, fotos, música, atividades com as quais sei lá o que ela pretendia. Maluquice, mesmo.
Bom, no primeiro ano, isso parecia ótimo. A gente nunca tinha tido uma professora assim. Mas, depois de um certo tempo, acaba enjoando - enojando. E, a essa altura, eu já não fazia mais nada. Não escrevia, não lia e não falava com a coitada. Aproveitava os dias que tinham dois períodos de literatura para faltar aula.
O caso é que ela era cismada comigo e com uma amiga, em especial. Não nos deixava em paz por nada. Até botou textos nossos no site do colégio. Então, meses antes de sair do colégio, ela pediu para a turma os textos autobiográficos para uma exposição. E, no último dia de aula, em resposta aos textos e à exposição, ela entregou a cada aluno um pedaço de papel com um bilhete. Eis o meu, que eu encontrei semana passada no meio do meu caderno:
________________________________________ esse espaço, não sei como nomeá-lo. Acho que minhas aulas devem estar bem desinteressantes, não recebo mais tuas "escrituras". Não sei, talvez não as mereça? Recebi teu texto. Pois bem. Bom como sempre, mesmo como aqueles que, mudos, não chegaram pra mim. A mudez fala. E provoca outra fala, mas não silenciosa. Vácuo. A visão através do óculos, uma moldura perene de arte. Confronto. O bebê de roupinha verde. Óbvio? Não. Nem simples. Quem guarda seus bebês guarda pedaços de si. Eu acho, eu guardei minha boneca antiiiiga e lembro de um tempo que não lembro de verdade, mas invento. Lembrei. A Priscila: uma aluna que não mereceria nota, mesmo para os textos não escritos. Mereceria uma singela e opulenta coroa de louros: a escolhida.
E eu nem agradeci.
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