30 de jan. de 2010

my girl

Eu me lembro até hoje do meu primeiro dia de aula no colégio. Pouco antes de sair de casa, com meu abrigo da Lilica e minha mochila rosa - eu já tive coisas rosas! -, eu estava pensando na possibilidade de me perder lá dentro. O Marista, como todas as coisas quando a gente é pequeno, parecia enorme. Que decepção teria sido se eu tivesse descoberto, na época, que ele não tem nem a metade do tamanho dos de Porto Alegre.
Eu não me perdi lá dentro, é claro. Seria mais fácil isso acontecer na sala de aula, com tantas pessoas diferentes no mesmo espaço. Não é difícil se perder na diversidade.
Tinha o Kauê, um loirinho com quem eu fiz um trabalho em duplas uma vez e que me emprestou lápis de cor. (Não tenho idéia de que fim o levou, mas eu me lembro dele até hoje só por isso.) Tinha o Rossi, que já sabia ler. Tinha um tal de Fernando. Tinha todo mundo da Toca.
E tinha o Moisés - na época com mais orelhas de abano do que eu.
Mais tarde, na quarta série, ele sentava atrás de mim, e eu comentei em um diário que ele me chamava de animal incompetente. (Errei três vezes essa palavra. Dislexia pegando.) Toda a delicadeza do mundo, hum?
Mais tarde ainda, na oitava série, e até hoje eu não sei como, a gente namorou.
É difícil dizer com certeza em qual das três épocas nós éramos mais crianças - se na primeira, na quarta ou na oitava série. Mas valeu a pena.
Ele não foi o primeiro beijo, mas, olhando com os olhos de 19 para a menina de 14 que eu era àquela época, foi com certeza o que de mais bonito aconteceu aquele ano. Menos de dois meses. Mas com direito a uma azaléia roxa no cabelo em um fim de tarde de inverno tão bonito. 
Depois disso, a gente só voltou a conversar e a conviver que nem gente no terceiro ano, depois de uma prova de biologia em duplas escolhidas pela Liane ao acaso
E a história "fechou", onze anos depois da primeira série, com um abraço na formatura.
Mas não o carinho.

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