22 de dez. de 2011
verão, verão
Enrolar, enrolar, enrolar e no fim nem saber como contar a história. Minha sina pro resto da vida.
E carregar pequenas frustrações pensando que tudo bem e em seguida não, não é tudo bem, é a vida e a vida não é tudo bem.
Nos falam que tudo tem um tempo pra acontecer. Que homens e mulheres são todos iguais. Nos falam de casamento. Nos dizem pra usar camisinha. Perguntam dos namorados. Garantem que a gente ainda vai conhecer muitos outros.
Eu não dou a mínima. Qualquer um cresce sabendo que, salvo os pais, família, quando unida, só serve pra constranger. E falar bobagens. Uma porção delas.
E aí vêm o natal e as convenções convencionadas pela sociedade para se comemorar uma data que não é comemorativa. O natal deixou de ser natal quando eu fiz dezesseis e, em prol da lembrança dos natais da minha infância, sempre os melhores dias da vida, eu só prefiro ignorar o que a última semana de dezembro tem sido na minha vida desde então. Digam o que disserem, é só dinheiro, no final - e quando a gente cresce.
Porque a diferença entre crescer e ser criança não é imaginação, que só depende de se saber usar. É a barreira que separa saber que quase tudo na vida se resume a dinheiro de não ter a menor ideia do que isso significa. E por mais tristes que esses tempos infantis possam ser, eventualmente, ainda são melhores que os que vêm depois deles, regados por consciências, preocupações e obrigações tão inúteis quanto querer usar um tênis um número menor sem sentir dor ou incômodo mas que mesmo assim pedem para ser encaradas, mais cedo ou mais tarde.
Mais cedo é sempre melhor.
Mais tarde é sempre mais fácil.
E ainda que as férias sejam só algumas semanas a gente deixa tudo pra depois. Porque não tem nada melhor que isso, afinal. Deixar tudo pra depois.
12 de dez. de 2011
uma historinha que ouvi hoje na rua
Possivelmente
eu não seja exatamente um exemplo de mulher madura. É natural, dada a minha
idade, o contexto em que eu me encontro e uma série extensa de outras
variáveis. A meu ver, considerando essas mesmas condições, poucas ao meu redor
o são. E acredito que isso valha para qualquer pessoa, independentemente do sexo. Mas eu aprendi, me
enraivecendo ao extremo com meus pais a cada vez que eles gritavam para eu não
virar as costas e nunca bater a porta do quarto (ou qualquer outra), a resolver os meus problemas –
ou a pelo menos tentar. Sentar, analisar e resolver. Eventualmente ficar de
castigo, nem sempre conseguir a melhor solução, ou a que eu queria, mas ainda
assim dar um jeito. No lugar de acreditar no faz de conta de que eles vão
deixar de existir no caso de eu simplesmente não fazer ou dizer nada. É fácil
quando as questões são só minhas. É impossível quando envolvem outras pessoas.
E isso porque maturidade não vem de berço e é uma coisa relativa. E difícil. Eu
não sou madura. Eu não pago minhas contas sozinha, ainda dependo dos meus pais
pra um monte de coisas na vida, não sou independente e sequer tirei carteira de
motorista. Além disso, volta e meia eu tenho minhas crises, emocionais ou
existenciais, perco completamente qualquer fé ou perspectiva de futuro que por
ventura eu possa ter e tenho vontade de nunca mais sair do meu sofá. Mas eu sei
quando essas crises são crises e quando são só tpm, e, em ambos os casos, eu
sei resolver, mesmo que demore. E por mais infantil e/ou covarde que eu possa ser em relação a um
bando de outras coisas na vida, e eu sou, eu nunca saí ou nunca me livrei de qualquer
uma resolvendo não dar mais conta da existência delas. Talvez amadurecer,
afinal, seja uma questão de cabeça tanto quanto é de conta bancária. Portanto, eu digo prontamente e sem encargos de consciência que cansei. De quem resolve aparecer e
entrar, por vontade própria, mas depois me deixa falando sozinha e sai sem
dizer boa noite. Não cultivo minha pouca saúde pra isso. Nem a física nem a mental.
Boas festas.
4 de dez. de 2011
excesso de aniversário
A vida nunca vai ser minimamente satisfatória se comparada ao que poderia ser se fosse o ideal de cada um. Não vai haver tanta diversão, completude, felicidade e viagens de carro.
A consciência de algo sem a menor das possibilidades de se concretizar. E a conformação, porque fatos são fatos. Mas não existe também a possibilidade de não notar uma dor oca por dentro. Não é dor, não dói, mas aparece como um vazio ou qualquer coisa, sem possibilidades também de descrição, causada por um desejo enorme oprimido e suprimido. Certas coisas não se descrevem. É curioso. A incapacidade de se descrever o que quer que seja que se sente. Que se sabe mas ao mesmo tempo não se sabe. Um amor platônico, uma vontade impossível, um querer que não vai ser saciado. Esquecido e passado, sim, mas nunca saciado. Pela própria configuração que as coisas assumem. Um status quo que não é real pra mim, mas é pra alguém. Próximo, distante, não faz diferença. Não sei se existe, na Terra, uma vida sem essas vontades. Absurdas, gigantes, verdadeiras, mas impossíveis. Existe uma maneira de se viver plenamente sem sentir desejos assim? Do mesmo modo como, assumindo um poder aquisitivo suficiente, existe uma maneira de se viver sem comprar, once in a while, presentes para si mesmo, por prazer? Querer, saber que alguém tem, saber que não se vai ter. Além da dor oca que não é dor, reconhece-se a inveja. Ou só a cobiça. Engraçado como inveja parece ser o que as pessoas mais temem admitir que sentem. Como se fosse algo sujo e feio demais. É humano, simplesmente. Como raiva, medo, desgosto e todos os outros vilões entre os sentimentos. Bom é ser generoso, desapegado, humilde e sempre coerente. Mas quem é assim?
Imaginar pode ser perigoso. Mas é muito bom.
A consciência de algo sem a menor das possibilidades de se concretizar. E a conformação, porque fatos são fatos. Mas não existe também a possibilidade de não notar uma dor oca por dentro. Não é dor, não dói, mas aparece como um vazio ou qualquer coisa, sem possibilidades também de descrição, causada por um desejo enorme oprimido e suprimido. Certas coisas não se descrevem. É curioso. A incapacidade de se descrever o que quer que seja que se sente. Que se sabe mas ao mesmo tempo não se sabe. Um amor platônico, uma vontade impossível, um querer que não vai ser saciado. Esquecido e passado, sim, mas nunca saciado. Pela própria configuração que as coisas assumem. Um status quo que não é real pra mim, mas é pra alguém. Próximo, distante, não faz diferença. Não sei se existe, na Terra, uma vida sem essas vontades. Absurdas, gigantes, verdadeiras, mas impossíveis. Existe uma maneira de se viver plenamente sem sentir desejos assim? Do mesmo modo como, assumindo um poder aquisitivo suficiente, existe uma maneira de se viver sem comprar, once in a while, presentes para si mesmo, por prazer? Querer, saber que alguém tem, saber que não se vai ter. Além da dor oca que não é dor, reconhece-se a inveja. Ou só a cobiça. Engraçado como inveja parece ser o que as pessoas mais temem admitir que sentem. Como se fosse algo sujo e feio demais. É humano, simplesmente. Como raiva, medo, desgosto e todos os outros vilões entre os sentimentos. Bom é ser generoso, desapegado, humilde e sempre coerente. Mas quem é assim?
Imaginar pode ser perigoso. Mas é muito bom.
22 de nov. de 2011
18 de nov. de 2011
roda gigante
A falta do que há muito não se vê mais. Consumindo o que há muito se via em desuso. Algum dia eu vou me ver livre? E não fazer comparações entre sujeitos de classes distintas e relações interpessoais de outras ordens. Relações não se repetem, com seus mesmos autores ou com outros, ainda menos. E eu, que deveria saber disso já há muito, misturo e fecho portas ainda sequer abertas. E a consciência, que nessas horas deveria trabalhar e impedir tamanho absurdo? Dorme embalada pelo som das canções. De dois dias eternos eternamente gravados como impossíveis e surreais. Que diabos fazem aqui, agora? Retornando das cinzas, levantando da tumba. São só memórias doces. Sem qualquer capacidade de interferência no presente. Quem disse? Minha consciência dorme e eu tento acordá-la. E me preocupo com os dias que estão por vir, que jamais alcançarão em esplendor os que já foram. Talvez outros alcancem e se ponham ainda mais alto, mas estes são tão indecifráveis e impalpáveis quanto a possibilidade de retorno. Talvez uma vida. Daquelas em que fazer o que se quer não seja o jogo na prateleira mais alta. Adiando os dias que seriam meus por absolutamente nada que valha o que eles valeriam. E sentir ao pé do ouvido o passar das coisas que eu já ouvi. Saudade, é a palavra que eu não quero dizer.
8 de nov. de 2011
era pra ser um piano
E de repente a gente sente. E é como se o mundo se abrisse e
fechasse ao mesmo tempo. Eu tenho bloqueio escrevendo no word ou com outras
fontes que não sejam times. Arial é Agendão. Calibri é assustadora. E do resto
eu ignoro a existência. Aprendi a deixar as coisas virem dançando os dedos
sobre o teclado e enxergando a caixa de texto do blog ou a simplicidade do
bloco de notas. Meus cadernos ficam vazios.
É como se o mundo
se abrisse, e eu junto com ele. Umas sensações que não se esperam. Um 'isso é
tão estranho'. Uma certeza chata de que nada vai acontecer. A cada vez, cada
sorriso. Que vêm com a expectativa de qualquer coisa tão imensamente maior do
que o que tem sido até agora.
Talvez eu pudesse
ficar horas conversando do jeito que fico horas calada. Somando todas as
palavras, por quanto tempo no dia eu falo? Uma hora de 24? Menos. Eu
não consigo medir. Do mesmo jeito que não consigo medir a ausência de
interlocutores que, aos quase 21, eu vejo como um detalhe qualquer. Como as
cortinas da sala ou a manta do sofá. As coisas que estão lá, mas em que
ninguém presta atenção. Nem eu.
E de repente a
gente olha pro lado e percebe o que esteve ali o tempo todo. Como não vi antes?
E as respostas, que faltam para perguntas infinitas. De por que as pessoas não
têm consciência ambiental e coletiva nos menores níveis a por que elas matam. Por que a
vida alheia é menos importante. Por que, se eu não pensar em mim, ninguém vai
pensar. Por que ninguém sabe usar os porquês quando escreve.
Sem respostas, sem
pontos de interrogação.
Cem respostas, sem
pontos. Sem respostas, cem pontos.
Sem todas as
coisas que poderiam estar aqui. Os deslocados e não os descolados. Quem é que
nota, quem é que se importa. Eu me adapto a qualquer lugar desde que me sinta
fora de lugar. Não sei.
2 de nov. de 2011
tirando o pó
Um ano depois meu violão tem todas as cordas de novo. Tipo voltar no tempo. Em prol de uma coisa que eu nunca vou fazer direito. Eu deveria cogitar empregar meus esforços exclusivamente nisso algum dia. Mas antes eu ainda tenho que 1) livros, 2) tatuagem, 3) italiano, 4) dar o fora daqui viajar. Não necessariamente nessa ordem. Deus me permita não desistir de nenhum desses em vida.
E enquanto isso a vida segue e o tempo passa, mas tudo bem, porque eu fiz hoje um almoço digno desse nome.
Meu motivo pra cozinhar.
E enquanto isso a vida segue e o tempo passa, mas tudo bem, porque eu fiz hoje um almoço digno desse nome.
Meu motivo pra cozinhar.
25 de out. de 2011
desarrumar
Como se qualquer coisa no mundo estivesse arrumada.
Da vontade de viver uma história que não é a minha.
Dezembro de 2009: eu entre aniversário, Natal, Ano-Novo e vestibular, e outra pessoa, completamente desconhecida, na ponta de cima do continente, viajando por outro país. Aquelas paisagens que a gente vê sem nunca ter visto: uma estrada a perder de vista, no meio de qualquer lugar panorâmico, nada ao redor, ninguém além de ti, nenhum barulho além do carro.
É engraçado, e desalentador, pensar em como duas vidas, tão peculiares, distantes, diferentes e desconhecidas uma da outra, mas próximas nos anseios e crenças, podem simplesmente nunca se cruzar. Por descaprichos do destino, por desventuras, peças e artimanhas de que o mundo se vale para mostrar o infortúnio e a infelicidade de não se ter feito nada além de nascido em outro lugar. E uma infinidade dessas vidas continuam lá e cá, sem sequer imaginar a existência umas das outras. Eu tento adivinhar o que aconteceria se, por um acaso qualquer, elas se encontrassem um dia. A reação de cada pessoa, o desfecho, se estaria ali um divisor de águas ou só mais um fato corriqueiro - e talvez a gente nem percebesse.
Eu queria o poder de mudar isso. Fazer uma dança das cadeiras entre as pessoas e rearranjar todas elas e pôr lado a lado as que merecem estar lado a lado e o mais longe possível as que ficam melhor assim. Bagunçar o mundo. Mudar toda a gente de lugar. Acossar a mesmice. Sacudir as cabeças. Experimentar outra língua.
Eu bem queria.
Da vontade de viver uma história que não é a minha.
Dezembro de 2009: eu entre aniversário, Natal, Ano-Novo e vestibular, e outra pessoa, completamente desconhecida, na ponta de cima do continente, viajando por outro país. Aquelas paisagens que a gente vê sem nunca ter visto: uma estrada a perder de vista, no meio de qualquer lugar panorâmico, nada ao redor, ninguém além de ti, nenhum barulho além do carro.
É engraçado, e desalentador, pensar em como duas vidas, tão peculiares, distantes, diferentes e desconhecidas uma da outra, mas próximas nos anseios e crenças, podem simplesmente nunca se cruzar. Por descaprichos do destino, por desventuras, peças e artimanhas de que o mundo se vale para mostrar o infortúnio e a infelicidade de não se ter feito nada além de nascido em outro lugar. E uma infinidade dessas vidas continuam lá e cá, sem sequer imaginar a existência umas das outras. Eu tento adivinhar o que aconteceria se, por um acaso qualquer, elas se encontrassem um dia. A reação de cada pessoa, o desfecho, se estaria ali um divisor de águas ou só mais um fato corriqueiro - e talvez a gente nem percebesse.
Eu queria o poder de mudar isso. Fazer uma dança das cadeiras entre as pessoas e rearranjar todas elas e pôr lado a lado as que merecem estar lado a lado e o mais longe possível as que ficam melhor assim. Bagunçar o mundo. Mudar toda a gente de lugar. Acossar a mesmice. Sacudir as cabeças. Experimentar outra língua.
Eu bem queria.
24 de out. de 2011
17 de out. de 2011
qual a diferença
"Eu quis ficar ali o dia inteiro. A vida inteira."
"Mas eu vivi de incerteza nos últimos cinco anos, no que diz respeito a relacionamentos."
"Eu penso em ti o tempo todo desde o dia que eu fiquei sabendo que tu existe."
Notas de um pretenso diário incompleto e largado. Essa última consta aqui exatamente assim, entre aspas. Não é minha. Mas eu não sou capaz de afirmar que é verdadeira. Não sou capaz de afirmar quase nada em relação ao meu passado. Às vezes eu tenho impressão de que distorço tudo a bel prazer. Mas e por que não, também? Se nem toda lembrança é boa, qual o crime de fazê-las assim? Quero dizer, o presente é agora e o futuro sabe-se lá. No fim das contas, o passado acaba sendo o único que se pode mudar, ainda que de mentira.
"Mas eu vivi de incerteza nos últimos cinco anos, no que diz respeito a relacionamentos."
"Eu penso em ti o tempo todo desde o dia que eu fiquei sabendo que tu existe."
Notas de um pretenso diário incompleto e largado. Essa última consta aqui exatamente assim, entre aspas. Não é minha. Mas eu não sou capaz de afirmar que é verdadeira. Não sou capaz de afirmar quase nada em relação ao meu passado. Às vezes eu tenho impressão de que distorço tudo a bel prazer. Mas e por que não, também? Se nem toda lembrança é boa, qual o crime de fazê-las assim? Quero dizer, o presente é agora e o futuro sabe-se lá. No fim das contas, o passado acaba sendo o único que se pode mudar, ainda que de mentira.
12 de out. de 2011
and the world comes tumbling down
hand in hand in a violent life
making love on the edge of a knife
and the world comes tumbling down
and it's hard for me to say
and it's hard for me to stay
i'm going down to be by myself
i'm going back for the good of my health
and there's one thing i couldn't do
sacrifice myself to you
i take my aim and i fake my words
i'm just your long time curse
hand in hand in a violent life
making love on the edge of a knife
and the world comes tumbling down
and it's hard for me to say
and it's hard for me to stay
i'm going down to be by myself
i'm going back for the good of my health
and there's one thing i couldn't do
sacrifice myself to you
i take my aim and i fake my words
i'm just your long time curse
9 de out. de 2011
do meu tempo
Há dois minutos eram seis horas. Como é que pode passar tão rápido? Por que tem que passar tão rápido?
Eu poderia dividir minha vida em períodos que se alternam. Quando sobra tempo e eu não quero esse tempo, quando não sobra tempo e eu também não quero e quando não sobra tempo, mas eu queria (querer e sobrar tempo - ao mesmo tempo - é uma coisa meio improvável de acontecer à exceção das férias e do colégio).
Hoje eu tô na terceira e prefiro não sair dela, mas nem sempre. E a sensação de quando o tempo livre dói incomoda tanto quanto a de ver esse mesmo tempo escapar antes do que se gostaria. Como se o dia tivesse sido perdido - não fiz tudo o que eu gostaria de ter feito. Mas não é verdade. Fiz o que deu pra fazer, o que podia ter sido feito. E, teoricamente, isso deveria bastar, mas não basta.
Eu e meus relógios. Desde criança brigando com o tempo, ou porque é demais ou porque é pouco.
E, herança de mãe, a pontualidade sempre viciante.
Eu poderia dividir minha vida em períodos que se alternam. Quando sobra tempo e eu não quero esse tempo, quando não sobra tempo e eu também não quero e quando não sobra tempo, mas eu queria (querer e sobrar tempo - ao mesmo tempo - é uma coisa meio improvável de acontecer à exceção das férias e do colégio).
Hoje eu tô na terceira e prefiro não sair dela, mas nem sempre. E a sensação de quando o tempo livre dói incomoda tanto quanto a de ver esse mesmo tempo escapar antes do que se gostaria. Como se o dia tivesse sido perdido - não fiz tudo o que eu gostaria de ter feito. Mas não é verdade. Fiz o que deu pra fazer, o que podia ter sido feito. E, teoricamente, isso deveria bastar, mas não basta.
Eu e meus relógios. Desde criança brigando com o tempo, ou porque é demais ou porque é pouco.
E, herança de mãe, a pontualidade sempre viciante.
vou passar quero ver volta aqui vem você
Overdose de Renato Russo com esse especial da mtv o dia todo. E fiquei me lembrando da época em que eu não passava sem ouvir Legião. Uma das tantas bandas que eu comecei a ouvir depois de descobrir algum cd perdido no armário lá em casa. E uma das tantas que acabaram saindo do meu ipod depois. Tenho ainda, acho, espero, a discografia no computador em Canela. Não sei por que a gente para de ouvir algumas bandas. Como se as coisas de que se gostava quando mais novo não fossem dignas de ser gostadas. O que faz todo o sentido, considerando a quantidade de coisas vergonhosas de que já se gostou em algum momento da vida. Mas, embora eu não ouça mais, Legião não entra nesse saco. Não tem uma letra ruim, não tem uma música chata. Dá pra enjoar de algumas com o tempo, mas por ter ouvido em excesso.
Provavelmente um terço das pessoas ama, um odeia e o outro é indiferente, mas entre esses todos acho que poucos entendem. Ou param pra pensar. Ou sei lá. Param pra ouvir. Teatro dos vampiros, eu sei, faroeste, pais e filhos, índios, há tempos, tempo perdido, metal contra as nuvens, será, dezesseis, sereníssima, quase sem querer, os anjos, meninos e meninas, vinte e nove, descobrimento, duas tribos, mais do mesmo, monte castelo, vamos fazer um filme, via láctea, giz. Todas. E mesmo as mais velhas, do Aborto Elétrico.
Em uma entrevista, de pés descalços, ele falava sobre como parou de ouvir todas as bandas que, depois, ficaram conhecidas e todo mundo ouvia. O fenômeno é antigo e não é crime, afinal. Mas o caso é que cada pessoa pode ter uma relação completamente diferente com a mesma banda, com a mesma música. Eu prefiro guardar Legião só pra mim, nesse sentido. Eu já disse uma vez, descobri o Renato e as letras dele exatamente quando precisei descobrir. E possivelmente parei de ouvir quando não precisei mais também. Mas isso não muda aquele quando e o que significou. Justamente o momento em que eu comecei a aprender a me salvar sozinha. Quando eu aprendi que, sim, eu podia me salvar sozinha.
Comparamos nossas vidas e, mesmo assim, não tenho pena de ninguém.
"Esse negócio de romance, romance romântico mesmo, eu não gosto disso. Você sofre, e fica pensando na pessoa, aquela coisa, e aí você não funciona mais direito. [...] E sempre acaba, sempre acaba. [...] Eu prefiro quando é assim: 'ah, o que que você vai fazer hoje? posso ir com você?' ou então 'não, não tô a fim de ir com você'. [...] Porque senão fica aquela coisa: 'ah, vamos sair hoje?', 'não', 'por quê?', 'porque não', 'mas por que não?'. Aí entra na briga, o ciúme, a pressão. [...] Não, amor verdadeiro não tem isso. [...] Não é bobagem."
8 de out. de 2011
do salão
Depois de passar o dia conversando, ou rindo, ou ouvindo falas (e nomes pra lá de fantásticos como Sammer Maravilha), e correndo com notícias, o silêncio e a calmaria de chegar sozinha em um apartamento vazio ocupam todo o espaço possível, de uma forma absurda. É um contraste expressivo, e duas coisas totalmente opostas. Tipo branco e preto. Mas eu posso viver assim, afinal.
7 de out. de 2011
série
Tem coisas que me incomodam, por certo que tem. Eu não sei se são motivos reais, uma vez que podem ser até fúteis, e a questão é: o simples fato de me incomodarem não os torna dignos do status de 'motivos de incomodação'? Às vezes eu acho que sim. Nas outras eu tenho certeza que não. E em outras ainda eu tento entender por que me incomodo com eles, dado que a) metade não são coisas mutáveis, não por mim, e b) metade são coisas que um ser humano pode resolver contanto que se empenhe. Então por que eu não é outra questão que eu não sei responder. O caso é que, sempre que eu paro pra pensar, eu queria poder sentir mais entusiasmo com jornalismo. Eu não sinto. Então eu paro de pensar ou ignoro a minha vontade de entusiasmo ou finjo que sinto. O que eu faria se largasse? Arquitetura? Eu não sei. Eu simplesmente não cogito largar só pelo fato de ter começado. Mas e depois? E até lá? E agora?
E outra coisa é solidão. Eu não divido apartamento, nunca daria certo. Pela minha natureza fechada, pela minha necessidade de privacidade e de ficar sozinha, por mais paradoxal que seja. Não tem como entender. Possivelmente seria uma maneira de mudar, morar com alguém, mas eu não arriscaria a minha paz, que por hora é das poucas coisas concretas que eu tenho. É solidão ou carência? E até que ponto uma não é a mesma que a outra? O que diferencia uma pessoa solitária de uma pessoa carente? Eu não faço a menor idéia, mas digo que sou solitária porque parece menos defeituoso que ser carente e porque de fato não me considero carente. Carência, em alguns casos, me parece uma conseqüência da solidão que aparece de vez em quando. É uma questão de saber fechar a porta. Mas solidão é quase um estado de alma. Se não for de fato.
Às vezes eu penso em terapia. Mas só pensar em pagar alguém pra me ouvir choramingar já me dá desgosto. Pelo fato de ser o ápice da coisa toda, pelo dinheiro que eu não tenho pra gastar com isso e porque certamente deve ter quem precise ou valorize de verdade, e eu não vou tirar nem uma horinha dessas pessoas. Mas é uma coisa incógnita pra mim. Eu consultei uma psicóloga em dois momentos da minha vida. Perto dos oito, quando eu mudei de quarto e passei a ter ainda mais dificuldade pra dormir. (Cheguei a dizer uma vez, no alto da minha inocência, que quando anoitecia aqui eu queria poder ir pro Japão. "Por quê?", pergunta papai. "Pra não precisar dormir".) Por medo ou por sei lá que bobagem, mas o fato é que eu gostava dos joguinhos e dos livros da sala dela e só. E mais tarde, na separação dos meus pais. O que não teve o menor sentido, porque eu não vi o menor problema na separação. Pelo contrário. Ou seja.
Eu queria viajar.
E outra coisa é solidão. Eu não divido apartamento, nunca daria certo. Pela minha natureza fechada, pela minha necessidade de privacidade e de ficar sozinha, por mais paradoxal que seja. Não tem como entender. Possivelmente seria uma maneira de mudar, morar com alguém, mas eu não arriscaria a minha paz, que por hora é das poucas coisas concretas que eu tenho. É solidão ou carência? E até que ponto uma não é a mesma que a outra? O que diferencia uma pessoa solitária de uma pessoa carente? Eu não faço a menor idéia, mas digo que sou solitária porque parece menos defeituoso que ser carente e porque de fato não me considero carente. Carência, em alguns casos, me parece uma conseqüência da solidão que aparece de vez em quando. É uma questão de saber fechar a porta. Mas solidão é quase um estado de alma. Se não for de fato.
Às vezes eu penso em terapia. Mas só pensar em pagar alguém pra me ouvir choramingar já me dá desgosto. Pelo fato de ser o ápice da coisa toda, pelo dinheiro que eu não tenho pra gastar com isso e porque certamente deve ter quem precise ou valorize de verdade, e eu não vou tirar nem uma horinha dessas pessoas. Mas é uma coisa incógnita pra mim. Eu consultei uma psicóloga em dois momentos da minha vida. Perto dos oito, quando eu mudei de quarto e passei a ter ainda mais dificuldade pra dormir. (Cheguei a dizer uma vez, no alto da minha inocência, que quando anoitecia aqui eu queria poder ir pro Japão. "Por quê?", pergunta papai. "Pra não precisar dormir".) Por medo ou por sei lá que bobagem, mas o fato é que eu gostava dos joguinhos e dos livros da sala dela e só. E mais tarde, na separação dos meus pais. O que não teve o menor sentido, porque eu não vi o menor problema na separação. Pelo contrário. Ou seja.
Eu queria viajar.
6 de out. de 2011
toda a poesia de kleiton e kledir
suspirando em falsete
coisas que eu nem sei contar
depois do terceiro ou quarto copo
tudo que vier eu topo
tudo que vier vem bem
vou ficar até o fim do dia
decorando tua geografia
Tava lá entrevistando a pró-reitora de qualquer coisa e ela falou sobre quando um professor consegue entusiasmar um aluno, e como isso é melhor do que qualquer método de ensino que possa existir. Três nomes me vieram na hora. E mais alguns depois. Triste é conseguir contar esses caras nos dedos.
Mas tudo bem, porque eles valem pelo resto.
coisas que eu nem sei contar
depois do terceiro ou quarto copo
tudo que vier eu topo
tudo que vier vem bem
vou ficar até o fim do dia
decorando tua geografia
Tava lá entrevistando a pró-reitora de qualquer coisa e ela falou sobre quando um professor consegue entusiasmar um aluno, e como isso é melhor do que qualquer método de ensino que possa existir. Três nomes me vieram na hora. E mais alguns depois. Triste é conseguir contar esses caras nos dedos.
Mas tudo bem, porque eles valem pelo resto.
3 de out. de 2011
flor de canudinho
Meu pai - ou minha vó, não tenho bem certeza - me trouxe de uma viagem a algum país da América do Sul (Chile? Argentina? não sei) uma caixinha de madeira com detalhes em dourado onde eu guardo uma série de coisas, entre cartas, desenhos e objetos com algum significado. Ou só porque são legais. Fica no meu quarto em Canela. E dentro dela tem uma flor feita de canudinho.
Uma juíza aqui de Porto Alegre tem uma casa de veraneio lá, quase em frente à nossa. Ela tem três filhos: o caçula pouco mais novo que o meu irmão, uma guria da minha idade e um outro bem mais velho, de, sei lá, uns trinta e poucos, que é biólogo/botânico. E um dia, há não tenho idéia de quantos anos, possivelmente uns quatro, cinco, em um feriado qualquer, decidimos sair todos pra almoçar fora e caminhar pelo parque das sequóias, um dos mais bonitos que eu conheço em termos de vegetação. Incontáveis árvores. Minha natureza não é lá muito social e eu não ia, nesse tal almoço-passeio. Mas fui. E me surpreendeu, na época e até hoje, o quanto eu conversei com o cara. Sobre árvores, sobre as espécies, sobre Canela, sobre Porto Alegre, sobre faculdade, sobre um bando de coisas, enfim. E lá pelas tantas ele começou a dobrar um canudinho vermelho que ninguém havia usado. E eu fiquei olhando sair dali uma florzinha que depois ganhei de presente.
Não sou capaz de lembrar o nome do cara, nem o rosto dele, nem quase nada. Mas ficaram a flor e a aura que ela carrega e que me leva direto de volta àquele dia. Possivelmente um começo de primavera, como agora.
Tudo naquela caixa traz alguma coisa, alguma sensação. De certa forma, como se as memórias fossem táteis. E talvez seja esse o propósito de se guardar certas coisas, afinal: tornar tátil, palpável, o que a memória sozinha não conseguiria reter por completo. Provas de pequenas ou grandes histórias, fragmentos do que um dia foi tristeza ou alegria, partes soltas de vidas que a gente pode guardar e revisitar a hora que sentir vontade.
Ninguém nunca perguntou o que tem lá, na caixa. Mas, se um dia vierem a perguntar, a resposta já tomou corpo. Lá tem os pedaços de passado que eu posso carregar.
Uma juíza aqui de Porto Alegre tem uma casa de veraneio lá, quase em frente à nossa. Ela tem três filhos: o caçula pouco mais novo que o meu irmão, uma guria da minha idade e um outro bem mais velho, de, sei lá, uns trinta e poucos, que é biólogo/botânico. E um dia, há não tenho idéia de quantos anos, possivelmente uns quatro, cinco, em um feriado qualquer, decidimos sair todos pra almoçar fora e caminhar pelo parque das sequóias, um dos mais bonitos que eu conheço em termos de vegetação. Incontáveis árvores. Minha natureza não é lá muito social e eu não ia, nesse tal almoço-passeio. Mas fui. E me surpreendeu, na época e até hoje, o quanto eu conversei com o cara. Sobre árvores, sobre as espécies, sobre Canela, sobre Porto Alegre, sobre faculdade, sobre um bando de coisas, enfim. E lá pelas tantas ele começou a dobrar um canudinho vermelho que ninguém havia usado. E eu fiquei olhando sair dali uma florzinha que depois ganhei de presente.
Não sou capaz de lembrar o nome do cara, nem o rosto dele, nem quase nada. Mas ficaram a flor e a aura que ela carrega e que me leva direto de volta àquele dia. Possivelmente um começo de primavera, como agora.
Tudo naquela caixa traz alguma coisa, alguma sensação. De certa forma, como se as memórias fossem táteis. E talvez seja esse o propósito de se guardar certas coisas, afinal: tornar tátil, palpável, o que a memória sozinha não conseguiria reter por completo. Provas de pequenas ou grandes histórias, fragmentos do que um dia foi tristeza ou alegria, partes soltas de vidas que a gente pode guardar e revisitar a hora que sentir vontade.
Ninguém nunca perguntou o que tem lá, na caixa. Mas, se um dia vierem a perguntar, a resposta já tomou corpo. Lá tem os pedaços de passado que eu posso carregar.
28 de set. de 2011
em flashes
Eu vejo o Lúcio (e aí eu não consigo três coisas: não achar graça da situação, não me ver de novo na oitava série e não ouvir um "SIEEETE" imaginário), depois sonho com a minha turma de terceiro ano e hoje vejo, do ônibus, um pátio muito semelhante ao de uma das laterais do colégio. Pra que ano a vida quer que eu volte essa semana, hein?
26 de set. de 2011
da descoberta do dia
Quando eu ando mais perdida e até satisfeita com as minhas fantasias, umas faíscas de vida de verdade inventam de estourar em algum lugar e eu tenho que parar pra olhar. Ver de onde vieram, o que elas querem dizer, se podem resultar em alguma coisa mais efetiva que só faíscas. E então eu me perco tentando descobrir sem no entanto de fato fazer algo em prol disso. Eu sou uma incoerência com pernas, às vezes.
Mas não é nada. Poucas vezes é.
-
Minha veia metaleira (porque eu tenho uma, em algum lugar) se manifestou e ontem foi o único dia desse rock in rio a que eu vou ter assistido. E com gosto. Sério, esses caras têm o melhor público, o mais fiel e fazem com certeza os melhores shows, de longe. Sigo até agora me lamentando por não ter visto Metallica até o fim.
Mas não é nada. Poucas vezes é.
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Minha veia metaleira (porque eu tenho uma, em algum lugar) se manifestou e ontem foi o único dia desse rock in rio a que eu vou ter assistido. E com gosto. Sério, esses caras têm o melhor público, o mais fiel e fazem com certeza os melhores shows, de longe. Sigo até agora me lamentando por não ter visto Metallica até o fim.
20 de set. de 2011
dos feriados
Não posso deixar de pensar que Porto Alegre é quase o paraíso na terra no meio de um feriadão - uma medida do nível a que já chegou minha concepção de paraíso na terra. Mas a verdade é que eu não preciso de mais que uma cidade meio vazia pra me sentir mais humana. Menos gente, mais espaço pra quem fica. Em todos os sentidos. Como se os que ficam, seja por falta de vontade, seja por impossibilidade de sair, fossem aqueles que são realmente parte do lugar. É uma sensação curiosa. A gente poderia até falar sozinho na rua e talvez ninguém achasse falta de senso. E pode até chover que quem sabe não importe muito. Sobra mais ar pra pensar. E eu andei minhas sete-oito quadras familiares pensando em quanto se ocupa tempo demais pensando em o que teria acontecido se. Se eu tivesse ido, se tivesse ficado, se tivesse acontecido algo que não aconteceu e o inverso. Talvez seja dos poucos exercícios de imaginação que nunca vão fazer ninguém sair do lugar, uma vez que pouco importa o que teria acontecido se o ônibus tivesse atrasado quando ele não atrasou. Pouco importa nessacidadenemtemmaretunãosabeescrever. Às vezes eu imagino se Porto Alegre fosse uma praia. E tento responder se eu passaria pela beira na volta pra casa ou se seria muita mão. Mas pouco importa: Porto Alegre não é praia. Às vezes eu imagino morar em uma praia, fosse qual fosse. Deve ser uma vidinha muito, muito mansa.
19 de set. de 2011
divagação incompleta
Se o fulano fosse como todo mundo - ou como todo mundo tem de ser. Uma pessoa normal. E se diz que ninguém é normal, ou que é melhor não ser o normal, mas normal aqui eu entendo como simplesmente comum. No melhor dos sentidos que essa palavra pode ter e na aura mais singela que ela pode jogar sobre uma pessoa. Com os anseios, os problemas e as reclamações que toda vida tem quase que por natureza, sem potencializá-los. Sem os excessos que a gente confere a qualquer coisa na esperança de ser feliz ou ter razão. Um dia feliz e ganha o estigma de melhor, a melhor coisa que já me aconteceu. Uma tristeza mais aguda e a vida se torna um fardo, porque eu não posso ser acusado de não ter um problema real, um motivo real pra sofrer. Na minha singela e jamais requerida crença - não é assim. O certo. E quem é qualquer pessoa pra saber o que é o certo, mas alguma coisa se pode saber. Eu pergunto por que e como a vida nos faz essas coisas. E põe na nossa frente algo próximo da felicidade para depois mostrar que a maçã na verdade é podre. Eu poderia cortar e jogar fora a parte estragada e tudo estaria bem. Por que jogar a fruta inteira no lixo? Mas não. E a realidade sempre se impõe, soberana. Joga na tua cara que não é o bastante, que a existência dos poréns é uma lei, que pouca coisa pode ser plena. E como uma boa representante da minha espécie eu possivelmente cometeria de novo os mesmos erros, na esperança vã de poder fazer algo que nunca dependeu de mim, que nunca foi da minha alçada. Burrice, é o nome. E estagnação é uma parente próxima.
11 de set. de 2011
escavar de um cavaco
Às vezes a gente vive umas coisas incrivelmente boas. Mais do que às vezes até, com a boa vontade que esses momentos merecem, com toda a dignidade. E eu penso, porque possivelmente não exista o que se faça mais na vida do que pensar, na frustração de quando termina. Dos melhores dias que Porto Alegre já me deu, assim gratuitamente, sem nada em troca, com a voz e os sons dos guris da Apanhador bem na nossa frente depois de um pouco de falta de vergonha totalmente bem-vinda. E de repente acaba e isso fica no ar: os finais, porque as coisas acabam, e o gosto de quero mais, porque a gente sempre quer mais. Quero mais esses dias, quero mais esse clima que não é quente nem frio, quero mais essa voz que consegue ser macia sendo grave, quero mais os sons, quero mais alguém, quero mais esse sopro de vida que parece faltar em todos os outros dias que não foram esse. Não quero voltar sozinha. Tem um curta com esse nome, "Não quero voltar sozinho". Pois não quero. Eu quero contar que foi bom e dividir tudo o que eu puder. Porque voltar sozinha cansa e o caminho é mais comprido. Cansa não falar. Mas não hoje. Porque, embora eu não possa impedir que esses pensamentos sempre me inundem no caminho de casa, seria de uma injustiça imensurável, comigo mesma, deixar que eles ocupem o espaço de Um Rei e o Zé, Peixeiro, Nescafé ou Na Ponta dos Pés. A minha solidão, sempre aí enchendo o saco, por hoje pode ficar ali fora. Amanhã fazemos as pazes e retomamos a relação, nenhum dia mais favorável pra isso do que segunda-feira, almoçando angústias.
1 de set. de 2011
27 de ago. de 2011
for a lifetime
Qualquer coisa comparada ao que poderia ser se fosse como imaginação é pouco. E dizem que a realidade supera a ficção. Não pra mim. Na minha vida, desde o tempo mais remoto de que eu consigo me lembrar dos meus anseios, das minhas vontades mais íntimas, e até hoje, a realidade nunca chegou perto.
Eu só posso sentir raiva. Eu só posso constatar o quão certa eu sempre estive quando eu dizia que sonhos, em seu sentido conotativo, não prestam pra nada.
Eu só posso sentir raiva. Eu só posso constatar o quão certa eu sempre estive quando eu dizia que sonhos, em seu sentido conotativo, não prestam pra nada.
25 de ago. de 2011
13 de ago. de 2011
5 de ago. de 2011
e no mais
Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
há meros devaneios tolos a me torturar-me atrasando pro trabalho com zé ramalho
É inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
há meros devaneios tolos a me torturar-me atrasando pro trabalho com zé ramalho
1 de ago. de 2011
A figura dele já tá longe, quase desconhecida. Como se tivesse acontecido mesmo há muitos anos. Eu sequer ainda penso em qualquer coisa relacionada. É tão velho que se confunde. Mas naqueles momentos, nos momentos em que eu deixo de acreditar por completo na minha vida e em que qualquer decisão que eu venha a tomar possa dar certo, eu não consigo também não lembrar disso. Não lembrar dele. Não consigo não apalpar e observar essa semelhança na maneira como ela se me apresenta. A mesma semelhança que separou, mas que une. E eu olho pra ela com um misto de tristeza e raiva e penso que eu não quero ser assim, não quero pensar desse jeito. 'Eu não quero não acreditar', dá vontade de gritar. Em mim ou em qualquer coisa. Mas nesses momentos tudo é simplesmente muito. As outras opções não existem. Nesses momentos. "Olha pra ti. Tu acha que vai chegar em algum lugar? Tu acha que vai ser alguém? Eu não acho. Eu não vou. Olha pra isso. O que é que tu vai fazer? O que é que eu vou fazer?" E nesses momentos o futuro se torna uma coisa que se deseja apagar. Junto com o presente, junto com a minha imagem no espelho, junto com a minha personalidade, delgada e alheia às minhas próprias vontades.
21 de jul. de 2011
dos onze aos vinte
Of course it is happening inside your head, but why on earth should that mean that it is not real?
Acabou.
Apesar de quem teve o primeiro livro em mãos aos onze anos ou antes, e acompanhou o resto da história pelos quase dez seguintes, tecnicamente já ter saído da infância há bastante tempo, oficialmente ela só terminou agora. A gente esperava por isso.
Eu vou sentir - eu sinto falta de livros que me prendam e absorvam de tal maneira como essa história de bruxos conseguiu de fazer. Por tanto tempo.
*
E eu não queria registrar isso, mas eu fiquei tão estarrecida e com vontade de esfregar a cara daquela gente no chão que não dá. É horrível sentar nas últimas fileiras do cinema e, na saída, a cada degrau, enxergar uma nova fila inteira de cadeiras cheia de lixo. Os sacos dos óculos 3d, chicletes, papel de bala, sacos de pipoca, centenas de pipocas espalhadas, canudos, latinhas e copos de refrigerante, até garrafa de dois litros. Bando de porcos. Em um cinema lotado, eu poderia ter contado nos dedos quantos saíram levando de volta o próprio lixo. Depois não é pra ter nojo. De pessoas. A gente diz isso e mil apontam o dedo, acusando de arrogância, de misantropia, de ser anti-social, o escambau. Se ser arrogante, misantropa e anti-social é só respeitar pessoas com o mínimo de decência e educação, eu sou tudo isso. Sempre vou ser.
da greve
Vou pra ufrgs às oito da manhã e encontro o campus lacrado, com correntes e cadeados nos portões. Mas ao meio-dia a gente vai abrir.
Vou pra ufrgs ao meio-dia e o lacre gigante continua lá. Mas às 16h vamos abrir.
Vou pra ufrgs às 16h... Não, não vou mais. Entrei em greve também.
Vou pra ufrgs ao meio-dia e o lacre gigante continua lá. Mas às 16h vamos abrir.
Vou pra ufrgs às 16h... Não, não vou mais. Entrei em greve também.
15 de jul. de 2011
do mundo inteiro
A vida não é poética. E a gente tem que passar por ela e ninguém - ninguém - sabe por quê. E tem um monte de coisas ruins e um monte de coisas boas. E tem as pessoas que a gente conhece, as pessoas de que a gente gosta e o resto todo que a gente não faz idéia de quem seja. Pronto. Isso é tudo o que eu sei sobre a vida. E me impressiona que com tão pouco se consiga fazer tanto. Que tão pouco seja capaz de levar alguém do céu ao inferno e trazer de volta a qualquer hora. Mas eu cansei de pensar. Eu cansei de tentar definir as coisas ou o que eu penso sobre elas simplesmente porque isso é impossível. Eu quero só fazer o que eu tiver que fazer e ver no que vai dar e quando vai acabar. Porque por enquanto eu não quero fazer diferente. Não quero saber das doenças das pessoas. Não quero mais ouvir de ninguém que eu preciso desprezar pra ser gostada. Eu quero ver fisionomias diferentes das gaúchas e quem sabe encontrar conforto no que eu imagino que seja a vida longe daqui. Por um tempinho só e depois voltar. Pra descobrir que eu posso ser feliz quando eu quiser e do jeito que eu quiser. Pra descobrir, na verdade, qual é o meu jeito de conseguir isso. Porque a vida é poética só na ficção mas ainda assim tem que ser vivida.
-
"Último dia de sol nascendo na Bahia, gurizada!"
Toda a saudade do mundo daquela semana em Porto Seguro. O tempo que passava diferente, em horas dobradas. As noites todas. Trancoso. Nada era feio e nada era ruim. Era só felicidade. Todos os dias. E com pessoas com quem eu nem falo mais, mas que também não vou esquecer. Depois de ver o bi da libertadores no Beira-Rio, que é simplesmente a minha definição de felicidade, foram dos melhores dias da vida.
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"Último dia de sol nascendo na Bahia, gurizada!"
Toda a saudade do mundo daquela semana em Porto Seguro. O tempo que passava diferente, em horas dobradas. As noites todas. Trancoso. Nada era feio e nada era ruim. Era só felicidade. Todos os dias. E com pessoas com quem eu nem falo mais, mas que também não vou esquecer. Depois de ver o bi da libertadores no Beira-Rio, que é simplesmente a minha definição de felicidade, foram dos melhores dias da vida.
13 de jul. de 2011
9 de jul. de 2011
hold on john
Enquanto eu estiver feliz, eu não me importo com o ridículo do que eu faço. Eu queria mais é que fosse todo dia assim. Dançar é a maior felicidade que inventaram. Ou eu deveria dizer que felicidade é a melhor dança que inventaram? Ou que dançar é a melhor maneira de rir das próprias desgraças. De achá-las divertidas, até. Sempre vai existir uma música.
O caso é que eu vou ver se aproveito esse disfarce de férias pra alguma coisa e, já que ando inútil o suficiente pra não ler, vou cozinhar. Usufruir o tempo que agora eu tenho pra ir no mercado, encher a casa com o que nunca tem no resto do ano e fazer uso da cozinha linda que tem aqui.
Porque eu acredito, às vezes eu tenho que me forçar, mas eu acredito.
O caso é que eu vou ver se aproveito esse disfarce de férias pra alguma coisa e, já que ando inútil o suficiente pra não ler, vou cozinhar. Usufruir o tempo que agora eu tenho pra ir no mercado, encher a casa com o que nunca tem no resto do ano e fazer uso da cozinha linda que tem aqui.
Porque eu acredito, às vezes eu tenho que me forçar, mas eu acredito.
5 de jul. de 2011
some dance to forget
and i'll lie too and say i don't mind
and as we seek so shall we find
and when you're feeling open i'll still be here
but not without a certain degree of fear
of what will be with you and me
i still can see things hopefully
but yoooou
why you wanna give me a runaround
is it a surefire way to speed things up
when all it does is slow me down
(and shake me and my confidence
about a great many things)
and as we seek so shall we find
and when you're feeling open i'll still be here
but not without a certain degree of fear
of what will be with you and me
i still can see things hopefully
but yoooou
why you wanna give me a runaround
is it a surefire way to speed things up
when all it does is slow me down
(and shake me and my confidence
about a great many things)
4 de jul. de 2011
borboleta parece flor que o vento tirou pra dançar
sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar
e o dia parece metade quando a gente acorda e esquece de levantar
e nesses dias tão estranhos fica a poeira se escodendo pelos cantos
uma garrafa de vinho virando vinagre devagarinho
Essa verdade tão pequena e tão exata escondida nos trechos. A consciência do quanto a própria vida é pequena e o não conseguir evitar mesmo assim reclamar. Não saber. Viver de não saber e esperar saber e não saber. Eu não tenho fé no mundo. Eu não tenho fé em nada além da minha capacidade de passar pelas coisas. De passar por elas e não de não ser tocada. As marcas que vão ficando. Ano depois de ano, vaivém, e as coisas em que eu penso e queria poder mudar com uma varinha mágica. E o mundo e a vida, de mãos dadas, batem o pé e dizem que não mudam. E não muda. E eu mudo e ainda assim fica igual. Aprender a conviver consigo mesmo. Invejar casais de Redenção. Ouvir música enquanto corre o tempo. Acordar cedo. A sensação de grandeza na beira do guaíba. A melhor maneira de começar o dia e terminar a noite. Me bastaria. E o vinho que ocupa o lugar de lareiras e presenças. Mas não substitui. Mas nada é insubstiuível. Mas será? Eu vivo de não saber e esperar saber e mesmo assim não saber. Eu nunca sei.
sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar
e o dia parece metade quando a gente acorda e esquece de levantar
e nesses dias tão estranhos fica a poeira se escodendo pelos cantos
uma garrafa de vinho virando vinagre devagarinho
Essa verdade tão pequena e tão exata escondida nos trechos. A consciência do quanto a própria vida é pequena e o não conseguir evitar mesmo assim reclamar. Não saber. Viver de não saber e esperar saber e não saber. Eu não tenho fé no mundo. Eu não tenho fé em nada além da minha capacidade de passar pelas coisas. De passar por elas e não de não ser tocada. As marcas que vão ficando. Ano depois de ano, vaivém, e as coisas em que eu penso e queria poder mudar com uma varinha mágica. E o mundo e a vida, de mãos dadas, batem o pé e dizem que não mudam. E não muda. E eu mudo e ainda assim fica igual. Aprender a conviver consigo mesmo. Invejar casais de Redenção. Ouvir música enquanto corre o tempo. Acordar cedo. A sensação de grandeza na beira do guaíba. A melhor maneira de começar o dia e terminar a noite. Me bastaria. E o vinho que ocupa o lugar de lareiras e presenças. Mas não substitui. Mas nada é insubstiuível. Mas será? Eu vivo de não saber e esperar saber e mesmo assim não saber. Eu nunca sei.
29 de jun. de 2011
18 de jun. de 2011
tangled up in blue
Às vezes eu esqueço que eu tenho um rádio. E que eu tenho uma tomada na sala onde eu posso ligá-lo. E que eu posso ouvir cds nele com um som muito melhor do que nisso aqui.
Botei o volume 2 das bootleg series do Bob Dylan, que provavelmente são as melhores 20 músicas dele, juntas, que eu tenho por aqui. Os outros dois também são ótimos, mas esse é especial.
Fiquei ouvindo e bebendo sozinha. E quase dançando. E eu não sei dizer o que prevalece. Se é completamente deprimente ou se é simplesmente a melhor coisa.
Mas nessas horas eu consigo não me achar idiota por coisas que eu digo e que eu faço. Como se houvesse muito mais vida além de meia dúzia de frases que se diz. Há. There's nothing here to live or die for. E não except you. Só isso. Não tem nada na vida pelo que viver ou morrer. Só ela. Que às vezes não basta, mas às vezes basta. Não que a gente esqueça. Não que não fique indo e voltando o tempo todo no decorrer dos dias. Não que eu não queira pegar as rédeas e tocar tudo por minha conta. Eu só não posso. E enquanto isso eu sempre vou ter meu rádio e as bootleg series pra esquecer.
Como se ninguém no mundo precisasse acordar e levantar amanhã. Eu tenho a fantasia de ver Porto Alegre parada e vazia. Como Arroio Teixeira em maio. E passear não pela cidade inteira, mas pelos lugares por que eu sempre passo - mas vazios. Só os sons naturais. Que deixasse de existir a vida. Por um dia. Só eu. E ver essa cidade como ela é, mas não é. Vazia e parada. Em um dia de sol. E esquecer, mas pensar em tudo quanto for possível.
Sextas vazias têm lá uma coisa boa.
Botei o volume 2 das bootleg series do Bob Dylan, que provavelmente são as melhores 20 músicas dele, juntas, que eu tenho por aqui. Os outros dois também são ótimos, mas esse é especial.
Fiquei ouvindo e bebendo sozinha. E quase dançando. E eu não sei dizer o que prevalece. Se é completamente deprimente ou se é simplesmente a melhor coisa.
Mas nessas horas eu consigo não me achar idiota por coisas que eu digo e que eu faço. Como se houvesse muito mais vida além de meia dúzia de frases que se diz. Há. There's nothing here to live or die for. E não except you. Só isso. Não tem nada na vida pelo que viver ou morrer. Só ela. Que às vezes não basta, mas às vezes basta. Não que a gente esqueça. Não que não fique indo e voltando o tempo todo no decorrer dos dias. Não que eu não queira pegar as rédeas e tocar tudo por minha conta. Eu só não posso. E enquanto isso eu sempre vou ter meu rádio e as bootleg series pra esquecer.
Como se ninguém no mundo precisasse acordar e levantar amanhã. Eu tenho a fantasia de ver Porto Alegre parada e vazia. Como Arroio Teixeira em maio. E passear não pela cidade inteira, mas pelos lugares por que eu sempre passo - mas vazios. Só os sons naturais. Que deixasse de existir a vida. Por um dia. Só eu. E ver essa cidade como ela é, mas não é. Vazia e parada. Em um dia de sol. E esquecer, mas pensar em tudo quanto for possível.
Sextas vazias têm lá uma coisa boa.
13 de jun. de 2011
pa papa pa pa
"Na hora de bamo já se fumo!"
Ele costumava dizer, alegre, antes de pegar o carro. Às vezes ao levantar da poltrona. A seqüência era invariavelmente a mesma. Sentava no banco do motorista puxando as pernas das calças um pouco para cima. Olhava-se no retrovisor e penteava os cabelos para trás com o pente que carregava sempre no bolso das camisas. Nunca tinha um fio fora do lugar. Botava os óculos, ligava o rádio, aquelas músicas de vô, e nós saíamos. Ele tinha pelo carro um zelo que eu jamais vi em outra pessoa. Não tinha pressa. Dirigia com calma. Sabia que não havia necessidade de correr, onde quer que se tivesse de chegar, ele chegaria. E assim era quando me buscava ou levava em casa. E tantas outras vezes quando me levou ao dentista ou me buscou nas aulas de inglês. Quando me buscava no colégio, quando eu ainda era criança, ele ficava parado ao lado do portão. A chave pendurada na calça. As mãos nos bolsos ou os braços cruzados. De pé. Sempre alto, mais alto. Meu vô foi o único homem com aparência e postura frágeis ao mesmo tempo que fortes. Não sei dizer se ele era forte na fragilidade ou frágil na força. Penso que os dois. Acordava cedo todos os dias, mesmo no inverno. Tratava e soltava as vacas. E no fim do dia as trazia de volta. Cuidava de todo o terreno. Lembro-me dele tamborilando os dedos no braço da poltrona que era a dele. O som do bater dos dedos sobre o couro. O som do esfregar dos dedos uns nos outros enquanto subiam e desciam tamborilando a poltrona. Como se fosse ontem. A pele lisinha e gelada de velho que eu esticava para cima, brincado e querendo que a minha fizesse a mesma coisa. Ele forrava o carrinho de mão com cobertores e passeava comigo nele no pátio. Ficava ao lado quando eu andava na Sucata, a égua preta que foi a única por lá. Ele cochilava vendo as novelas do fim da tarde. E a poltrona hoje mudou de lugar. Mas é como se ele ainda estivesse lá. Como se eu fosse passar pela cozinha, entrar na sala e vê-lo lá, tamborilando os dedos. Quando pega na minha mão enquanto eu durmo e me diz pra não chorar. É como se ele ainda estivesse lá, esperando a gente chegar pro churrasco domingo. Tamborilando os dedos na poltrona.
_________
Do clube.
Ele costumava dizer, alegre, antes de pegar o carro. Às vezes ao levantar da poltrona. A seqüência era invariavelmente a mesma. Sentava no banco do motorista puxando as pernas das calças um pouco para cima. Olhava-se no retrovisor e penteava os cabelos para trás com o pente que carregava sempre no bolso das camisas. Nunca tinha um fio fora do lugar. Botava os óculos, ligava o rádio, aquelas músicas de vô, e nós saíamos. Ele tinha pelo carro um zelo que eu jamais vi em outra pessoa. Não tinha pressa. Dirigia com calma. Sabia que não havia necessidade de correr, onde quer que se tivesse de chegar, ele chegaria. E assim era quando me buscava ou levava em casa. E tantas outras vezes quando me levou ao dentista ou me buscou nas aulas de inglês. Quando me buscava no colégio, quando eu ainda era criança, ele ficava parado ao lado do portão. A chave pendurada na calça. As mãos nos bolsos ou os braços cruzados. De pé. Sempre alto, mais alto. Meu vô foi o único homem com aparência e postura frágeis ao mesmo tempo que fortes. Não sei dizer se ele era forte na fragilidade ou frágil na força. Penso que os dois. Acordava cedo todos os dias, mesmo no inverno. Tratava e soltava as vacas. E no fim do dia as trazia de volta. Cuidava de todo o terreno. Lembro-me dele tamborilando os dedos no braço da poltrona que era a dele. O som do bater dos dedos sobre o couro. O som do esfregar dos dedos uns nos outros enquanto subiam e desciam tamborilando a poltrona. Como se fosse ontem. A pele lisinha e gelada de velho que eu esticava para cima, brincado e querendo que a minha fizesse a mesma coisa. Ele forrava o carrinho de mão com cobertores e passeava comigo nele no pátio. Ficava ao lado quando eu andava na Sucata, a égua preta que foi a única por lá. Ele cochilava vendo as novelas do fim da tarde. E a poltrona hoje mudou de lugar. Mas é como se ele ainda estivesse lá. Como se eu fosse passar pela cozinha, entrar na sala e vê-lo lá, tamborilando os dedos. Quando pega na minha mão enquanto eu durmo e me diz pra não chorar. É como se ele ainda estivesse lá, esperando a gente chegar pro churrasco domingo. Tamborilando os dedos na poltrona.
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Do clube.
2 de jun. de 2011
28 de mai. de 2011
cinnamon town
Things in bars that people do
When no one wants to talk to you
Fim de semana ouvindo. A única outra banda além de Oasis que eu pagava pra ver um show.
Só as dos 15 anos. Nostalgia sempre.
-
Nem percebi, foi meu pai quem riu, mas aderi à moda Portaluppi: tô de luvinhas pretas desde que cheguei aqui. Frio demais. Igual Porto Alegre no começo do mês. Não tinha como ir pro estádio sem luva, mesmo. Fico imaginando esse cara nos jogos de julho. Será que ele vai levar um cobertor pro Olímpico também? Porque eu fico enrolada nos cobertores quando venho pra cá.
Homens mais mulheres do que eu. Não precisam nem ser gremistas.
-
Aquilo de sentir o coração batendo em qualquer parte do corpo.
When no one wants to talk to you
Fim de semana ouvindo. A única outra banda além de Oasis que eu pagava pra ver um show.
Só as dos 15 anos. Nostalgia sempre.
-
Nem percebi, foi meu pai quem riu, mas aderi à moda Portaluppi: tô de luvinhas pretas desde que cheguei aqui. Frio demais. Igual Porto Alegre no começo do mês. Não tinha como ir pro estádio sem luva, mesmo. Fico imaginando esse cara nos jogos de julho. Será que ele vai levar um cobertor pro Olímpico também? Porque eu fico enrolada nos cobertores quando venho pra cá.
Homens mais mulheres do que eu. Não precisam nem ser gremistas.
-
Aquilo de sentir o coração batendo em qualquer parte do corpo.
27 de mai. de 2011
Eu queria ouvir ou ler, mas eu já não posso mais falar. Porque tudo o que eu gostaria ou poderia dizer não tem mais cabimento. Não tem mais espaço. Pra ser dito e pra ser recebido. E ler ou ouvir o que eu queria ler e ouvir dos outros não depende de mim. É um beco. Voltar ou esperar querendo continuar. Eu posso voltar e começar tudo de novo, mas quem na vida quer refazer o que já deu trabalho suficiente uma vez? E esperar. Eu posso esperar. Mas quem no mundo garante que eu vou esperar pelo que vai acontecer? Talvez eu fique pra sempre sentada, olhando um muro, esperando. E nunca aconteça.
Eu quero ir pra frente.
Eu quero ir pra frente.
25 de mai. de 2011
15 de mai. de 2011
Não sei por que esses grenais acabam em depressão por aqui. O outro, o do segundo turno, foi a mesma coisa. Saí achando mais graça da vida semana passada, quando o Grêmio ganhou. A gente gasta a felicidade toda ali, na hora, e aí depois não sobra nada. Mas dá-lhe Inter. Podia ficar enrolada na bandeira até amanhã.
11 de mai. de 2011
os meus desejos vãos.
Gastar tempo e energia com o que não demanda nada. Só esquecimento. Desprezo. Gastar sentires. E chegar ao mesmo lugar da demanda, tão simples: nada. E tentar e querer. Mas será? Será mesmo? É comodidade. É carência do que não é mais preciso. É preciso. Mas se quer. Sempre se quer porque sempre se busca comodidade. Felicidade. Vinho suave é coisa de fresco. E é ruim. Tomo vinho seco. Comprei taças porque eu me sinto mais gente tomando vinho de noite em uma taça. Sozinha. Pensando em nada. Porque o dia amanhã vai ser bom, mas vai ser igual. Não. Vai ser igual, mas vai ser bom. Estar sozinha já é tão eu quanto os óculos que eu insisto em não trocar por lentes. Quanto os relógios de pulso que eu não consigo não usar. Presa no tempo. Pensando em nada. Gastando tempo e energia com o que não demanda nada.
4 de mai. de 2011
grenal
vergonha pros dois lados e os dois lados comemorando. é muito amor.
"...falta de ataque!"
- o que é falta de ataque?
- falta de ataque é quando
- quando falta ataque?
risos. mas sim.
"...falta de ataque!"
- o que é falta de ataque?
- falta de ataque é quando
- quando falta ataque?
risos. mas sim.
26 de abr. de 2011
21 de abr. de 2011
vende-se
E aí me contaram que vão vender a casa. Minha referência de lar de uma vida inteira com os dias - meses, enfim - contados. Tudo bem, porque minha referência de lar na verdade são meus pais, não importando muito onde, mas eu já tinha esquecido quando cheguei ontem perto da uma e meia da manhã e vi a placa de 'imobiliária tal vende' na grade. Eu tava com tanto sono que nem olhei, e não voltei ali hoje também. Depois vou poder escrever sobre a experiência de não ter mais o lugar de onde vêm, sei lá, oitenta por cento das minhas lembranças. Mais estranho ainda vai ser eventualmente passar por aqui depois que ela já tiver sido vendida - e tiver virado uma casa de veraneio, daquelas vazias e fechadas o ano inteiro. Eu espero sinceramente que ela vá pra uma família com crianças que possam usufruir o terreno e tudo aqui por perto como eu fiz durante a minha infância e até hoje, em alguns aspectos. Que a menina fique com o meu quarto e suba no telhado escondida de vez em quando e fique olhando pro Continental e pra cerração e goste de brincar no meio do mato dos terrenos vazios que ainda sobram e de sentar em baixo do chorão e de entrar nos sótãozinhos cheios de poeira do meu quarto fazendo de conta que eles são esconderijos secretos ou sedes de um clube imaginário. Porque é assim que é. É assim que foi.
Às vezes eu queria experimentar uma vida diferente. Em que alguém cantasse, sei lá, something, dos beatles, sem nenhum motivo aparente. Em que as coisas tivessem desfecho. Em que as coisas fossem só diferentes.
Às vezes eu queria experimentar uma vida diferente. Em que alguém cantasse, sei lá, something, dos beatles, sem nenhum motivo aparente. Em que as coisas tivessem desfecho. Em que as coisas fossem só diferentes.
19 de abr. de 2011
'Você ainda se curva na varanda para ver as janelas fecharem?
Eu não tenho te visto ultimamente na rua ou nos lugares aonde a gente costumava ir.
Eu tenho uma imagem de você no nosso dia favorito na praia.
A companhia dele traz luz em um dia de chuva.
Como eu tenho sentido sua falta ultimamente e do jeito que a gente falava e de tudo o que a gente não dizia.
As mãos dele no seu cabelo são a sensação de uma coisa em que se acredita.
Se eu te vir de novo, você vai voar como um pássaro roubando pão debaixo do meu nariz?'
Iron & Wine. Quem sabe de alguma coisa nessa porra, afinal. Preso na garganta. Por bastante tempo. Pra chegar sabe-se lá onde. Por um sentir que eu não sei. Por uma tristeza vazia e resistente. Parando uma vida que na verdade não é nada. Pela chance de dar certo. Pelo simples. Mas complica.
Eu não tenho te visto ultimamente na rua ou nos lugares aonde a gente costumava ir.
Eu tenho uma imagem de você no nosso dia favorito na praia.
A companhia dele traz luz em um dia de chuva.
Como eu tenho sentido sua falta ultimamente e do jeito que a gente falava e de tudo o que a gente não dizia.
As mãos dele no seu cabelo são a sensação de uma coisa em que se acredita.
Se eu te vir de novo, você vai voar como um pássaro roubando pão debaixo do meu nariz?'
Iron & Wine. Quem sabe de alguma coisa nessa porra, afinal. Preso na garganta. Por bastante tempo. Pra chegar sabe-se lá onde. Por um sentir que eu não sei. Por uma tristeza vazia e resistente. Parando uma vida que na verdade não é nada. Pela chance de dar certo. Pelo simples. Mas complica.
14 de abr. de 2011
nada.
if I fall in love with you,
are we one or am I two?
Genialidade demais por trás de uma pergunta só.
Jantar merecido pra quem fez prova de barriga de vazia por conta da chuva. Odeio chuva. Mesmo. Com todas as minhas forças pra odiar algo. Deve ser por isso que eu não sinto ódio por mais nada na vida. Fica tudo com a chuva. Tô pra descobrir o que me afete mais. Se às vezes é difícil manter postura e bom humor num dia de sol, o que dizer desta quinta-feira.
Até amanhã de tarde não faço mais nada. Só me atirar pra trás e esperar o tempo passar. E dormir.
Acho que vou investir meu primeiro salário em uma capa de chuva. Daquelas até os pés. E com capuz.
Vi uma guria com galochas roxinhas. Achei genial também. Porque eu cheguei em casa com os tênis encharcados. Mas meu tempo de usar galochas, daquelas azuis escuras mesmo, tradicionais, passeando com o vô pelo terreno, passou há mais de dez anos.
Sonhei com ele mês passado.
Eu em um carro, perto da minha casa, via ele caminhando com minha vó no fim de uma rua. E então eu desatava a chorar no banco de trás, olhando pela janela.
E acaba assim mesmo.
O post também.
Porque eu vou lá me atirar pra trás e esperar o tempo passar. E dormir.
are we one or am I two?
Genialidade demais por trás de uma pergunta só.
Jantar merecido pra quem fez prova de barriga de vazia por conta da chuva. Odeio chuva. Mesmo. Com todas as minhas forças pra odiar algo. Deve ser por isso que eu não sinto ódio por mais nada na vida. Fica tudo com a chuva. Tô pra descobrir o que me afete mais. Se às vezes é difícil manter postura e bom humor num dia de sol, o que dizer desta quinta-feira.
Até amanhã de tarde não faço mais nada. Só me atirar pra trás e esperar o tempo passar. E dormir.
Acho que vou investir meu primeiro salário em uma capa de chuva. Daquelas até os pés. E com capuz.
Vi uma guria com galochas roxinhas. Achei genial também. Porque eu cheguei em casa com os tênis encharcados. Mas meu tempo de usar galochas, daquelas azuis escuras mesmo, tradicionais, passeando com o vô pelo terreno, passou há mais de dez anos.
Sonhei com ele mês passado.
Eu em um carro, perto da minha casa, via ele caminhando com minha vó no fim de uma rua. E então eu desatava a chorar no banco de trás, olhando pela janela.
E acaba assim mesmo.
O post também.
Porque eu vou lá me atirar pra trás e esperar o tempo passar. E dormir.
5 de abr. de 2011
irises bloom in the borders
Achei um cd baixado aqui de cuja existência eu não sabia. Ou apaguei da memória. E nunca tinha ouvido. Ou apaguei isso também. Minotaur, do Clientele. Eu até sei como ele surgiu - mas simplesmente não lembro. É muito bom. E é melhor ainda ouvir músicas que não lembram nada. Que são só muito boas.
-
Vou resenhar o Dançar tango em Porto Alegre, do Sergio Faraco, e li o conto mais comovente entre todos os que eu consigo me lembrar de já ter lido agora: A Língua do Cão Chinês. Aperta o coração.
-
Vou resenhar o Dançar tango em Porto Alegre, do Sergio Faraco, e li o conto mais comovente entre todos os que eu consigo me lembrar de já ter lido agora: A Língua do Cão Chinês. Aperta o coração.
3 de abr. de 2011
27 de mar. de 2011
so fucking tired
Mark Zuckerberg, onde está você. Não sei mexer no seu site.
Me chamem de louca, mas eu não acho ele feio.
Canela e esses dias brancos e mortos. Eu queria me enfiar embaixo de um cobertor e não sair mais.
Me chamem de louca, mas eu não acho ele feio.
Canela e esses dias brancos e mortos. Eu queria me enfiar embaixo de um cobertor e não sair mais.
23 de mar. de 2011
uma virose
Não lembro de ter ficado tão doente antes na vida, até onde a minha memória alcança. Sem conseguir engolir as coisas de tanta dor na garganta, 39 de febre, calor e frio ao mesmo tempo, cansaço, dores e noites mal dormidas. É pelo ar condicionado que a citral oferece seguro na hora de vender a passagem. Mas aí eu vou no médico e o primeiro comprimido, dos dois remédios que ele receitou, começa a fazer algum efeito em questão de minutos. Prometo não reclamar mais do doutor até o dia em que eu for fazer a lista de exames que ele me pediu, aproveitando o meu aparecimento, já que né. E o remedinho milagroso ainda tira o apetite: duas colheres de arroz que dão a sensação de todo um carreteiro, mais de uma hora mordendo uma maçã e não conseguir terminar, o mesmo com uma barrinha de cereal. Um sonho de dieta.
Eu não vim aqui pra escrever sobre a minha saúde, mas acabei esquecendo o real motivo. Mas o caso é que eu tenho muito mais o que escrever fora daqui, com essa cadeira de texto e mais o resto. Tô na dúvida se invento um velho novo ou se pego o mesmo que eu já inventei e só coloco numa outra história. Porque tem que ser velho. Personagens jovens exigem talento/criatividade/experiência demais pra não ficarem pobres. Além de que velhos são uma vida inteira melhores.
Eu não vim aqui pra escrever sobre a minha saúde, mas acabei esquecendo o real motivo. Mas o caso é que eu tenho muito mais o que escrever fora daqui, com essa cadeira de texto e mais o resto. Tô na dúvida se invento um velho novo ou se pego o mesmo que eu já inventei e só coloco numa outra história. Porque tem que ser velho. Personagens jovens exigem talento/criatividade/experiência demais pra não ficarem pobres. Além de que velhos são uma vida inteira melhores.
17 de mar. de 2011
8 de mar. de 2011
carnaval
As pessoas que foram ver Fatboy Slim na Space On em Arroio Teixeira na segunda, também conhecida como ontem, trancaram a Estrada do Mar em até uns dois ou três quilômetros antes da entrada da minha prainha - só não foi penoso chegar em casa porque nós demos a volta. Nessas horas eu até queria ser o tipo de gente que sai pra ver Fatboy Slim, só pra me gabar muito de ter casa quase do lado da boate, poder ir a pé e não precisar me estressar com onde estacionar o carro, já que os amados da Space fecharam todos os terrenos vazios dos arredores pra obrigar as pessoas a usar o estacionamento pago deles, uns queridos. Mas não. Eu sou o tipo de gente que sai com o pai pra comer pastel e tomar cerveja enquanto ouve Eclipse Fatal cantar Creedence, Mamonas e Raul, entre outras coisas não tão carnavalescas (se bem que eu não sei, não faço idéia do que as bandinhas costumam ou não tocar), no carnaval de rua de Curumim.
Muito melhor. Além de mais barato.
Mas eu não sou de carnaval, embora respeite e inveje quem é. Mas, né, eu invejo qualquer pessoa que tenha alguma dessas coisas na vida, qualquer pessoa que esteja dentro da vida e que, por isso, não passa o tempo todo sentindo a vida pesar junto com as preocupações cotidianas. E é um considerável peso a menos.
Mas esse é um assunto que eu quero desenvolver com calma outra hora, sem dor nas costas, sem malas pra Porto Alegre pra fazer, sem essa função toda. Porque eu não passei tanto tempo pensando nisso tudo à toa.
Muito melhor. Além de mais barato.
Mas eu não sou de carnaval, embora respeite e inveje quem é. Mas, né, eu invejo qualquer pessoa que tenha alguma dessas coisas na vida, qualquer pessoa que esteja dentro da vida e que, por isso, não passa o tempo todo sentindo a vida pesar junto com as preocupações cotidianas. E é um considerável peso a menos.
Mas esse é um assunto que eu quero desenvolver com calma outra hora, sem dor nas costas, sem malas pra Porto Alegre pra fazer, sem essa função toda. Porque eu não passei tanto tempo pensando nisso tudo à toa.
5 de mar. de 2011
é nóis que voa, mel
Em que ano passou O Clone? Eu me lembro da história e tudo, mas me esqueci de tanta coisa. Tem a história da Mel. Que é clichê e tal, mas não deixa de ser verdade, a parte das expectativas. E é uma merda. É uma droga. Mas eu não vou chover no molhado de novo. Ou pelo menos não agora, que não é semestre passado e graças a deus é preciso de mais desespero pra... eu chover no molhado. Porque é sempre a mesma coisa, afinal de contas, não é? É, sim. Os sofrimentos todos de quem sofre têm uma origem comum, de modo que não importa o objeto - a razão da coisa mesmo sempre vai ser a mesma, não adianta teimar. E quem costuma sofrer de vez em quando, ou quem sofre o tempo todo, sei lá, sabe do que eu falo. E aí é aquilo, como diria John Julius (haha): qualquer coisa que se faça - comer, ler, dormir, assistir à televisão, beber - parece ter algo oculto que deixa a pessoa ainda mais infeliz. Mas é bobagem falar de infelicidade quando ela parece andar longe. Vai que atraia. E por enquanto eu ainda espero coisas boas desse ano. Até porque nesses tempos difíceis de ordenamento eu consegui todas as cadeiras que eu quis nos horários que eu escolhi.
Some eyes go black as aces
Some open into flowers
Some people find their place is
The dark side of the road
And oh to walk in twilight
And balance in between 'em
Within the spirit sagging
Holding back our tearsdrops
In a broke down wagon
Marah, a descoberta linda desse começo de ano.
Some eyes go black as aces
Some open into flowers
Some people find their place is
The dark side of the road
And oh to walk in twilight
And balance in between 'em
Within the spirit sagging
Holding back our tearsdrops
In a broke down wagon
Marah, a descoberta linda desse começo de ano.
23 de fev. de 2011
9 de fev. de 2011
romeu
Faltam duas semanas pra matrícula. E quatro ou cinco pras aulas. Não quero saber, principalmente se forem quatro, e eu acho que são. Talvez eu vá pra Fortaleza, talvez não. Se eu for, dez dias. Se eu ficar, uma semana na praia aqui. Fiquei com vontade de voltar pra Porto Alegre semana que vem, deu até saudade, mas também deu preguiça. Prefiro as praias. Eu acordo quase todos os dias perto das onze e mesmo assim com um sono descomunal. Por melhores que sejam os livros que eu tenho lido, eu leio, leio, mas a cada um que eu fecho mais saudade e vontade eu sinto da sensação de ter sido o livro da vida. Talvez seja muito cedo pra saber, mas talvez também eu já tenha lido esse. O dos primeiros 20 anos. Vinte anos é uma vida? Se eu morrer antes do próximo 18 de dezembro vai ter sido. Mas pode ser só um terço ou, menos ainda, um quarto, se eu viver até os 60 ou 80. E talvez eu ainda tenha que esperar pelo menos uns 15 pra ler o livro da vida dos próximos 20. Se é que vai existir um. Quem sabe? A verdade (risos e herança aqui) é que um livro não precisa ser bom ou clássico ou qualquer coisa pra marcar alguém, tampouco o autor precisa ter sido um Nobel; é só marcar. Meu pai deus as opções de nomes pros gatinhos: "João e Maria ou Romeu e Julieta, escolham aí". Ficamos com Romeu e Julieta, embora ainda não exista uma Julieta. Por enquanto. Romeu dormiu horas no meu colo enquanto eu lia. A melhor sensação das férias. Eu já tô quase pensando em roubar um dos dois pra mim em Porto Alegre. Se nós falharmos, ele volta e será muito feliz aqui. Uma vez eu achei que ia gostar se fosse paga pra ler. Mudei de idéia.
4 de fev. de 2011
ler
"Se você tiver interesse ainda que remoto pela esquisitice, variedade e beleza da humanidade, então o autismo traz muito a se admirar."
Terminei as memórias do Saramago, que é uma delícia, e comecei esse do Nick Hornby, Frenesi Polissilábico, que na verdade são artigos dele pra uma coluna entre 2003 e 2006. E ele fica só ali, falando dos livros que ele leu e comprou, desde que não fale mal de ninguém - nesse caso, ele não pode citar nomes, hah. Vidão.
Mas nós sabemos que ele tem um filho autista, e no pouco que eu li até agora ele tocou no assunto falando no livro (George and Sam) de uma mulher (Charlotte Moore) sobre os filhos dela, autistas. Tem até um trecho (três páginas), que eu ainda não li, mas decidi ler o livro, porque autismo me interessa desde quando eu era criança e vi pela primeira vez o menininho da campanha da Turma da Mônica, e só não li nada sobre até hoje porque praticamente todos os livros que eu já li chegaram por acaso, ou por meio de outros, ou por indicação, ou por ouvir ou ler algo a respeito. Digo, eu sempre fiz o possível pra conseguir os livros que eu quis, mas eu nunca fui, diretamente, atrás de nenhum. Acho que é sempre assim, na verdade. Enfim
Mas não é sobre autismo, o livro do Hornby. É sobre por que a gente lê, e por que a gente sente prazer em ler, mesmo sabendo que ler pode ser bem chato. E quem sou eu pra saber. Mas eu adoro.
"(...) Mas fiquei sabendo que George W. Bush foi acordado pelo Serviço Secreto às 23:08, no dia 11 de setembro. Como assim 'acordado'? Ele não ficou até tarde trabalhando? Como ele conseguiu dormir? Se tivesse sido comigo, eu teria ficado acordado até às seis, bebendo, fumando, assistindo à tv e no dia seguinte estaria um trapo, imprestável. Vê se concorda comigo: deve ter alguma coisa errada, pois os líderes mundiais não se destacam por suas habilidades de resolver problemas globais, mas de cair no sono em questão de segundos. A maioria das pessoas decentes não consegue pegar no sono com facilidade, e, pelo jeito, é por isso que o mundo está nessa bagunça."
Terminei as memórias do Saramago, que é uma delícia, e comecei esse do Nick Hornby, Frenesi Polissilábico, que na verdade são artigos dele pra uma coluna entre 2003 e 2006. E ele fica só ali, falando dos livros que ele leu e comprou, desde que não fale mal de ninguém - nesse caso, ele não pode citar nomes, hah. Vidão.
Mas nós sabemos que ele tem um filho autista, e no pouco que eu li até agora ele tocou no assunto falando no livro (George and Sam) de uma mulher (Charlotte Moore) sobre os filhos dela, autistas. Tem até um trecho (três páginas), que eu ainda não li, mas decidi ler o livro, porque autismo me interessa desde quando eu era criança e vi pela primeira vez o menininho da campanha da Turma da Mônica, e só não li nada sobre até hoje porque praticamente todos os livros que eu já li chegaram por acaso, ou por meio de outros, ou por indicação, ou por ouvir ou ler algo a respeito. Digo, eu sempre fiz o possível pra conseguir os livros que eu quis, mas eu nunca fui, diretamente, atrás de nenhum. Acho que é sempre assim, na verdade. Enfim
Mas não é sobre autismo, o livro do Hornby. É sobre por que a gente lê, e por que a gente sente prazer em ler, mesmo sabendo que ler pode ser bem chato. E quem sou eu pra saber. Mas eu adoro.
"(...) Mas fiquei sabendo que George W. Bush foi acordado pelo Serviço Secreto às 23:08, no dia 11 de setembro. Como assim 'acordado'? Ele não ficou até tarde trabalhando? Como ele conseguiu dormir? Se tivesse sido comigo, eu teria ficado acordado até às seis, bebendo, fumando, assistindo à tv e no dia seguinte estaria um trapo, imprestável. Vê se concorda comigo: deve ter alguma coisa errada, pois os líderes mundiais não se destacam por suas habilidades de resolver problemas globais, mas de cair no sono em questão de segundos. A maioria das pessoas decentes não consegue pegar no sono com facilidade, e, pelo jeito, é por isso que o mundo está nessa bagunça."
31 de jan. de 2011
e sentir
Não se sabe o que é sentir. Poderia ser a constatação da vulnerabilidade. O viver entre o alto e o baixo, como se jamais se pudesse estar em um patamar de estabilidade. Dor, frustração, cansaço, pessimismo, descrença povoam a alma. Quem sabe o que é a vida. Sabe-se que liberdade não existe. E a busca pela expressão e as frases curtas que não dizem nada. E as frases longas que se pretendia se perdem na esfera dos pensamentos que não se fazem transcritos, por incompetência, impaciência ou simplesmente por impossibilidade, porque há o que não pode ser escrito - só sentido.
A fricção das unhas sobre a pele.
Em italiano, aprende-se a desnecessidade do sujeito.
Estávamos sós - mas havia outra vida para além daqueles dias - o resto dos dias - os dias desconhecidos. E todos os sentimentos se mantinham resguardados no limite daqueles dias - os dias conhecidos. A saudade como efeito da crença em algo que não existia. Terá nunca existido?
A dor pungente. "Sentis uma dor, e, quanto mais ignorais, tanto mais sentis essa dor." Nos momentos em que se acredita, sana ou insanamente, na eternidade do que causa dor. O arrastar do tempo e o arrastar de tudo.
Acorda-se um dia, de repente, e vem a percepção de que a eternidade é falsa. O alívio. Porque ninguém pode ser mártir para sempre sem morrer. E mesmo morrendo. Não está mais ali, então. Nem a dor nem os motivos - e a história é só memória boa, que não dói lembrar. Nunca se sabe como - nunca há de se saber como -, mas não está mais ali do mesmo modo de antes. E o sentir já é outra coisa.
Puderam os anos serem sempre períodos assim.
A fricção das unhas sobre a pele.
Em italiano, aprende-se a desnecessidade do sujeito.
Estávamos sós - mas havia outra vida para além daqueles dias - o resto dos dias - os dias desconhecidos. E todos os sentimentos se mantinham resguardados no limite daqueles dias - os dias conhecidos. A saudade como efeito da crença em algo que não existia. Terá nunca existido?
A dor pungente. "Sentis uma dor, e, quanto mais ignorais, tanto mais sentis essa dor." Nos momentos em que se acredita, sana ou insanamente, na eternidade do que causa dor. O arrastar do tempo e o arrastar de tudo.
Acorda-se um dia, de repente, e vem a percepção de que a eternidade é falsa. O alívio. Porque ninguém pode ser mártir para sempre sem morrer. E mesmo morrendo. Não está mais ali, então. Nem a dor nem os motivos - e a história é só memória boa, que não dói lembrar. Nunca se sabe como - nunca há de se saber como -, mas não está mais ali do mesmo modo de antes. E o sentir já é outra coisa.
Puderam os anos serem sempre períodos assim.
minhas férias até aqui
"Existiria algo tão real quanto as palavras?"
"Chegamos a tal ponto que a 'vida viva' autêntica é considerada por nós quase um trabalho, um emprego, e todos concordamos no íntimo que seguir os livros é melhor."
"O mundo gira, mas parece que estou sempre no mesmo lugar. Girei sem sair do lugar. Pulei sem ter para onde ir. Minha vida é o sobe-e-desce de uma cama elástica."
"Morrer - dormir,
Nada mais; e dizer que pelo sono
Findam-se as dores, como os mil abalos
Inerentes à carne"
"Quem tem um só grão de sapiência,
E hei, e ho, mesmo com vento e chuva,
Faz do que tem sua conveniência
Pois a chuva, ela chove todo dia."
"A vida é só uma sombra: um mau ator
Que agita e se debate no palco,
Depois é esquecido; é uma história
Que conta o idiota, toda som e fúria,
Sem querer dizer nada."
"(...) aquele era nada mais nada menos que o meu primeiro balão em todos os seis ou sete anos que levava de vida. Íamos nós ao Rossio, já de regresso a casa, eu impante como se conduzisse pelos ares, atado a um cordel, o mundo inteiro, quando, de repente, ouvi que alguém se ria nas minhas costas. Olhei e vi. O balão esvaziara-se, tinha vindo a arrastá-lo pelo chão sem me dar conta, era uma coisa suja, enrugada, informe, e dois homens que vinham atrás riam-se e apontavam-me com o dedo, a mim, naquela ocasião o mais ridículo dos espécimes humanos. Nem sequer chorei. Deixei cair o cordel, agarrei-me ao braço da minha mãe como se fosse uma tábua de salvação e continuei a andar. Aquela coisa suja, enrugada e informe era realmente o mundo."
"Chegamos a tal ponto que a 'vida viva' autêntica é considerada por nós quase um trabalho, um emprego, e todos concordamos no íntimo que seguir os livros é melhor."
"O mundo gira, mas parece que estou sempre no mesmo lugar. Girei sem sair do lugar. Pulei sem ter para onde ir. Minha vida é o sobe-e-desce de uma cama elástica."
"Morrer - dormir,
Nada mais; e dizer que pelo sono
Findam-se as dores, como os mil abalos
Inerentes à carne"
"Quem tem um só grão de sapiência,
E hei, e ho, mesmo com vento e chuva,
Faz do que tem sua conveniência
Pois a chuva, ela chove todo dia."
"A vida é só uma sombra: um mau ator
Que agita e se debate no palco,
Depois é esquecido; é uma história
Que conta o idiota, toda som e fúria,
Sem querer dizer nada."
"(...) aquele era nada mais nada menos que o meu primeiro balão em todos os seis ou sete anos que levava de vida. Íamos nós ao Rossio, já de regresso a casa, eu impante como se conduzisse pelos ares, atado a um cordel, o mundo inteiro, quando, de repente, ouvi que alguém se ria nas minhas costas. Olhei e vi. O balão esvaziara-se, tinha vindo a arrastá-lo pelo chão sem me dar conta, era uma coisa suja, enrugada, informe, e dois homens que vinham atrás riam-se e apontavam-me com o dedo, a mim, naquela ocasião o mais ridículo dos espécimes humanos. Nem sequer chorei. Deixei cair o cordel, agarrei-me ao braço da minha mãe como se fosse uma tábua de salvação e continuei a andar. Aquela coisa suja, enrugada e informe era realmente o mundo."
29 de jan. de 2011
a aranha
Tava deitada no banco da rua, lá em casa, esperando meu pai pra vir pra praia com ele, quando uma hora olhei pra parede e vi uma aranha se balançando num fio de teia, mais ou menos um metro acima da minha cabeça. Cheguei a pensar em levantar, vai que ela cai, mas desisti, porque ela não descia, e afinal de contas se eu estava deitada, era porque queria ficar deitada, e não sentada e muito menos de pé. Fiquei ali olhando a aranha subindo, descendo e balançando pendurada no fio invisível de teia. O cara que inventou o rapel deve ter se inspirado nisso. Pouco depois ela começou a descer mais e, então, eu levantei, mesmo sabendo que não ia acontecer nada, por uma dessas reações que nos ensinam a ter desde criança. Fiz menção de pegar a vassoura do meu lado pra matar aranha, mas desisti. Sentei de novo, olhando pra cima. Ela ficou ainda um tempinho ali e depois subiu pro telhado. E eu fiquei pensando em qual teria sido, afinal, a minha vantagem se eu tivesse matado a coitada com vassoura quando tive chance. A certeza de saber que ela não entraria na minha casa? E daí. A probabilidade de uma aranha entrar em uma casa e picar alguém é menor do que a de ela entrar, ser vista e ser morta. Se desde o início eu não tivesse percebido a presença dela, nada teria sido diferente pra mim ou pra ela.
Tem tanta coisa assim na vida. As coisas que talvez se a gente só ignorasse e deixasse quieto, em lugar de ficar paranóico e 'tomar uma providência', não dariam em absolutamente nada, não mudariam nada na vida de ninguém, e seria melhor assim, pra todos os lados. Mas acho que nós raramente somos treinados a ignorar - nós somos incitados a agir, sempre.
Nessa hora minha mãe apareceu na janela: "Ué, tá fazendo o que aí?"
Não tô fazendo nada. Tô só pensando nas aranhas.
Tem tanta coisa assim na vida. As coisas que talvez se a gente só ignorasse e deixasse quieto, em lugar de ficar paranóico e 'tomar uma providência', não dariam em absolutamente nada, não mudariam nada na vida de ninguém, e seria melhor assim, pra todos os lados. Mas acho que nós raramente somos treinados a ignorar - nós somos incitados a agir, sempre.
Nessa hora minha mãe apareceu na janela: "Ué, tá fazendo o que aí?"
Não tô fazendo nada. Tô só pensando nas aranhas.
19 de jan. de 2011
na cozinha com o maninho
Cozinhei com meu irmão hoje. Arroz, bife e ovo, risos. Na verdade ele fez os bifes e fritou os ovos e eu só esperei o arroz secar, mas ainda assim. Questão de hierarquia etária. Depois fiz ele limpar o fogão, "agora".
Desde já treinando para quando o fatídico dia chegar. E o que vai ser da minha vida nesse dia, meu deus.
Desde já treinando para quando o fatídico dia chegar. E o que vai ser da minha vida nesse dia, meu deus.
17 de jan. de 2011
aconteceu, e assim pareceu
Falam tanto do íntimo humano. Dos problemas e sentimentos humanos. Mas quem entende? Ninguém que não sinta é capaz de de fato entender. De saber. Os ímpetos que nos assolam. Bobagem. Não existem terapia ou remédios. Existe sentir e não sentir. Existe sentir, parar de sentir e se mexer e dar um jeito. Ou não. Ou contentar-se em carregar tudo pelo resto da vida pra sentir de mês em mês e então não saber o que fazer e querer poder jogar tudo-nada pro alto. Existe louça pra lavar e secar. Roupas a serem lavadas, penduradas, recolhidas antes da chuva e passadas.
-
Mas acho que fiz o que podia ter feito de melhor por mim nesse verão: li Shakespeare.
-
Mas acho que fiz o que podia ter feito de melhor por mim nesse verão: li Shakespeare.
3 de jan. de 2011
2 de jan. de 2011
r
Acordei às cinco e meia. Faz dias que eu não durmo como gostaria e como eu costumo.
Mas na praia, ainda com chuva, não é de todo ruim.
Eu odeio seres humanos, e a mim mesma, odeio a nossa espécie por ter a mais desnecessária das capacidades. E habilidades. Isso de conseguir tornar tudo um pouco mais difícil. Nada é páreo para a estupidez de um ser humano. Não há nada simples que não possa ser complicado, não há nada fácil que a gente não possa dificultar. Ver dragões em moinhos. A cada situação estranha - nova. E estragar, mesmo que involuntariamente, ou simplesmente tentar estragar, mesmo que involuntariamente, o que é bom ou qualquer coisa que faça mais bela e válida a existência humana na Terra. Que vida precisa de estima? "Uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?" A nossa tolice pode ser resumida na escolha do segundo, mesmo sem reconhecimento ou admissão. Nós somos seres humanos. Maiores do que isso. Nobres e evoluídos. Sempre em frente.
Mas na praia, ainda com chuva, não é de todo ruim.
Eu odeio seres humanos, e a mim mesma, odeio a nossa espécie por ter a mais desnecessária das capacidades. E habilidades. Isso de conseguir tornar tudo um pouco mais difícil. Nada é páreo para a estupidez de um ser humano. Não há nada simples que não possa ser complicado, não há nada fácil que a gente não possa dificultar. Ver dragões em moinhos. A cada situação estranha - nova. E estragar, mesmo que involuntariamente, ou simplesmente tentar estragar, mesmo que involuntariamente, o que é bom ou qualquer coisa que faça mais bela e válida a existência humana na Terra. Que vida precisa de estima? "Uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?" A nossa tolice pode ser resumida na escolha do segundo, mesmo sem reconhecimento ou admissão. Nós somos seres humanos. Maiores do que isso. Nobres e evoluídos. Sempre em frente.
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