3 de out. de 2011

flor de canudinho

Meu pai - ou minha vó, não tenho bem certeza - me trouxe de uma viagem a algum país da América do Sul (Chile? Argentina? não sei) uma caixinha de madeira com detalhes em dourado onde eu guardo uma série de coisas, entre cartas, desenhos e objetos com algum significado. Ou só porque são legais. Fica no meu quarto em Canela. E dentro dela tem uma flor feita de canudinho.

Uma juíza aqui de Porto Alegre tem uma casa de veraneio lá, quase em frente à nossa. Ela tem três filhos: o caçula pouco mais novo que o meu irmão, uma guria da minha idade e um outro bem mais velho, de, sei lá, uns trinta e poucos, que é biólogo/botânico. E um dia, há não tenho idéia de quantos anos, possivelmente uns quatro, cinco, em um feriado qualquer, decidimos sair todos pra almoçar fora e caminhar pelo parque das sequóias, um dos mais bonitos que eu conheço em termos de vegetação. Incontáveis árvores. Minha natureza não é lá muito social e eu não ia, nesse tal almoço-passeio. Mas fui. E me surpreendeu, na época e até hoje, o quanto eu conversei com o cara. Sobre árvores, sobre as espécies, sobre Canela, sobre Porto Alegre, sobre faculdade, sobre um bando de coisas, enfim. E lá pelas tantas ele começou a dobrar um canudinho vermelho que ninguém havia usado. E eu fiquei olhando sair dali uma florzinha que depois ganhei de presente.

Não sou capaz de lembrar o nome do cara, nem o rosto dele, nem quase nada. Mas ficaram a flor e a aura que ela carrega e que me leva direto de volta àquele dia. Possivelmente um começo de primavera, como agora.

Tudo naquela caixa traz alguma coisa, alguma sensação. De certa forma, como se as memórias fossem táteis. E talvez seja esse o propósito de se guardar certas coisas, afinal: tornar tátil, palpável, o que a memória sozinha não conseguiria reter por completo. Provas de pequenas ou grandes histórias, fragmentos do que um dia foi tristeza ou alegria, partes soltas de vidas que a gente pode guardar e revisitar a hora que sentir vontade.

Ninguém nunca perguntou o que tem lá, na caixa. Mas, se um dia vierem a perguntar, a resposta já tomou corpo. Lá tem os pedaços de passado que eu posso carregar.

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