28 de jul. de 2010

shyness

Eu me lembro de quando eu era criança e tão tímida que sentia vergonha de levantar da minha classe enquanto os outros estivessem sentados, porque fazendo isso eu deixava existir a possibilidade de todo mundo olhar pra mim. Esse tempo quando eu tinha medo de falar com qualquer pessoa que não fosse meus amigos, meus pais ou meus avós. Quando eu achava que esse era o problema que gerava e viria a gerar todos e quaisquer outros que eu pudesse ter. Quando eu achava que, se fosse linda, resolveria esse problema e, por conseqüência, todos os outros que eu pudesse ter. Até hoje eu tenho dúvidas a respeito de até que ponto isso é verdade - até que ponto timidez pode arruinar a infância e a vida de uma pessoa e até que ponto beleza seria solução pra isso, se seria. Ou, pelo outro lado, até onde timidez é ruína? Porque que fique clara a minha preferência por timidez à extroversão, ao menos pra mim.
Hoje essa timidez, apesar de ainda existir, é drasticamente menor, mas, se me perguntassem qual o traço ou o elemento ou o que quer que fosse mais importante na formação do meu caráter e da minha personalidade, eu não precisaria pensar muito pra responder que foi - e é - a minha timidez, independentemente do tamanho dela. O fato de eu ser bicho do mato, mesmo.
Eu tive três turmas diferentes ao longo da minha vida de estudante: a do colégio, a do cursinho e agora a da faculdade, deixando de fora coisas menores. Mas o fato é que em todas foi a mesma coisa. No fundo eu sabia que me conhecia o suficiente pra saber que não havia necessidade de sentir ansiedade ou curiosidade: seria igual. Eu tinha a fantasia de tirar proveito do fato de que estaria entre pessoas desconhecidas pra tentar agir de outra forma - ninguém ali saberia quem e como eu era, então por que não ser outra pessoa? Mas eu descobri que a gente tem características tão inerentes que são quase uma segunda pele, e é impossível livrar-se delas. Eu não consegui ser diferente e o que acontece? O igual. Aquela perede invisível entre mim e qualquer um com quem eu converse, ria ou beba. Um impedimento de aproximação, de fazer surgir qualquer amizade um pouco mais forte, que eu não sei de onde vem. Porque isso não é o que eu sou, por mais distante, sozinha e conformada que eu seja.
Algumas dessas pessoas às vezes aparecem nos meus sonhos, em situações e diálogos inusitados e em situações e diálogos que eu gostaria que fossem reais. Mas não são. Eu mesma não sou a mesma dos meus sonhos. E em algumas noites aleatórias da minha vida eu simplesmente não sei o que fazer com todas essas verdades. Eu poderia chegar pra todos eles e dizer: é verdade que eu sou pouco participativa, distante, que eu falo pouco e que na maioria das vezes eu também pouco me importo com quase tudo com o que vocês se importam muito, mas também é verdade que eu gosto de vocês. E seria verdade. Mas eu não vou. Porque é assim que eu sou. E em algumas noites aleatórias da minha vida eu simplesmente não sei o que fazer também com o que, como e quem eu sou.

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