Tá frio demais nessa cidade, de um jeito de que eu não me lembrava mais, quando a pessoa não consegue não sentir frio nem dentro de casa, com um monte de roupas quentes, luvas, fogão à lenha e lareira - e ai de quem não colocar lenha e deixar apagar. Meu quarto e o computador são quase insuportáveis, porque o calor não chega aqui em cima, mas, se eu não escrevesse nada agora, não escreveria mais.
Tem várias histórias inusitadas, esse livro. Coisas que não acontecem com a gente, é de se pensar. Sonhos, sortes e azares que possivelmente eu nunca vou ter. Mesmo assim, 390 páginas depois, só consigo lembrar de duas na íntegra: Bailarina e Tristeza mediana. Eu transcreveria partes das duas aqui, se não fosse me dar muito trabalho, porque elas falam por si mesmas - muito melhor do que eu seria capaz de fazer.
Tristeza mediana é a última do livro, e eu tava nos últimos parágrafos quando o telefone tocou: um cara falando de uma promoção, porque dia dos pais, "é da casa do Ricardo?". Não entendi nada. Só disse que sim, aham, obrigada, boa tarde, tchau. Por que nos últimos parágrafos? Não poderia ter esperado cinco minutos, até eu terminar de ler? E por que eu atendi, afinal? Isso só comprova minha teoria: não tô afim de atender, não atendo; se for importante, ligam duas vezes.
Desde que eu comecei a ler o livro, eu me perguntava sobre que história eu contaria, se fosse mandar uma. Até agora eu não sei. Então fiquei contente com essa última, apesar de ter sido indignamente interrompida. Ameni Rozsa, o nome dela. E ela fala de um assunto que eu domino bem, embora sempre desaprenda.
Uma vez mais, comecei a pensar no tempo sozinha como algo a gastar ou jogar fora, em vez de algo ao longo de cuja extensão eu pudesse me espreguiçar. [...] Não tenho golpes de sorte súbita ou tragédias incríveis. Tenho apenas uma tristeza mediana.
*
Dois já foram. Mas tem mais.
14 de jul. de 2010
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