22 de jan. de 2012
do borges
Se meus dias são mais monótonos, todos os pensamentos possíveis parecem passear pela minha cabeça antes de dormir. Lugares, situações, falas de pessoas, minhas vontades - que eu sei que estão bem aqui, mas me deixo incapaz de alcançá-las ou de encará-las por algum motivo -, referências. As minhas referências rasas e tão poucas. A vontade de ler todos os livros que o mundo tem a oferecer para mim, para alguém como eu, que é tão grande quanto a vontade de escrever tudo o que for possível, tudo o que eu conseguir. Mas eu não tenho a minha história. Não sonhei ainda com o meu Harry Potter, tampouco vislumbro coisa parecida. E enquanto isso, enquanto que por ora é também só o que há pela frente, eu escrevo contos que talvez meia dúzia de pessoas leiam. Talvez menos. E as coisas vão dançando assim na minha cabeça até o momento em que eu finalmente decido acender o abajur, botar os óculos, procurar papel e caneta, dormir em paz. As coisas vão dançando assim na minha cabeça enquanto eu leio e depois enquanto lembro o que li no meu primeiro Borges. O Borges oral. E mais do que ficar maravilhada com quase cada linha, eu me pergunto como foi possível a existência desse homem. Quem é esse homem capaz de falar de tantas coisas e tão distintas com tamanha propriedade? Citando matemáticos, filósofos, pensadores, poetas, escritores, toda sorte de homens que o mundo já pôde abrigar. O Jorge Luis Borges que me apareceu pela primeira vez em uma entrevista em que Fernando Henrique Cardoso citava um poema e fazia a recomendação da leitura. Há mais de dois anos. E desde então foi um dos nomes em suspenso, até ser encontrado e comprado casualmente, porque a livraria não tinha minha primeira opção hoje esquecida e eu não consigo sair de uma livraria sem um livro e não ter certeza de que alguma grande oportunidade foi perdida. Assim eu comprei o Borges, que veio para ser o terceiro livro da vida da minha vida. Ao acaso, como os outros os dois, se existir acaso. Já larguei antes da metade uma porrada de livros. E outros tantos, incontáveis, nunca li - mas não me sinto mal por eles. Me sinto mal pelos livros que eu larguei muito mais do que por aqueles que eu sequer me dei o trabalho de adquirir. Os que eu larguei continuam nas minhas prateleiras, mas é difícil dizer se algum dia vou tornar a abri-los . Os outros têm ainda todas as chances. O Borges apresentou as conferências do livro em universidades, falando de tempo, livros, sonhos e pesadelos, contos policiais, poesia, budismo, a cegueira. E aqui eu escuto sobre lides, sobre estrutura de notícias, sobre cases publicitários, sobre as cores na televisão. Quero me negar a acreditar que não exista nada melhor do que isso, nada que realmente me interesse e satisfaça intelectualmente, nada que dependa de uma quantidade de dinheiro de que eu não disponha. Mas, se isso for verdade, eu só consigo pensar que encontrei alguém para me fazer companhia com boas palavras.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
tsc, tsc. esses autores mais ou menos!
e não entendi o preconceito contra o tio eça :~
até cair a ficha do mais ou menos...
enão é preconceito, mas ele não me atrai :~
(e eu ia fazer um comentário sobre o meu comentário, mas não achei apropriado, hahah)
como pode alguém dormir em paz sem escrever?
depois de escrever (:
Postar um comentário