Tava deitada no banco da rua, lá em casa, esperando meu pai pra vir pra praia com ele, quando uma hora olhei pra parede e vi uma aranha se balançando num fio de teia, mais ou menos um metro acima da minha cabeça. Cheguei a pensar em levantar, vai que ela cai, mas desisti, porque ela não descia, e afinal de contas se eu estava deitada, era porque queria ficar deitada, e não sentada e muito menos de pé. Fiquei ali olhando a aranha subindo, descendo e balançando pendurada no fio invisível de teia. O cara que inventou o rapel deve ter se inspirado nisso. Pouco depois ela começou a descer mais e, então, eu levantei, mesmo sabendo que não ia acontecer nada, por uma dessas reações que nos ensinam a ter desde criança. Fiz menção de pegar a vassoura do meu lado pra matar aranha, mas desisti. Sentei de novo, olhando pra cima. Ela ficou ainda um tempinho ali e depois subiu pro telhado. E eu fiquei pensando em qual teria sido, afinal, a minha vantagem se eu tivesse matado a coitada com vassoura quando tive chance. A certeza de saber que ela não entraria na minha casa? E daí. A probabilidade de uma aranha entrar em uma casa e picar alguém é menor do que a de ela entrar, ser vista e ser morta. Se desde o início eu não tivesse percebido a presença dela, nada teria sido diferente pra mim ou pra ela.
Tem tanta coisa assim na vida. As coisas que talvez se a gente só ignorasse e deixasse quieto, em lugar de ficar paranóico e 'tomar uma providência', não dariam em absolutamente nada, não mudariam nada na vida de ninguém, e seria melhor assim, pra todos os lados. Mas acho que nós raramente somos treinados a ignorar - nós somos incitados a agir, sempre.
Nessa hora minha mãe apareceu na janela: "Ué, tá fazendo o que aí?"
Não tô fazendo nada. Tô só pensando nas aranhas.
29 de jan. de 2011
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