16 de jul. de 2010

you don't got a show

Eu seria uma pessoa consideravelmente mais satisfeita se pudesse salvar em um pen drive tudo o que eu escrevo mentalmente antes de dormir e passar para o computador no dia seguinte. Porque as melhores coisas que eu sou capaz de pensar só vêm nessas horas, quando eu não sou capaz de mover um músculo sequer a fim de não esquecê-las. O máximo que eu posso fazer é repeti-las, mentalmente, de novo e de novo até dormir, na esperança de que não se percam. Poucas vezes funciona, e esses pequenos trechos vão para algum lugar do meu sono e dos meus sonhos que eu nunca volto a encontrar. Eu posso me lembrar das idéias e dos assuntos, mas nunca de cada frase, vírgulas e pontos, tal como eu havia montado antes de finalmente dormir. É frustrante.
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O que eu mais gosto na praia não é o mar, ou a areia, ou os sorvetes que eu não tomo. São as casinhas. Todas pequenininhas e simples e todas bonitinhas, transbordando conforto e aconchego. Com áreas pra redes ou cadeiras, para sentar e ficar ali, conversando no fim da tarde. Se me perguntassem agora o que eu gostaria para o futuro, constatando que eu escolhi a profissão errada, eu diria que, pelo menos por enquanto, gostaria de um trabalho qualquer, que rendesse um salário suficiente para pagar contas e comprar umas roupas e livros, alguém de quem eu gostasse e que gostasse de mim - um sentimento de que eu pudesse sentir a reciprocidade sempre que sentisse necessidade - e uma casinha assim, como as de praia, pequena e simples, bonitinha, transbordando conforto e aconchego. Pelo menos por enquanto.
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As gotinhas de água da chuva congeladas espalhadas pelos galhos sem folhas da árvore na frente da minha casa: mesmo em um dia como hoje, é lindo: parecem bolinhas brancas de natal em miniatura efeitando toda a copa. Eu boto o rosto para fora, e o ar gelado que entra pelo nariz quando eu respiro fundo refresca todo o meu corpo. O dia cinza fora de foco em que qualquer fotografia parece tirada em preto e branco, o frio, a chuva, a cerração, o céu branco, tão branco que dá para imaginar-se na cegueira do Saramago. Mesmo que eu nunca me sinta aquecida o suficiente e sinta raiva por isso, eu não consigo não achar lindo. Cada detalhe do inverno. Sublime em sua elegância. Coisas que verão algum jamais terá.

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